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UM RENOVADO COMPROMISSO DA VIDA CONSAGRADA: PARTIR DE CRISTO - III parte
2002-06-29 09:35:31

A VIDA ESPIRITUAL EM PRIMEIRO LUGAR

20. A vida consagrada, como qualquer forma de vida cristã, é dinâmica por natureza e todos quantos são chamados pelo Espírito a abraçá-la precisam renovar-se constantemente no crescimento em direção à plena estatura do Corpo de Cristo (cfr. Ef 4, 13). Ela nasceu pelo impulso criativo do Espírito que moveu os fundadores e as fundadoras pela estrada do Evangelho, suscitando uma admirável variedade de carismas. Eles, disponíveis e dóceis à sua guia, seguiram a Cristo mais de perto, penetrando na sua intimidade e compartilhando-lhe plenamente a missão.


A sua experiência do Espírito pede ser não apenas custodiada por quantos os seguiram, mas também aprofundada e desenvolvida.60 Também hoje o Espírito Santo requer disponibilidade e docilidade à sua ação sempre nova e criativa. Só ele pode manter constante o frescor e a autenticidade dos inícios e, ao mesmo tempo, infundir a coragem do empreendimento e da inventiva para responder aos sinais dos tempos.

É preciso, pois, deixar-se conduzir pelo Espírito em direção a uma descoberta sempre mais renovada de Deus e da sua Palavra, a um amor ardente por Ele e pela humanidade e a uma nova compreensão do carisma dado. Trata-se de firmar-se sobre a espiritualidade, entendida no sentido mais forte do termo, ou seja, a vida segundo o Espírito. A vida consagrada hoje necessita sobretudo de um novo impulso espiritual, que ajude a levar à concreção da vida o sentido evangélico e espiritual da consagração batismal e da sua nova e especial consagração.

«Portanto, a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa das Famílias de vida consagrada, de tal modo que cada Instituto e cada comunidade se apresentem como escolas de verdadeira espiritualidade evangélica».61 Devemos deixar que o Espírito abra com superabundância as fontes de água viva que brotam do Cristo. É o Espírito quem nos faz reconhecer em Jesus de Nazaré o Senhor (cfr. 1 Cor 12, 3), que faz ouvir o chamado ao seu seguimento e nos identifica com Ele: «Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo» (Rm 8, 9). É Ele quem, fazendo-nos filhos no Filho, testemunha a paternidade de Deus, faz-nos conscientes da nossa filiação e nos concede a audácia de chamá-lo «Abá, ó Pai» (Rm 8, 15). É Ele quem infunde o amor e gera a comunhão. Em definitiva, a vida consagrada exige uma renovada tensão à santidade que, na simplicidade da vida de cada dia, tenha como escopo o radicalismo do sermão da montanha,62 do amor exigente, vivido numa relação pessoal com o Senhor, na vida de comunhão fraterna e no serviço a cada homem e a cada mulher. Tal novidade interior, inteiramente animada pela força do Espírito e tendida em direção ao Pai na busca do seu Reino, consentirá às pessoas consagradas partir de Cristo e ser testemunhas do Seu amor.

O chamado a reencontrar as próprias raízes e as próprias opções na espiritualidade abre caminhos ao futuro. Trata-se, em primeiro lugar, de viver em plenitude a teologia dos conselhos evangélicos a partir do modelo de vida trinitário, de acordo com os ensinamentos de Vita consecrata,63 com uma nova oportunidade de confrontar-se com as fontes dos próprios carismas e dos próprios textos constitucionais, sempre abertos a novas e mais comprometedoras interpretações. O sentido dinâmico da espiritualidade oferece a ocasião de aprofundar, neste momento da vida da Igreja, uma espiritualidade mais eclesial e comunitária, mais exigente e madura na recíproca ajuda para a consecução da santidade e mais generosa nas opções apostólicas. Finalmente, uma espiritualidade mais aberta a se tornar pedagogia e pastoral da santidade dentro da vida consagrada e na sua irradiação em favor de todo o Povo de Deus. O Espírito Santo é a alma e o animador da espiritualidade cristã, por isso é necessário confiar-se à sua ação, que parte do íntimo dos corações, manifesta-se na comunhão e dilata-se na missão.

