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Era pós-Setembro
2002-09-10 18:59:33

O ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001 criou mais espanto, emoção e especulação do que qualquer outro acontecimento histórico recente. Multiplicaram-se as declarações de início de uma nova fase histórica. Isto diz muito sobre a sua importância, mas também sobre o estado de espírito que se vive hoje em dia. Será que começou mesmo um mundo novo nessa data negra?

É evidente que a resposta só pode ser dada com uma perspectiva mais larga. Ainda é cedo para avaliar as suas consequências, mesmo as mais directas. Mas algumas coisas podem desde já ser ditas.

O fenómeno em si foi, de facto, terrível. Os seus elementos mais desconcertantes são a disparidade entre os conten-dores e o abismo entre meios e resultados. Um punhado de homens com facas, mas dispostos a morrer, foi suficiente para atingir a capital da potência dominante do planeta. Pela primeira vez na História da humanidade, uma nação no auge incontestado do seu poder geo-estratégico foi ferida simultaneamente nas suas capitais civil e económica. A potência mais poderosa de sempre, a primeira dotada de armas nucleares de destruição massiça, de bases militares em todo o globo e de forças bélicas esmagadoras, é derrotada por um pequeno grupo de malfeitores. O insólito desarma qualquer análise.
Estamos perante um paradoxo civilizacional. De repente, o poder supremo revela-se frágil e vulnerável. Torna-se evidente a necessidade de um novo conceito de segurança, de uma nova estratégia militar, de uma nova política externa. Há muito tempo que o terrorismo existe no mundo, mas nunca se tinha tornado o assunto central da diplomacia e do exército.

Este elemento não parece ainda ter sido compreendido e integrado. A resposta dos EUA segue ainda os termos tradicionais. Hoje já não há já dúvidas que o 11 de Setembro determinou o início de uma guerra, mas ainda da anterior geração. O que começou a 12 de Setembro foi a quarta guerra mundial. A “guerra global contra o terror” declarada pelas autoridades americanas é, depois das duas guerras de novecentos e da “guerra fria”, o quarto conflito planetário da modernidade. Este embate segue os termos tradicionais de luta entre estados, apesar de ninguém saber bem quem é o inimigo. Isto criou um outro aspecto insólito, o de se poder dizer que os povos afegão e iraquiano são mais vítimas que responsáveis pelo 11 de Setembro.

Essa guerra está, para já, a revelar-se bastante sangrenta, mais sangrenta que a guerra fria. O Afeganistão foi destruído em poucos meses e outras zonas estão ameaçadas. Além disso, o clima de instabilidade agravou conflitos locais, como na Palestina. Tudo isto, sem se saber a real eficácia dessa acção. Quais os estragos que o verdadeiro inimigo sofreu? Quantos punhados de homens com facas, dispostos a morrer, existem hoje a menos comparativamente com 10 de Setembro?
No entanto, a principal vítima de 11 de Setembro parece ser o clima pacífico e aberto que os anos 90 julgavam ter criado. Desde o fim da guerra fria, o mundo vivia um período de calma e consenso onde, com o aval da ONU e a hegemonia americana, se parecia seguir uma doutrina comum. A aposta numa época de abertura e integração mundial pode ter sido ingénua e simplista, mas agora está muito ameaçada e duvidosa.

O desenrolar futuro da luta escapa ainda a todas as previsões. Será que no fim das hostilidades se vai conseguir construir um novo quadro pacífico e global, favorável ao desenvolvimento e à paz sem ameaças de violência? Ninguém sabe. Até ao momento, ganham os assassinos.

O propósito dos terroristas é o terror. Ele só é plenamente conseguido quando a vítima responde ao ataque na mesma moeda.


João César das Neves


Fonte Ecclesia

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