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Onde está o povo...
2002-07-16 21:21:12

Não podemos viver sem a liturgia da festa. O nosso quotidiano, de olhos presos no imediato, na pressa, muitas vezes no conflito, como que acinzenta o horizonte e gera uma tristeza que pode conduzir à procura desgovernada de compensações. O celebrativo rompe, primeiro, com a rotina, - vírus perigoso – que corrói a sublimidade do que quer que seja. E, depois, projecta-nos mais longe e mais alto no ambiente da família, da terra, da comunidade a que pertencemos por nascimento ou emigração.

Muitas vezes a festa é a recondução afectiva aos gestos, sinais, cores, sons e vibrações do mais são e longínquo que há em nós.


O Evangelho fala-nos das festas do tempo de Jesus: do sábado, do pentecostes, do casamento, dos tabernáculos e do templo, entre outras, com algumas narrativas que culminam com a Ceia Pascal que passou para o centro das grandes festas dos cristãos.
Liturgicamente, a primeira das festas é a Páscoa no seu tríduo, que junta a vida e a morte num gesto único de redenção. Mas as comunidades foram aprendendo a celebrar as festas a partir dos seus locais, na invocação de um Santo, da Virgem, de algum dos mistérios de Jesus. A festa tornou-se um acontecimento central e indispensável em cada terra.

Parece que a mobilidade das populações em vez de a esmorecer ou diminuir, a potenciou e multiplicou, nomeadamente nos subúrbios das cidades onde, no início, não tinha qualquer significado, mas, com o tempo, acabou por se instalar como complemento obrigatório das novas comunidades.
É fácil dizer que se trata de bairrismo, superficialidade, pretexto para os comissários exibirem o seu caciquismo local.

Mas é preciso ir mais longe e procurar uma interpretação mais ritual, na multiplicidade de gestos que a estranhos parecem ridículos.
A festa é um rito que precisa ser evangelizado, Mas que questiona, com a sua simplicidade atractiva, tudo o que de complicado se faz sem o povo entender.

Quando se divide a festa, mesmo litúrgica, em erudita e popular, reconhece-se, indirectamente, que muito do que se faz está, à partida, condenado a ser entendido apenas por meia dúzia de eleitos.

E, sem o povo, não há festa.

António Rego


Fonte Ecclesia

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