Partir de Cristo

21. É mister, portanto, aderir sempre mais a Cristo, centro da vida consagrada, e retomar com vigor um caminho de conversão e de renovação que, como na experiência primitiva dos apóstolos, antes e depois da Sua ressurreição, foi um partir de Cristo. Sim, deve-se partir de Cristo, porque d'Ele partiram os primeiros discípulos na Galiléia, d'Ele, ao longo da história da Igreja, partiram homens e mulheres de todas as condições e culturas os quais, consagrados pelo Espírito à força do chamado recebido, por Ele deixaram família e pátria, seguindo-O incondicionalmente, tornando-se disponíveis para o anúncio do Reino e para fazer o bem a todos (cfr. At 10, 38).

A consciência da própria pobreza e fragilidade e, unida a essa, a da grandeza do chamado levaram amiúde a que se repetisse com o apóstolo Pedro: «Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!» (Lc 5, 8). Contudo, o dom de Deus foi mais forte que a inadequação humana. Cristo mesmo é quem, de fato, se fez presente nas comunidades de quantos, ao longo dos séculos, reuniram-se em seu nome, informou-as de si e de seu Espírito, orientou-as ao Pai, guiou-as pelos caminhos do mundo ao encontro dos irmãos e irmãs, fê-las instrumentos do seu amor e construtoras do Reino em comunhão com todas as demais vocações na Igreja.

As pessoas consagradas podem e devem partir de Cristo porque Ele mesmo, em primeiro lugar, veio ao seu encontro e as acompanha no caminho (cfr. Lc 24, 13-22). A vida delas é a proclamação do primado da graça;64 sem Cristo nada podem fazer (cfr. Jo 15, 5), e tudo podem, por outro lado, n'Aquele que lhes dá força (cfr. Fl 4, 13).

22. Partir de Cristo significa proclamar que a vida consagrada é especial seguimento de Cristo e «memória viva da forma de existir e atuar de Jesus, como Verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos».65 Isto comporta uma particular comunhão com Ele, constituído em centro da vida e fonte contínua de cada iniciativa. Como recorda a Exortação Apostólica Vita consecrata, trata-se de experiência de partilha, graça especial de intimidade,66 de «identificar-se com Ele, assumindo os seus sentimentos e forma de vida»,67é uma vida «cativada por Cristo»,68«vida tocada pela mão de Cristo, abrangida pela sua voz, sustentada pela sua graça».69

Toda a vida consagrada só pode ser compreendida a partir deste ponto de partida: os conselhos evangélicos têm sentido enquanto ajudam a guardar e a favorecer o amor pelo Senhor em plena docilidade à sua vontade; a vida fraterna é motivada por Ele, que convoca em torno a si, e tem o seu objetivo em gozar da sua constante presença; a missão é o seu mandato e leva à busca do seu rosto no rosto daqueles aos quais se é enviado para compartilhar com eles a experiência de Cristo.

Estas foram as intenções dos fundadores das diferentes comunidades e institutos de vida consagrada. Estes, os ideais que animaram gerações de mulheres e homens consagrados.

Partir de Cristo significa então reencontrar o primeiro amor, a centelha inspiradora da qual se começou o seguimento. É dele o primado do amor. O seguimento é somente resposta de amor ao amor de Deus. Se nós amamos é porque Ele nos amou primeiro (cfr. 1 Jo 4, 10.19). Isto significa reconhecer o seu amor pessoal com aquela íntima consciência que levava o apóstolo Paulo a dizer: «Cristo me amou e por mim se entregou» (Gl 2, 20).

Somente a consciência de ser objeto de um amor infinito pode ajudar a superar toda e qualquer dificuldade, pessoal e do Instituto. As pessoas consagradas não poderão ser criativas, capazes de renovar o Instituto e de abrir novos caminhos de pastoral, se não se sentirem animadas por este amor. Este é o amor que faz fortes e corajosos, que infunde audácia e faz tudo ousar.

