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«Uma mente sã num corpo são»
2002-10-26 10:36:11

Cheira a comida, incenso e flores. As paredes estão pintadas com as cinco cores primárias. A natureza parece viver dentro da cidade. Num corropio, os jovens budistas sobem e descem as escadas, pois há que preparar o almoço para os clientes que vêm comer no restaurante tibetano da Rua do Salitre, em Lisboa.

O intenso cheiro a comida que sai da cozinha e o incenso do segundo andar, onde fica o templo, dão as boas-vindas. Depois há as flores, a natureza presente quando olhamos pelas janelas e vemos as árvores do jardim. Parece uma casa familiar. Na verdade, há muitos membros da comunidade a viver cá e quem não mora aqui, vive perto.

«A prática budista não obriga a uma vida comunitária, mas foi uma opção que nós tomámos para nos simplificar a vida», diz Tsering Paldron, monja portuguesa representante da comunidade no País, convertida ao budismo desde 1973.

O restaurante, no piso de baixo, funciona assim como um meio de subsistência para os membros da comunidade que vivem na Rua do Salitre e contribui para a manutenção do Mosteiro do Algarve.

No altar, oito oferendas. Água para beber, água para lavar os pés, flores, incenso, luz, perfume, comida e música. O ritual acolhe Guru Padmasambhava, o lama que levou o budismo ao Tibete. A sua imagem está no centro do altar e é a maior. Qualquer casa tem estes elementos de boas-vindas. Se não tiver, enche-se a taça com arroz e põe-se algo a simbolizar a oferenda. «É muito comum utilizar, por exemplo, um búzio a representar a música», explica Tsering.

O altar tem ainda diferentes imagens que expressam estados de espírito superiores, fotografias de pessoas importantes para a comunidade, cujas vidas são um exemplo a seguir.

No lado esquerdo do lama repousa uma estátua com muitos braços. É a figuração da Compaixão. À direita está Buda, o -Lama e uma grande fotografia de Kunzang, lama que trouxe o budismo para Portugal. Este é o altar típico do budismo tibetano.

«Não temos as imagens aqui como adoração, mas sim por aquilo que elas significam: o estado de alma onde nós queremos chegar. Ao olharmos, lembramo-nos dos princípios que desejamos ter. Daí existir, durante as orações, um princípio norteador: ninguém nos vai dar nada, somos nós que construímos a nossa vida.»

O prédio que alberga a Escola de Budismo Tibetano Nyingma, Ogyen Kunzang Choling, era um antigo restaurante macrobiótico da irmã da pianista Maria João Pires, Regina. Na visita do Lama Kunzang ao País, pôs o restaurante ao dispor da comunidade.

A escola de budismo tibetano começou em 1979. Na altura, funcionava só no segundo andar e foi preciso esperar até 1995 para que tudo mudasse. Tsering relembra esse ano como o da grande mudança. Foi quando o budismo começou a ser mais conhecido, quando a comunidade trouxe o restaurante para o piso de baixo, ocupando todo o edifício, que ainda é alugado. Foi também quando se fez a primeira tradução portuguesa sobre budismo. Era um livro intitulado Ensinamentos de Buda, com uma pequena imagem da divindade na capa. E, desde então, a comunidade floresceu. «Existe um interesse crescente. As pessoas estão mais curiosas, sobretudo as que normalmente não têm religião e procuram algo. O budismo tem a vantagem de se considerar mais uma filosofia de vida do que uma religião, embora, em muitos países, seja considerado como tal», diz.

Sobre o número de crentes, Tsering afirma que não existe propriamente uma conversão, um registo. É uma questão de envolvimento pessoal. Mas há uma pequena cerimónia durante a qual a pessoa se compromete. O número de portugueses budistas mesmo envolvidos ascende a mil.

As aulas de ioga funcionam como uma espécie de iniciação. «Temos mais de cem alunos por ano, sem contar com os que vão aos seminários que fazemos por todo o País», conclui.

Fonte DN

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