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Igreja Ortodoxa Russa Condena Actividades do Vaticano na Ex-URSS
2002-07-21 13:55:11

O Santo Sínodo, a mais alta instância da Igreja Ortodoxa Russa (IOR), voltou a condenar a política de proselitismo do Vaticano em territórios que considera canonicamente seus. Desta vez, a hierarquia da IOR está indignada com o facto de a Igreja Católica Romana ter criado novas dioceses na Ucrânia Oriental e Meridional, onde os ortodoxos afirmam que os católicos têm apenas uma representação residual.

Num comunicado publicado em Moscovo, o Sínodo Ortodoxo condena a decisão do Papa João Paulo II, tomada a 4 de Maio do ano corrente, de criar a Diocese de Odessa e Simferopol, que cobre o Sul da Ucrânia, e nomear para aí um bispo católico. Além disso, insurge-se contra a constituição de outra diocese católica no Leste da Ucrânia: Kharkov e Zaparojets.

A indignação dos ortodoxos vira-se também contra a decisão de a Igreja Greco-Católica da Ucrânia, que utiliza na sua liturgia o rito ortodoxo ou bizantino, mas reconhece o poder do Papa, "tentar alargar a sua influência ao Leste da Ucrânia, criando a diocese de Donetsk e Kharkov" e "levar a cadeira de patriarca para Kiev".

"A Igreja Ortodoxa Russa, respeitando a necessidade dos católicos ucranianos de acompanhamento pelos seus pastores, não se manifestou contra a criação de dioceses por Roma em regiões por eles historicamente habitadas. Porém, as cátedras episcopais recentemente criadas surgem em regiões onde o número de católicos é bastante insignificante" - lê-se no comunicado do Sínodo, que acrescenta: "Isso são provas da intenção firme do Vaticano de seguir a política de expansão missionária, inaceitável para os ortodoxos."

Para a direcção da IOR, que considera grande parte da antiga União Soviética como seu "território canónico", a normalização das relações com o Vaticano só ocorrerá quando "se passar da condenação teórica do proselitismo em geral para o reconhecimento da inadmissibilidade do trabalho missionário no território pastoral de outra Igreja".

O bispo Tadeusz Kondrusevich, que dirige a Igreja Católica na Rússia, refuta as acusações de proselitismo, recusa-se a reconhecer conceitos como "território canónico" e defende a "liberdade de opção" dos cidadãos.

Neste contexto de autêntica "guerra fria" entre católicos e ortodoxos na Rússia, os últimos tentam aproveitar as divergências no seio da Igreja Católica perante estes problemas a fim de impor as suas posições.

Por exemplo, a imprensa russa deu relevo ao encontro de um grupo de católicos da diocese italiana de Verona com Alexei II, patriarca de Moscovo da IOR, realizado em Moscovo no início de Julho. Esses católicos condenaram a decisão do Vaticano de criar quatro dioceses católicas na Rússia e são apresentados como um exemplo da justeza das posições ortodoxas face ao "proselitismo católico".

Alexei II recebeu também na sua residência Luigi Bressan, arcebispo de Trento, o que é visto por alguns órgãos de informação russos como uma forma de o Patriarcado de Moscovo encontrar aliados no chamado "partido não polaco" no Vaticano. Polacos são, além do próprio Papa João Paulo II, Tadeusz Kondrusevich e parte significativa dos padres católicos que trabalham na Rússia.

"É um bocado estranho que o Vaticano não preste atenção a esse factor. Historicamente, as relações entre a Polónia e a Rússia sempre foram muito tensas e o confronto teve sempre um cariz religioso muito marcante. Os polacos eram vistos como agentes do Vaticano" - comentou ao PÚBLICO um padre católico que trabalha em Moscovo.

O diário russo "Nezavissimaia Gazeta" comenta a propósito: "A IOR parece ter decidido aproveitar-se das mudanças no próprio Vaticano, ligadas aos boatos sobre a possível renúncia de João Paulo II e, por conseguinte, ao enfraquecimento do partido polaco na direcção da Igreja Católica. O Patriarcado de Moscovo pode também encontrar adeptos entre os católicos russos, pois nem todos apoiam as críticas duras de Kondrusevich à IOR" - sublinha o jornal.

Numa entrevista ao diário francês "Figaro", Tadeusz Kondrusevich critica os católicos que se desviam da linha oficial do Vaticano neste assunto: "Basta recordar os milhões de euros que o Patriarcado de Moscovo recebe de organizações humanitárias católicas. Sabem elas como é que os sacerdotes ortodoxos gerem esse dinheiro? Eles utilizam-nos para publicar livros de conteúdo anti-católico e ensinar os sacerdotes a virar a população contra nós."

O conflito entre a Santa Sé e o Patriarcado de Moscovo preocupa cada vez mais o Kremlin, pois dificulta a política de Vladimir Putin, de aproximação ao Ocidente. Por enquanto, o Presidente russo parece não ter solução para o problema, remetendo-se ao silêncio.

Fonte Público

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