Os votos, com os quais os consagrados se comprometem a viver os conselhos evangélicos, conferem toda a sua radicalidade à resposta de amor. A virgindade dilata o coração à medida do coração de Cristo e faz capaz de amar como Ele amou. A pobreza liberta da escravidão das coisas e necessidades artificiais às quais impele a sociedade de consumo, e faz que se redescubra a Cristo, único tesouro pelo qual vale realmente a pena viver. A obediência põe a vida inteiramente em suas mãos para que Ele a realize segundo o desígnio de Deus e dela faça uma verdadeira obra prima. Urge a coragem de um seguimento generoso e alegre.

Contemplar os rostos de Cristo

23. O caminho que a vida consagrada é chamada a empreender, no início do novo milênio, é guiado pela contemplação de Cristo, com o olhar mais do que nunca «fixo no rosto do Senhor».70 Mas onde contemplar concretamente o rosto de Cristo? Há uma multiplicidade de presenças que, numa maneira sempre nova, se devem descobrir.

Ele está realmente presente na sua Palavra e nos Sacramentos, de modo especialíssimo na Eucaristia. Vive na sua Igreja e se faz presente na comunidade dos que se reúnem em Seu nome. Está diante de nós em cada pessoa, identificando-se de modo particular com os pequeninos, os pobres, os que sofrem e os que são mais necessitados. Vem ao nosso encontro em todo e qualquer acontecimento alegre ou triste, na prova e no gozo, na dor e na enfermidade.

A santidade é o fruto do encontro com Ele nas muitas presenças onde podemos descobrir o seu rosto de Filho de Deus, um rosto sofredor e, ao mesmo tempo, o rosto do Ressuscitado. Como se fez presente no cotidiano da vida, assim ainda hoje é na vida cotidiana onde continua a mostrar o seu rosto. Precisamos de um olhar de fé para reconhecê-lo, dado pela familiaridade com a Palavra de Deus, pela vida sacramental, pela oração e sobretudo pelo exercício da caridade, porquanto somente o amor consente conhecer plenamente o Mistério.

Podemos enumerar alguns lugares privilegiados nos quais se pode contemplar o rosto de Cristo, para um renovado compromisso na vida do Espírito. São estes os percursos de uma espiritualidade vivida, tarefa fundamental do nosso tempo, ocasião para reler na vida e na experiência cotidiana as riquezas espirituais do próprio carisma num renovado contato com as mesmas fontes que fizeram surgir, da experiência do Espírito dos fundadores e fundadoras, a centelha da vida nova e das obras novas, as específicas releituras do Evangelho que se encontram em cada carisma.

A Palavra de Deus

24. Viver a espiritualidade significa, antes de mais nada, partir da pessoa de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, presente na sua Palavra, «a primeira fonte de toda a vida espiritual cristã», como recorda João Paulo II aos consagrados.71 A santidade não é concebível senão a partir de uma renovada escuta da Palavra de Deus. «De modo particular — lemos na Novo millennio ineunte, é necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital ... (que) permite ler o texto bíblico como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência».72É lá, com efeito, que o Mestre se revela, educa o coração e a mente. É lá que se amadurece a visão da fé, aprendendo-se a olhar a realidade e os acontecimentos com o mesmo olhar de Deus, até se chegar a ter o «pensamento de Cristo» (1 Cor 2, 16).

Foi o Espírito Santo quem iluminou a Palavra de Deus, com nova luz, para os fundadores e fundadoras. Dela brotou cada um dos carismas e dela cada Regra quer ser expressão. Em continuidade com os fundadores e fundadoras, também hoje, os seus discípulos são chamados a acolher a Palavra de Deus, guardando-a no coração, de modo a que ela continue sendo lâmpada para os seus passos e luz sobre o seu caminho (cfr. Sl 118, 105). Então, o Espírito Santo poderá conduzi-los à verdade plena (cfr. Jo 16, 13).

