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Portugueses aderem ao Islão
2002-10-26 12:39:07

Morenas, olhos pintados de negro e dois véus longos a cobrir os cabelos. Parecem árabes, mas não são. Sara e Isabel, portuguesas e muçulmanas por convicção, aguardam pelo início da oração congregacional, sentadas no chão e descalças.

É sexta-feira, ou Jumma, dia sagrado para os muçulmanos. São 13 e 30 e na mesquita de Lisboa, perto da Praça de Espanha, ecoa o cantar do muezim a chamar os fiéis para rezar. Portugueses, moçambicanos e guineeses convivem harmoniosamente _ sempre com os seus telemóveis na mão, uma moda _ no pátio principal e na sala das abluções, onde se processa a lavagem ritual que precede a oração.

São apenas homens. As mulheres estão confinadas ao andar superior do templo. Já se perdeu a conta aos sapatos que se acumulam na entrada. A diversidade de crentes e o ambiente descontraído são prova viva de que o Islão é cada vez mais aceite em Portugal, «desde que é transmitida a telenovela O Clone», como ironizam Sara e Isabel. Aliás, a importância daquela telenovela é notória: logo na entrada distribui-se um pequeno livro intitulado Esclarecimento Islâmico em Relação à Telenovela O Clone.

Pelas duas da tarde a mesquita está praticamente cheia. O imã inicia o sermão, única parte da oração em português. No andar superior, Sara e Isabel continuam a contar a sua experiência. Sara, de 26 anos, abraçou a fé islâmica pela altura do último Ramadão, depois de ter feito amizade com uma marroquina. Isabel, que agora se chama Yasmin, é uma das mais recentes muçulmanas portuguesas, pois converteu-se há poucas semanas.

Para Yasmin, o que encontra na sua nova fé é «uma paz interior que a Igreja Católica não transmite», apesar de admitir que ainda tem muito que aprender, como a língua árabe. «Sentimo-nos identificadas e aceitam-nos muito bem. Já me ofereceram muitos presentes, até me deram o Alcorão em português», afirma. Sobre a religião lembra a origem da palavra Islão: «Significa paz e submissão». Relativamente à situação das mulheres, ambas consideram-se privilegiadas, pois «somos mais protegidas e há um maior respeito. Para os muçulmanos, quando uma mulher é deles é mesmo a sério».

Tal como Sara (que manteve o nome) e Yasmin, dois a três portugueses chegam, todos os meses, à Mesquita de Lisboa, desejando converter-se. «São normalmente mulheres, entre os 20 e 40 anos», explica o imã da mesquita de Lisboa, David Munir.

Actualmente, o número de crentes em Portugal situa-se entre os 30 a 40 mil. Em 1968, ano da sua fundação, a comunidade islâmica compreendia pouco mais do que 20 pessoas. O local de oração era a casa de Abdool Vakil, líder da comunidade desde 1988. «Foi a partir de 1974 que a comunidade cresceu, com a chegada de muçulmanos oriundos da Guiné e de Moçambique», conta Vakil, ele próprio um muçulmano nascido em Moçambique.

«Face à crescente afluência, as orações começaram então a fazer-se na cave da Embaixada do Egipto. Mas o projecto para erguer uma grande mesquita já existia desde a fundação da comunidade», adianta Vakil. Em 1979 é posta a primeira pedra do actual templo, com a doação do terreno pela Câmara de Lisboa. Com o apoio de vários países islâmicos, a Mesquita ficou concluída em Março de 1984.

Hoje em dia, nas épocas festivas, chegam a juntar-se cerca de oito mil crentes. Às sextas-feiras, o templo enche-se também e muitas pessoas têm mesmo de ficar à porta. Na Mesquita não se encontra qualquer representação humana, uma vez que a religião islâmica é contra a figuração. Contudo, o crescente com a estrela, o minarete e os diversos arabescos decorativos, em tons de verde _ cor do Islão _, com os 99 nomes do profeta ou passagens do Alcorão nas paredes, dão uma decoração própria ao templo.

Aberta todo o dia até aos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, a Mesquita de Lisboa está agora muitas vezes fechada. Após os atentados de Nova Iorque começou a abrir só para as orações, mas a normalidade está a voltar.

Actualmente, existem mais duas mesquitas: no Laranjeiro e em Odivelas. Há ainda diversos locais de culto espalhados pelo País.

Fonte DN

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