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À luz da Palavra: XXIX Domingo do Tempo Comum - A
2002-10-12 13:12:24

“Eu sou o Senhor e mais ninguém”.
Esta frase, que termina a 1ª leitura, é como que um pano de fundo que acompanha toda a Palavra deste Domingo. É o Senhor, e mais ninguém, que conduz a história da humanidade, e que, por dentro desta história, vai construindo a história da Salvação.


A nossa fé cristã leva-nos a acreditar convictamente na acção de Deus na história e a viver cheios de esperança, porque Deus “não dorme”, segundo o aforismo popular. Isaías, na 1ª leitura, apresenta Ciro, rei dos persas e medos, logo um rei pagão, a ser chamado pelo Deus de Israel como o “seu ungido”, isto é, o “seu consagrado” ou Christós.

Embora só os reis de Israel fossem ungidos, Ciro recebe também o título de ungido (messias), porque ele foi o agente de Deus na libertação do povo de Israel, quando este se encontrava exilado na Babilónia, reconduzindo-o a Israel, sua pátria, e facilitando a reconstrução do templo, que havia sido destruído. Deste modo, a Palavra esclarece-nos sobre o papel que o poder civil, mesmo que seja laico, pode e deve ter na construção da obra de Deus, tornando a vida das pessoas e dos povos mais livre e feliz, porque “a glória de Deus é o homem vivo”.

No entanto, Mateus, na 3ª leitura, a propósito da legitimidade ou não de pagar o tributo a César, põe na boca de Jesus uma resposta lapidar: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Se, por um lado, os cristãos, qualquer que seja a sua responsabilidade na Igreja, devem cumprir integralmente os seus deveres cívicos, pois são cidadãos deste mundo; por outro lado, é importante que saibam distinguir o poder temporal do poder espiritual da Igreja. Sabemos que, ao longo da história, tem havido confusão entre estes dois poderes: perseguição à Igreja, por parte do poder civil ou domínio da Igreja sobre o poder civil; “casamento” destes dois poderes, situações de maior ou menor confusão e fases de convivência pacífica, devido à compreensão das funções de cada poder e ao respeito mútuo que cada um mantém face ao outro. A situação actual, entre nós, não é pacífica, pois o poder civil tem menosprezado os direitos dos cidadãos, em matéria de liberdade religiosa, e tem atentado contra o direito que os pais têm de ver os seus filhos educados segundo a religião que professam, precisamente no interior do quadro escolar, dado que este é o lugar da educação integral sistemática, sendo a dimensão religiosa parte integrante da educação. Se o Estado é laico, não o é a sociedade civil, porque esta está matizada com diversas confissões religiosas, como se tem afirmado abundantemente.

Paulo, na 2ª leitura, incita-nos a activar a nossa fé, a reforçar a nossa caridade e a tornar firme a nossa esperança. Sabemos que somos amados por Deus e, por Ele escolhidos para constituirmos o seu Povo. Por isso, não devemos andar pessimistas e derrotados, como se Deus não fosse capaz de cumprir as suas promessas. A sua actuação no coração da história dos que nos precederam na fé é para nós estímulo e esperança de que Ele realizará o seu projecto salvífico, embora nem sempre visível aos nossos olhos humanos, porque Deus actua em jeito de fermento. A palavra deste Domingo, interpela-te a ti e a mim, cristão e cidadão, no sentido de afinarmos a nossa consciência crítica face aos direitos e deveres que nos incumbem, enquanto membros da Igreja e do povo português. Sejamos honestos e claros e exijamos, também, honestidade e clareza por parte dos mais responsáveis, daqueles que constróem as leis e as fazem aplicar na sociedade civil e na Igreja.

Ir. Deolinda Serralheiro

Leituras do XXIX Domingo Comum:
Is 45,1.4-6; Sl 95,1-5.7-10 (96); 1 Tes 1,1-5b; Mt 22,15-21.


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