A Palavra de Deus é alimento para a vida, para a oração e para o diário caminhar, é o princípio de unificação da comunidade na unidade de pensamento, a inspiração para a renovação constante e para a criatividade apostólica. O Concílio Vaticano II indicara já no retorno ao Evangelho, o primeiro grande princípio da renovação.73

Como em toda a Igreja, também no interior das comunidades e dos grupos dos consagrados e consagradas, desenvolveu-se nestes anos um contato mais vivo e imediato com a Palavra de Deus. É uma estrada que se deve continuar a percorrer com uma intensidade sempre nova. «É necessário — disse o Papa — que não vos canseis de permanecer em meditação sobre a Sagrada Escritura e, sobretudo, sobre os santos Evangelhos, para que se imprimam em vós os traços do Verbo Encarnado».74

A vida fraterna em comum favorece também a redescoberta da dimensão eclesial da Palavra: acolhê-la, meditá-la, vivê-la juntos, comunicar as experiências que dela florescem e assim avançar numa autêntica espiritualidade de comunhão.

Neste contexto, convém recordar a necessidade de uma constante referência à Regra, já que na Regra e nas Constituições «se encerra um itinerário de seguimento, qualificado por um carisma específico e autenticado pela Igreja».75 Tal itinerário traduz a peculiar interpretação do Evangelho dada pelos fundadores e pelas fundadoras, dóceis ao impulso do Espírito, e ajuda os membros do Instituto a viver concretamente de acordo com a Palavra de Deus.

Nutridos pela Palavra, feitos homens e mulheres novos, livres e evangélicos, os consagrados poderão ser autênticos servos da Palavra no compromisso da evangelização, cumprindo deste modo uma prioridade para a Igreja, no início do novo milênio: «é preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu ao Pentecostes».76

Oração e contemplação

25. A oração e a contemplação são o lugar de acolhida da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, brotam da escuta da Palavra. Sem uma vida interior de amor que atraia a si o Verbo, o Pai e o Espírito (cfr. Jo 14, 23), não pode haver um olhar de fé e, por conseguinte, a própria vida vai perdendo gradativamente o sentido; o rosto dos irmãos faz-se opaco, tornando-se impossível descobrir neles o rosto de Cristo; os acontecimentos da história permanecem ambíguos, quando não desprovidos de esperança, e a missão apostólica e caritativa decai em atividade dispersiva.

Cada vocação à vida consagrada nasceu na contemplação, de momentos de intensa comunhão e de uma profunda relação de amizade com Cristo, da beleza e da luz que se viram brilhar sobre o Seu rosto. Daí amadureceu o desejo de estar sempre com o Senhor - «é bom ficarmos aqui» (Mt 17, 4) — e de O seguir. Cada vocação deve constantemente amadurecer nesta intimidade com Cristo. «O vosso primeiro compromisso, portanto — recorda João Paulo II às pessoas consagradas -, não pode não se situar na linha da contemplação. Toda a realidade da vida consagrada nasce e a cada dia regenera-se na contemplação incessante do rosto de Cristo».77

Os monges e as monjas, bem como os eremitas, embora em modo diverso, dedicam mais tempo seja ao louvor coral de Deus, seja à oração silenciosa prolongada. Os membros dos institutos seculares, assim como as virgens consagradas no mundo, oferecem a Deus as alegrias e sofrimentos, as aspirações e súplicas de todos os homens e contemplam o rosto de Cristo que reconhecem nos rostos dos irmãos e nos fatos da história, no apostolado e no trabalho cotidiano. As religiosas e os religiosos dedicados à docência, aos enfermos ou aos pobres encontram aí o rosto do Senhor. Para os missionários e membros das Sociedades de vida apostólica, o anúncio do Evangelho é vivido, a exemplo do apóstolo Paulo, como autêntico culto (cfr. Rm 1, 6). Toda a Igreja goza e se beneficia da pluralidade das formas de oração e da variedade do modo de contemplar o único rosto de Cristo.

Percebe-se, ao mesmo tempo, que, já há muitos anos, a oração litúrgica das Horas e a celebração da Eucaristia adquiriram um lugar central na vida de todos os tipos de comunidades e fraternidades, conferindo-lhes um vigor bíblico e eclesial. Estas celebrações favorecem também a mútua edificação e podem-se tornar um testemunho para ser, também diante de Deus e com Ele, «casa e escola da comunhão».78 Uma autêntica vida espiritual requer que todos, ainda que nas diversas vocações, dediquem regularmente, todos os dias, momentos apropriados para aprofundar-se no colóquio silencioso com Aquele por quem sabem ser amados, a fim de compartilhar com Ele a própria vida e receber luz para continuar o caminho cotidiano. É um exercício ao qual se pede fidelidade, posto que somos constantemente insidiados pela alienação e pela dissipação provenientes da sociedade hodierna, especialmente dos meios de comunicação. Às vezes, a fidelidade à oração pessoal e litúrgica exigirá um autêntico esforço por não deixar-se engolir por um vorticoso ativismo. Doutro modo não se pode dar fruto: «Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim» (Jo 15, 4).

