paroquias.org
 

Notícias






Igreja acolhe hotel na Baixa de Lisboa
2002-07-02 13:05:42

Quem passa pelo cruzamento das ruas de São Nicolau, Fanqueiros e Douradoures, na Baixa de Lisboa, não imagina o que se esconde atrás das paredes do edifício que compõe todo o quarteirão: uma igreja, datada de 1661, que se encontra "enclausurada" por construçõesposteriores ao terramoto de 1755.

Ao contrário desses edifícios - alguns dos quais em ruína eminente -, a Igreja de Corpus Christi está em bom estado, não obstante as infiltrações da cúpula e os pisos intermédios que foram criados pelas sucessivas ocupações de
que foi alvo.
O proprietário do edifício, Américo Trindade, quer tirar partido dessa riqueza histórica e arquitectónica para criar ali um pequeno "hotel de charme", com um máximo de 30 quartos. Mas o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) discorda do estudoprévio apresentado, porque "implicava alterações no miolo do edifício" que "não eram passíveis de aprovação", como disse ao JN Paulo Pereira, vice-presidente.
Além disso, o estudo propunha a construção de caves para estacionamento, sugestão que o IPPAR recusa liminarmente para a zona da Baixa. Embora discorde desta opção - que considera tecnicamente viável -, Américo Trindade mostra-se "flexível" e está disposto a prescindir das caves para poder avançar com a construção do hotel que, no seu entender, é "um fim digno e apropriado para o edifício" que, de outra forma, está condenado à derrocada.

Azulejos pilhados
Américo Trindade não sabe quanto tempo mais o edifício vai aguentar e teme a demora da autorização para intervir no sentido de o reabilitar. "Eu quero salvar o edifício", diz, descartando-se de qualquer responsabilidade criminal caso alguém venha a sofrer consequências pela queda do edifício. "Neste país, o 'não' também tem de ser responsabilizado", diz, numa alusão clara às entidades que "barram" a execução de obras ali.
Numa visita ao local, o JN constatou que as construções pombalinas anexas à igreja - que nos últimos anos funcionaram como espaços de habitação - estão em avançado estado de ruína. Numa das alas, há soalhos que já caíram totalmente, escadas que balançam a cada
passo, traves de madeira partidas e visíveis a olho nu, paredes descascadas.
Os pombos invadiram o edifício e também os azulejos que cobriam as paredes "voaram", num trabalho que foi feito com minúcia já que todos os murais estão numeradas. Os poucos painéis que restaram serão, segundo o arquitecto João Rudolfo, autor do projecto de reabilitação do edifício, retirados e colocados num local digno e com visibilidade no hotel.
O arquitecto garante que as obras previstas vão respeitar a traça pombalina do edifício que circunda a igreja, construído após o terramoto de 1755, e onde serão instalados os 30 quartos do hotel, distribuídos por três pisos, além das águas furtadas. A igreja propriamente dita - com um pé direito de cerca de 25 metros e uma bela abóboda - seria o ex-líbris do empreendimento e ficaria reservada a espaço multiusos, que tanto poderia acolher um restaurante como espectáculos e sessões culturais.
"Queremos fazer aqui um hotel sui generis. Um edifício o mais exclusivo possível", diz Américo Trindade, justificando o seu interesse em preservar as características históricas do edifício. O seu público alvo são os homens de negócio que passam por Lisboa em viagens de curta duração e que privilegiam a descrição, o conforto e o sossego, características que o Hotel Corpus Christi promete oferecer.

Monumento nacional
Américo Trindade ainda não decidiu se ficará, ou não, ligado depois à exploração do hotel. Diz que, "neste momento, há muitos interessados" neste negócio, pelo que espera que a decisão do IPPAR seja célere, até pelos montantes envolvidos na recuperação do imóvel, que deverá ascender a 7,5 milhões de euros (cerca de 600 contos o metros quadrado).
Neste momento, enquanto aguarda que lhe seja apresentado um novo estudo prévio com as alterações sugeridas, o IPPAR desencadeou um processo autónomo de classificação do edifício, apontando para o valor de Monumento Nacional. Apesar de ainda ter em curso o estudo de fontes e de elementos histórico-arquitectónicos que permita depois fundamentar as posições futuras em relação ao imóvel, o IPPAR já definiu que qualquer que seja a intervenção ali realizada, ela terá que "acentuar a vocação pública" do imóvel.

Fonte JN

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia