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Patriarca Diz Que São "Bem-vindos" Estudos Sobre a Realidade do Aborto
2002-10-20 17:45:27

O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, manifestou ontem a opinião de que os estudos que pretendam conhecer a realidade do aborto "são bem-vindos", desde que sejam "sérios".

Respondendo a uma pergunta do PÚBLICO a propósito do estudo aprovado no Parlamento, sob proposta da deputada Helena Roseta, D. José considerou que "o aborto é um problema dramático para o qual ninguém tem respostas".

Num encontro com jornalistas, em que passou em revista várias perspectivas de acção do Patriarcado de Lisboa e da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para o ano pastoral que agora se inicia, o patriarca apontou o aborto como um problema ético, em relação ao qual a Igreja Católica se posicionará sempre do mesmo lado: "Estamos convencidos, e a ciência dá-nos razão, que o embrião humano é um ser humano, desde o início da sua existência e, portanto, com direito à vida", afirmara já, na intervenção inicial, em que considerou que se anuncia como provável "um novo debate sobre o alargamento da despenalização do aborto".

Durante quase duas horas, o patriarca passou em revista vários temas: código de trabalho, a chamada crise de vocações, nova catedral para Lisboa, aulas de Educação Moral e Religiosa Católica no ensino básico (ver caixas), eventualidade de um casino em Lisboa, Convenção Europeia, opções pastorais do Patriarcado para este ano.

Sobre o projecto de novo código de trabalho, o cardeal referiu-se aos encontros que tem tido com diversas associações sindicais e patronais, bem como com juristas e outras personalidades. "Cada uma destas forças gostaria que a Igreja estivesse do lado delas", afirmou. A legislação de trabalho, acrescentou, "é apenas um elemento de uma problemática mais vasta, que diz respeito à construção de uma sociedade cada vez mais justa e de uma visão da economia e do desenvolvimento verdadeiramente ao serviço da pessoa humana".

Para breve está prometido um documento dos bispos sobre a matéria mas o patriarca não promete que ele seja publicado em Novembro, quando a CEP reunir. Será, assegurou, um texto que indica "grandes princípios de respeito pela pessoa humana e por uma economia sadia". "Não é tabu mexer na legislação, porque não há defesa possível dos direitos dos trabalhadores numa economia doente", disse, mas há pontos concretos que a doutrina da Igreja defende e que não deixarão de ser recordados.

O organismo que a Igreja Católica tem para se debruçar sobre questões sociais, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), já tem novo presidente indigitado, foi anunciado por D. José. A comissão está inoperante desde que o anterior presidente, o actual ministro Bagão Félix, foi para o Governo. A nova comissão deverá ficar aprovada na próxima assembleia plenária dos bispos, em Novembro, e contará com uma novidade: terá um número mais reduzido que os 25 que compunham as anteriores comissões, de modo a torná-la mais eficaz.

Já com a eventual instalação de um casino no Parque Mayer, em Lisboa, não está o patriarca preocupado. "Não costumo jogar no casino", ironizou, para afirmar que só aceitará discutir o tema dos "casinos em Portugal" e de uma economia que "integra o jogo como uma das suas componentes". Se o Parlamento discutir o assunto, os bispos entrarão no debate, acrescentou.

Preocupação, sim, mas não muita, é com a chamada crise de vocações. Na diocese de Lisboa há um aumento do número de seminaristas, que actualmente são mais de 60. "Não estou pessimista nem tremendamente preocupado", disse o bispo de Lisboa, para acrescentar que há fenómenos novos que não têm sido tomados em conta. Entre outros, citou o ambiente sociológico que favorecia o aparecimento de padres, e que já não existe, pois a prática religiosa situa-se cada vez mais ao nível das opções pessoais.

Mesmo assim, o patriarca admite "que haja um momento em que a Igreja funcione com menos padres", embora conteste a ideia de que "há uma crise da Igreja por causa das vocações". Já sobre o seminário do Caminho Neocatecumenal (um movimento católico que tem originado críticas em várias paróquias onde se instala pelo seu alegado exclusivismo), que está a funcionar há dois anos em Lisboa, o patriarca espera que a experiência corra bem, apesar dos riscos que sempre há com as dinâmicas novas na Igreja. "A sabedoria é conviver, na diferença, com harmonia."

Acabado de regressar de uma reunião de bispos europeus realizada na Bósnia, o patriarca não deixou de falar sobre a Europa. "Ninguém espera que os textos europeus sejam proteccionistas em relação à Igreja", disse, a propósito do debate sobre a Convenção Europeia e as referências às religiões na construção cultural do continente. "Negar que a cultura europeia tenha influências judaico-cristãs é meter a cabeça debaixo da areia", afirmou, criticando sobretudo a posição adoptada pela França na cimeira de Nice. "As culturas são mais perenes que os políticos. Se querem menosprezar a natureza judaico-cristã da cultura europeia, estão a fazer má política."

Fonte Público

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