Eucaristia: o lugar privilegiado para o encontro com o Senhor

26. Dar um lugar prioritário à espiritualidade significa partir da descoberta centralidade da celebração eucarística, âmbito privilegiado para o encontro com o Senhor. Nesta, faz-se Ele novamente presente em meio aos seus discípulos, explica as Escrituras, abrasa o coração e ilumina a mente, abre os olhos e se faz reconhecer (cfr. Lc 24, 13-35). O convite de João Paulo II dirigido aos consagrados é particularmente vibrante: «Encontrai-o, caríssimos, e contemplai-o de um modo todo especial na Eucaristia, celebrada e adorada todos os dias, como fonte e cume da existência e da ação apostólica».79 Na Exortação Apostólica Vita consecrata, ele já chamava a uma participação cotidiana no Sacramento da Eucaristia e à sua adoração assídua e prolongada.80 A Eucaristia, memorial do sacrifício do Senhor, coração da vida da Igreja e de cada comunidade, plasma interiormente a oblação renovada da própria existência, o projeto de vida comunitária e a missão apostólica. Todos precisamos do viático cotidiano do encontro com o Senhor para inserir o dia-a-dia no tempo de Deus, que a celebração do memorial da Páscoa do Senhor torna presente.

Podem-se aqui realizar plenamente a intimidade com Cristo, a identificação com Ele e a total conformação com Ele às quais os consagrados são chamados por vocação.81 Na Eucarista, com efeito, o Senhor Jesus nos associa a si na própria oferta pascal ao Pai: oferecemos e somos oferecidos. A mesma consagração religiosa assume uma estrutura eucarística: é uma oblação total de si, estritamente associada ao sacrifício eucarístico.

Concentram-se na Eucaristia todas as formas de oração, proclama-se e é acolhida a Palavra de Deus, somos interpelados a respeito de nossa relação com Deus, com os irmãos e com todos os homens: é o sacramento da filiação, da fraternidade e da missão. Sacramento da unidade com Cristo, a Eucaristia é contemporaneamente sacramento da unidade eclesial e da unidade da comunidade dos consagrados. Em suma, ela se revela como «fonte da espiritualidade do indivíduo e do Instituto».82

Para que ela produza em plenitude os esperados frutos de comunhão e de renovação, não podem faltar as condições essenciais, sobretudo o perdão recíproco e o compromisso do amor recíproco. Segundo o ensinamento do Senhor, antes de se apresentar a oferta ao altar, exige-se a plena reconciliação fraterna (cfr. Mt 5, 23). Não se pode celebrar o sacramento da unidade permanecendo reciprocamente indiferentes. Tenha-se presente, outrossim, que tais condições essenciais são também fruto e sinal de uma Eucaristia bem celebrada. Pois é principalmente na comunhão com Jesus eucaristia que nós conseguimos a capacidade de amar e de perdoar. Além do mais, cada celebração se deve tornar ocasião para renovar o compromisso de dar a vida, uns pelos outros, na acolhida e no serviço. Então para a celebração eucarística valerá verdadeiramente, de um modo eminente, a promessa de Cristo: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles» (Mt 18, 20) e, ao redor dela, a comunidade renovar-se-á a cada dia.

