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"Esperamos-te"
2002-08-19 21:19:22

Um diálogo dramático entre o Papa e mais de dois milhões de fiéis ontem reunidos em Cracóvia marcou a maior missa campal jamais realizada na Polónia.

"Adeus, e também vos quero dizer que vos verei em breve, mas isso está inteiramente nas mãos de Deus", declarou o Sumo Pontífice, com 82 anos, gravemente afectado pela doença de Parkinson, uma artrite no joelho e sequelas do falhado atentado de que foi alvo, em 1981.


"Esperamos-te", respondeu a multidão em coro, pouco resignada a vê-lo partir.

"Deixo isso inteiramente à Divina Misericórdia", acrescentou João Paulo II, visivelmente emocionado com o fervor dos seus compatriotas.

"Esperamos-te em Wadowice" (terra-natal de Karol Wojtyla, no Sudoeste da Cracóvia), prometiam os jovens. "Fica connosco, fica connosco!", gritava a multidão em coro, no final da missa. Ao que o Papa - respondendo indirectamente aos rumores, desmentidos pelo Vaticano, segundo os quais anunciaria a sua renúncia na Polónia e ali ficaria até morrer - contrapôs: "Vocês querem convencer-me a desertar de Roma."

Em seguida, ao som do canto religioso A Barca, hino do movimento dos jovens católicos polacos Oasis, entoado por milhões de vozes, apoiou a testa na mão, extremamente comovido.

"Deixo a minha barca na margem, porque parto Contigo, meu Deus!" são algumas das palavras que figuram na letra daquele hino. "Este canto ouvi-o eu quando, há 23 anos, saí da Polónia", recordou João Paulo II. "Ele ressoou nos meus ouvidos mal escutei o veredicto do conclave", adiantou, em referência à sua eleição para a Santa Sé. "Nunca dele me separei ao longo de todos estes anos. Sempre representou para mim a minha pátria, guiou-me nos caminhos da Igreja e trouxe-me várias vezes a Cracóvia", confessou o Sumo Pontífice, num dos momentos mais dramáticos que marcaram tão insólita e comovente eucaristia, uma espécie de despedida antecipada da vida terrena.

Momentos antes, o Papa criticou o que considerou ser a "arrogância" do homem por se querer colocar no lugar de Deus, interferindo "no mistério da vida humana".

Falando na homilia da missa gigantesca ontem celebrada no parque de Blonie, em Cracóvia, João Paulo II referiu-se aos avanços científicos das últimas dezenas de anos, sustentando que essa evolução é uma pretensão abusiva do homem. "Ele pretende decidir, graças a manipulações genéticas, da vida do homem e fixar os limites da morte", afirmou, condenando toda a forma de eutanásia terapêutica.

Para o chefe da Igreja Católica, a humanidade está sujeita "a perigos jamais conhecidos até ao presente" que o terceiro milénio parece anunciar ao lado de "novas perspectivas de desenvolvimento".

A homilia, pronunciada perante mais de dois milhões de pessoas, teve um acento na nova era que se está a abrir, sustentando o Papa que o mundo entrou "no terceiro milénio com esta herança de bem, mas também de mal", assinalando que o século XX, apesar dos sucessos indiscutíveis em grandes domínios, foi marcado de maneira muito particular pelo "mistério da iniquidade".

Nesta perspectiva, o Sumo Pontífice católico criticou o que considerou ser a "arrogância" do homem que deseja tornar-se Deus. "Rejeitando as leis divinas e os princípios morais, ele ameaça abertamente a família", disse, sublinhando mesmo que o homem moderno vive muitas vezes "como se Deus não existisse".

Fonte DN

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