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Uma Cadeira Moçambicana para João Paulo II
2002-09-30 22:00:31

Artistas moçambicanos vão oferecer ao Papa João Paulo II uma Cadeira da Paz, assinalando assim o 10º aniversário do Acordo Geral de Paz (AGP) que pôs termo à guerra no país. Trata-se de uma iniciativa ecuménica do Conselho Cristão de Moçambique, do Conselho Permanente da CIRM-Conferemo (Institutos Religiosos de Moçambique) e do Núcleo de Arte de Maputo reunindo artefactos bélicos para a execução da cadeira, idêntica à que foi utilizada pelo Papa durante a sua estadia em Moçambique em 1988.

A Cadeira da Paz viaja de Maputo para Roma a expensas da transportadora aérea portuguesa TAP e será entregue a João Paulo II numa audiência no Vaticano, no dia 2 de Outubro. Em Roma, no Centro Dionysia, na Villa Piccolomini, os artistas envolvidos no projecto vão expor trinta obras de arte feitas com o mesmo material e o fotógrafo Kok Nam apresentará trinta fotografias ilustrando a saga do país massacrado pela guerra.

A exposição será inaugurada no dia 1 de Outubro com a presença dos embaixadores Incisa di Camerana e Mario Raffaelli, dois dos arquitectos italianos do AGP, e ficará aberta ao público durante uma semana. O Presidente da Câmara de Roma, Walter Veltroni, recebe a delegação moçambicana em audiência. No dia 5 de Outubro, o músico moçambicano Costa Neto actuará com o seu grupo num concerto na Villa Piccolomini.

O Núcleo de Arte agrega mais de 100 artistas e está implantado numa das zonas nobres da capital moçambicana. À entrada, as boas vindas são dadas por um guerreiro feito de pedaços de armas. Ao lado dele, crocodilos, rãs, gafanhotos, músicos, integram o mundo dos sonhos dos artistas que ali trabalham. Num enorme atelier, uns mergulham pincéis nos acrílicos, nos ocres, no óleo, fazendo-os bailar em tela; outros dão forte na madeira de sândalo, o pau-preto.

O Conselho Cristão de Moçambique (CCM) é uma organização que agrupa várias igrejas cristãs e tem em mãos o projecto de transformação de armas em enxadas desde 1996.

Em 1998, um grupo de artistas representando o Núcleo de Arte dirigiu-se ao CCM, que era o responsável do projecto da destruição das armas, para pedir as armas e transformá-las em objectos de arte.

"Nós não queríamos deixar isto em vão. A nossa missão é de imortalizar momentos marcantes da nossa sociedade e as guerras sempre fizeram parte de nós, perdemos familiares e amigos, perdemos gado, que é a nossa riqueza. Ao ver uma arma, vimos o sofrimento. E é por isso que nós decidimos transformá-las em objectos para ornamentar as nossas casas. Uma maneira de dizer que a guerra terminou de verdade. Já não há pranto nem dor" - assim fala Gonçalo Mabunda, um dos artistas do Núcleo.

"Quando peguei nestas armas pela primeira vez deitei muitas lágrimas, perdi os meus tios e os irmãos com a última guerra, morreu tanta gente, mas agora pretendo mudar tudo ao invés de recordar a guerra, correrias e outras coisas, fiz cadeiras, o que significa repouso, fiz também saxofone, o que significa alegria", conta Gonçalo.

A primeira viagem das armas à Europa - talvez seja correcto dizer o regresso das armas ao continente de origem - já como obra de arte aconteceu em 2000 e o destino foi Inglaterra. Desta vez irão a Roma, a cidade onde foi assinado o Acordo Geral de Paz no dia 4 de Outubro, finalmente dez anos depois feriado nacional em Moçambique. E a cadeira para o Papa? É o único homem político que, hoje em dia, fala contra a guerra, dizem os artistas.

Fonte Público

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