Cumpridas estas condições, a comunidade dos consagrados que vive o mistério pascal, diariamente renovado na Eucaristia, torna-se testemunha de comunhão e sinal profético de fraternidade para uma sociedade dividida e ferida. Da Eucaristia nasce, com efeito, aquela espiritualidade de comunhão tão necessária para estabelecer o diálogo da caridade de que o mundo de hoje carece.83

O rosto de Cristo na prova

27. Viver a espiritualidade num contínuo partir de Cristo significa iniciar sempre do momento mais alto do seu amor — e a Eucaristia lhe conserva o mistério —, quando sobre a cruz, entrega Ele a sua vida, na máxima oblatividade. Os que foram chamados a viver os conselhos evangélicos mediante a profissão não podem deixar de freqüentar a contemplação do rosto do Crucificado.84É o livro em que aprendem o que é o amor e como Deus e a humanidade devem ser amados, fonte de todos os carismas e síntese de todas as vocações.85 A consagração, sacrifício total e holocausto perfeito, é a forma a eles sugerida pelo Espírito para reviver o mistério de Cristo crucificado, que veio ao mundo para dar a sua vida em resgate por muitos (cfr. Mt 20, 28; Mc10, 45), e para responder ao Seu amor infinito.

A história da vida consagrada expressou esta configuração a Cristo através de muitas formas ascéticas que «foram, e continuam a sê-lo, um auxílio poderoso para um autêntico caminho de santidade. (...) A ascese é verdadeiramente indispensável para a pessoa consagrada permanecer fiel à própria vocação e seguir Jesus pelo caminho da Cruz».86 Hoje, as pessoas consagradas, embora conservando a experiência dos séculos, são chamadas a encontrar formas que sejam concordes com este nosso tempo. Em primeiro lugar, as que acompanham a fadiga do trabalho apostólico e garantem a generosidade do serviço. Atualmente, a cruz que se há de tomar sobre si a cada dia (cfr. Lc 9, 23) pode adquirir também valores coletivos, como o envelhecimento do Instituto, a inadequação estrutural ou a incerteza do futuro.

Em face a tantas situações de sofrimentos pessoais, comunitários e sociais, do coração de cada pessoa ou de inteiras comunidades pode ecoar o grito de Jesus na cruz: «Por que me abandonaste?» (Mc 15, 34). Naquele grito dirigido ao Pai, Jesus deixa entender que a sua solidariedade com a humanidade se fez tão radical a ponto de penetrar, de compartilhar e de assumir nela tudo o que há de negativo, inclusive a morte, que é fruto do pecado. «Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar inclusivamente o “rosto” do pecado».87

Partir de Cristo significa reconhecer que o pecado está ainda radicalmente presente no coração e na vida de todos, descobrindo no rosto sofredor de Cristo aquela oferta que reconciliou a humanidade com Deus.

Ao longo da história da Igreja, as pessoas consagradas souberam contemplar o rosto dolorido do Senhor também fora de si mesmas. Reconheceram-no nos enfermos, encarcerados, pobres e pecadores. A sua luta foi, sobretudo, contra o pecado e as suas funestas conseqüências. O anúncio de Jesus: «Convertei-vos e crede no Evangelho!» (Mc 1, 15) moveu seus passos pelas estradas dos homens, dando esperança de novidade de vida onde reinava desencorajamento e morte. O seu serviço levou a que muitos homens e mulheres fizessem a experiência do abraço misericordioso de Deus Pai no Sacramento da Penitência. Também hoje há necessidade de se propor com força, uma vez mais, este ministério da reconciliação (cfr. 2 Cor 5, 18), confiado por Jesus Cristo à sua Igreja. É o mysterium pietatis,88 do qual os consagrados e as consagradas são chamados a fazer uma freqüente experiência no Sacramento da Penitência.

Mostram-se hoje novos rostos nos quais reconhecer, amar e servir o rosto de Cristo lá onde Ele se fez presente: as novas pobrezas materiais, morais e espirituais que a sociedade contemporânea produz. O grito de Jesus na cruz revela como Ele assumiu sobre si todo este mal a fim de o redimir. A vocação das pessoas consagradas continua a ser a de Jesus e, como Ele, assumem elas sobre si a dor e o pecado do mundo, consumando-os no amor.

