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Bagagem para férias
2002-07-09 19:59:26

Podemos dar muitas voltas à mente e perguntar porquê, todos, tão afanosamente desejamos férias. A resposta mais imediata é a necessidade de repouso, a ultrapassagem da rotina, a necessidade de mudança. E porquê a necessidade de mudança?
Bruce Chatwin num dos seus últimos livros escreve sobre o mundo nómada donde vimos e de que temos profunda nostalgia. Passamos hoje tempo demais em casas e quartos com persianas, quando somos vocacionados para o espaço livre e para o movimento.


Somos assim remetidos para o mundo da mudança que, sobretudo a partir de certa idade, nos perturba e desorienta. Preferimos muitas vezes que tudo fique como está e raramente nos perguntamos pela inquietação que nos pode cercar a alma e a criatividade. O nosso caminhar pela vida pode juntar-se ao movimento do sol e das estrelas. Nascemos com o movimento, apreciámos ser embalados pelas nossas mães, perdemo-nos quase em êxtase perante o movimento do mar e do fogo.
E somos incuravelmente peregrinos. A nossa liberdade só se encontra na viagem rumo à montanha, ao santuário, ao outro polo, ao infinito. Viagem e mudança andam próximos, marcados embora pelo perigo, pelo imprevisível, pelo que de novo pode suceder, entre as milhares de coisas que aparentemente nunca mudam.
A nossa procura de férias pode corresponder a apelos muito mais profundos que as pequenas razões inventadas para que as nossas mudanças deixem tudo na mesma. E, possivelmente, dentro de nós andarão aspirações muito mais ricas que vamos calando com artifícios que nos podem deixar tão ou mais inquietos do que estávamos antes de as férias começarem.
Felizes os que podem partir para férias. Felizes os que lhe descobrem o significado e o levam na bagagem.

António Rego


Fonte Ecclesia

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