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Os padres nómadas cidadãos do Mundo
2002-08-31 10:32:06

Leonel colou o crucifixo ao peito, calçou uns ténis, desabotoou a camisa, deixou crescer o cabelo e voou para Moissalá, no Sul do Chade, há oito anos. Maximino seguiu-lhe o exemplo, menos no corte de cabelo. Deixou a missão no Togo, onde esteve seis anos, e há três que se fixou em Bodo, também no Sul do Chade.

Ambos são padres, missionários, agora de férias no Seminário de Antas, em Famalicão, com experiências de África distintas, mas com um ideal comum: evangelizar e promover a condição humana.

Problemas de comunicação
Leonel Claro tem 40 anos e é de Lamego. Alberto Maximino tem 46 e é de Foz Côa. Mas acima de tudo, afirmam, são cidadãos do Mundo. "Fizemos a nossa formação nos seminários, sabendo de antemão que, no final, iríamos para longe", explica Leonel. Geralmente, pa
ra países pobres, muitas vezes para África. "Onde os únicos brancos ou são padres ou irmãs ou alguns cooperantes".
Como o que se verifica nas paróquias onde estão, conta Maximino. "Moissalá e Bodo é África negra. A Norte do país, mais deserto, imperam os árabes". Está mesmo a ver-se que, em termos de religião, as coisas não são fáceis. "No Chade, os muçulmanos atingem os
50%, o cristianismo os 7,63%, os protestantes serão 3,80% e o resto são religiões tradicionais". O que não assusta os missionários. "O nosso maior problema", reconhece Maximino, "é a comunicação". As línguas oficiais no Chade são o árabe e o francês, depois ca
da etnia tem o seu linguajar. Por isso, "às vezes ficamos seis meses a tentar aprender as tradições, os costumes, a língua local, a inteirar-nos do sítio onde aterrámos". Como se fossem caloiros dentro da universidade, compara Leonel. "Caímos lá do céu". Se bemque a Igreja nunca os abandona. "É a Igreja do país para onde vamos que nos vai abrindo caminho". E quando chegam, o reboliço é total. "Mostram muita curiosidade, quando cai lá um branco. Mas como foram avisados da nossa chegada, recebem-nos bem".

Um missionário nunca fica mais do que seis a nove anos num país. Depois, muda de rumo. "Partimos de acordo com as necessidades do local", diz Leonel. "Ou para fazer um trabalho pastoral ou de desenvolvimento de promoção humana, seja construindo hospitais, escolas, poços, celeiros". Ou, então, completa Maximino, "anunciando o Evangelho, fazendo a promoção da mulher, que em África é tratada como objecto".

Um trabalho que exige "muita paciência" e que tem de ser "planificado a longo prazo". Sim, porque a cultura africana não tem nada a ver com a nossa, sustenta Leonel. "O africano dá muito valor à vida, à festa, mesmo passando fome, mas tem sobretudo uma ligaç
ão forte com a morte, com os espíritos, com o mau-olhado, com os rituais". Se alguém está doente, "não vai ao hospital, para não gastar 700 francos. Mas se a pessoa morrer, gastam 100 mil no funeral".

Da mesma forma, a mulher é colocada à margem de tudo, acrescenta Maximino. "Quando abri a escola, disse-lhes que cada sala teria 25 rapazes e 25 raparigas. Olharam-me de lado, porque lá as meninas não vão à escola". A turma dos rapazes ficou completa e só a
custo o padre Maximino conseguiu trazer raparigas.
A alegria durou pouco. "Um dia, desapareceram todos". Foram para a Iniciação. "De três em três anos, acontece o rito iniciático da passagem da adolescência para a idade adulta e sem isso não podem entrar na sociedade". Os homens têm de viver no mato, as mulheres também, mas em separado. É por isso que a paciência é uma das virtudes dos missionários. "Não será dentro de 10 ou 12 anos que iremos promover a mulher. Serão precisos muitos, mas haveremos de chegar lá".

Fonte JN

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