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Ministro da educação e educação do ministro
2002-10-09 19:27:14

Prometo que não é minha intenção falar do Ministro; prometo que não vou falar da polémica gerada (e regenerada a toda a hora) da integração (ou desintegração pretendida) da Educação Moral e Religiosa nas Escolas. Não, não vou falar disso, por agora.

Decorre (6-13 de Outubro) a Semana Nacional da Educação Cristã. Apresentando-se como um desafio à Família no sentido da educação cristã dos filhos, coloca-nos perante um dos mais discutidos assuntos da actualidade. Haver ou não haver educação, eis a questão! Que educação? Eis o ponto central do conflito.
Não é novidade para ninguém que a família tem de ser o elo mais forte no cadeado da educação, qualquer que seja a sua componente: humana, cultural, social, familiar, cívica, moral, religiosa, sexual, estética, artística, higiénica, ambiental, política, desportiva, recreativa. Numa palavra: a educação integral da pessoa humana num contexto relacional saudável terá que encontrar na família não só o seu apoio, mas a sua principal sementeira.
Quando se fala de educação, aqui verdadeiramente a tradição já não é o que era. Não me quero referenciar a saudosismos do passado mais ou menos desencontrados na sua pedagogia. Quero, tão somente, referir-me a educação. Ontem como hoje, de maneiras diferentes, com métodos diferentes, a educação não só cabe dentro dos parâmetros da modernidade, como é fundamental para o nosso crescimento e integração comunitária. Repare-se que, e é preciso não confundir, os métodos são transitórios, mas os conteúdos (valores) são permanentes.
Há por aí uma quantidade de gente, digo-o com letra pequena, em sectores de responsabilidade, pouco preocupada com o que se passa.

Há uma educação e a educação tem marca. Essa marca manifesta-se, estruturalmente, numa linha de valores chamados positivos. Aliás, os valores só podem ser positivos, como é evidente! Quando chegam até nós as mensagens de que a educação tem de ser neutra, de que ninguém tem o direito de violentar as consciências, de que as pessoas devem crescer orientando-se apenas por si próprias, estamos a ser vítimas de uma vil manipulação. Não ajudamos nós as plantas e os animais a crescerem num sentido orientado? Não se podam as vinhas, as árvores de fruto e as plantas de jardim?

A educação nunca é neutra, é sempre uma educação com marca, ainda que, em muitos casos, camufladamente orientada para objectivos intencionalmente escondidos. Ela sempre leva a marca das nossas ideias, pensamentos e opções. Somos nós os ministros da educação: sou eu que transmito valores em que acredito, sou eu o semeador que lança para uma terra por cultivar as sementes que eu pretendo virem a dar fruto, sou eu que preparo esse terreno de forma adequada a receber essa semente. Pais e professores, orientadores e psicólogos, padres e catequistas, somos os mestres, os semeadores, os ministros da educação.

Porém, o desejável é que essa educação seja uma educação de marca, de qualidade. É que hoje constatamos que o nosso mundo não se contenta com qualquer coisa: exige-se a marca. E não só. Ninguém se contenta com exibir no seu mundo uma marca, mas busca-se, claramente, ainda que à custa de muitos gastos, a marca de qualidade superior. É nos automóveis, é nas roupas, é no calçado, é nos produtos alimentares, é nas mochilas, nos cadernos, ... ainda que os genéricos sejam, a maior parte das vezes, a qualidade sem marca!

Não será, pois, estranho, que naquilo que envolve toda a vida na sua expressão mais enriquecedora, não só se procure a marca, mas, sobretudo, uma marca de qualidade. Garantidamente! Temos de investir fortemente numa educação de qualidade comprovada que garanta duração, bem estar e solidez. E voltamos ao problema: Como garantir, nas contingências e influências a que os espaços educativos estão sujeitos, frutos amadurecidos, responsabilidades assumidas e opções concretizadas em formas novas de ser e de estar?

Diz-se que ninguém dá o que não tem. Temos necessidade urgente de investir nos ministros da educação. As graves deficiências da educação são fruto de um desinteresse que vem do passado recente mas que teima em continuar; de uma educação mais imposta que proposta, de uma mentalidade mesquinha, diga-se sem rodeios, que entende o corte completo com o passado como único meio de construir o futuro sem “colonialismos educativos”. Quando os principais ministros da educação, pais e educadores em geral, se consciencializarem e assumirem eles próprios um sério projecto educativo, baseado em valores profundos e permanentes, então o futuro estará garantido. Por outras palavras, quando a educação de todos os ministros tiver qualidade e nível, os ministros da educação conseguirão educar com marca de qualidade, fazendo desabrochar verdadeiras escolas de vida. Nunca por nunca, ministros sem educação podem ser ministros da educação.

Nesta perspectiva, uma educação cristã de qualidade não se pode situar fora destes parâmetros: se os pais abdicam da vivência da sua própria educação cristã e se demitem de a transmitir através do testemunho inerente, a sua missão de ministros da educação cristã passa ao lado da maior riqueza das suas vidas: os filhos.

Padre Costa Leite, Vigário episcopal da Educação Cristã de Aveiro


Fonte Ecclesia

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