A espiritualidade de comunhão

28. Se «a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa das Famílias de vida consagrada»,89 ela deve ser, antes de mais nada, uma espiritualidade de comunhão, como convém ao momento presente: «Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo».90

Neste caminho de toda a Igreja, espera-se a decisiva contribuição da vida consagrada, através da sua específica vocação à vida de comunhão no amor. «Pede-se às pessoas consagradas — lê-se em Vita consecrata —, para serem verdadeiramente peritas em comunhão e praticarem a sua espiritualidade, como testemunhas e artífices daquele projeto de comunhão que está no vértice da história do homem segundo Deus».91

Recorde-se também que uma missão no hoje das comunidades de vida consagrada é a de «fazerem crescer a espiritualidade da comunhão, primeiro no seu seio e depois na própria comunidade eclesial e para além dos seus confins, iniciando ou retomando incessantemente o diálogo da caridade, sobretudo nos lugares onde o mundo de hoje aparece dilacerado pelo ódio étnico ou por loucuras homicidas».92 Missão que requer pessoas espirituais, forjadas interiormente pelo Deus da comunhão amorosa e misericordiosa, bem como comunidades maduras, onde a espiritualidade de comunhão é uma norma de vida.

29.Mas o que é a espiritualidade da comunhão? João Paulo II, com palavras incisivas, capazes de renovar relações e projetos, ensina: «Espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor». E ainda: «Espiritualidade da comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como “um que faz parte de mim”...». Deste princípio derivam, com estrita lógica, algumas conseqüências aplicáveis ao modo de sentir e de agir: partilhar as alegrias e os sofrimentos dos irmãos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhes uma verdadeira e profunda amizade. Espiritualidade da comunhão é ainda a capacidade de ver antes de mais nada o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus, é saber criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros. Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão.93

A espiritualidade de comunhão se defronta como o clima espiritual da Igreja, no início do terceiro milênio, missão ativa e exemplar da vida consagrada em todos os níveis. É a via régia de um futuro de vida e testemunho. A santidade e a missão passam pela comunidade porque Cristo se faz presente nela e através dela. O irmão e a irmã fazem-se sacramento de Cristo e do encontro com Deus, a possibilidade concreta e, mais ainda, a necessidade impreterível para poder viver o mandamento do amor recíproco e, portanto, a comunhão trinitária.

Nestes anos, as comunidades e os vários tipos de fraternidade de consagrados vêm sendo sempre mais entendidos como lugares de comunhão, onde as relações aparecem menos formais e onde a acolhida e a compreensão mútua são facilitadas. Descobre-se também o valor divino e humano do estar juntos gratuitamente, como discípulos e discípulas ao redor do Cristo Mestre, em amizade, partilhando até mesmo os momentos de divertimento e de lazer.

Nota-se igualmente uma comunhão mais intensa entre as diversas comunidades de um mesmo Instituto. As comunidades multiculturais e internacionais, chamadas a «testemunhar o sentido da comunhão entre os povos, as raças e as culturas»,94 em muitos lugares são já uma realidade positiva, onde se experimentam conhecimento mútuo, respeito, estima e enriquecimento. Revelam-se lugares de adestramento à integração e à inculturação e são, ao mesmo tempo, testemunho da universalidade da mensagem cristã.

A Exortação Vita consecrata, apresentando esta forma de vida como sinal de comunhão na Igreja, evidenciou toda a riqueza e as exigências requeridas pela vida fraterna. Anteriormente, o nosso Dicastério publicara o documento Congregavit nos in unum Christi amor, sobre a vida fraterna em comunidade. A estes documentos cada comunidade deverá retornar periodicamente, para confrontar o próprio caminho de fé e de progresso na fraternidade.

Comunhão entre carismas antigos e novos

30. A comunhão que os consagrados e as consagradas são chamados a viver vai mais além da própria família religiosa ou do próprio Instituto. Abrindo-se à comunhão com os outros Institutos e as outras formas de consagração, podem dilatar a comunhão, redescobrir as raízes evangélicas comuns e juntos, entender com maior clareza a beleza da própria identidade na variedade carismática, como ramos da única videira. Deveriam disputar na recíproca estima (cfr. Rm 12, 10) para alcançar o carisma melhor, a caridade (cfr. 1 Cor 12, 31).

Favoreçam-se, pois, o encontro e a solidariedade entre os Institutos de vida consagrada, sendo estes conscientes de que a comunhão está «intimamente ligada à capacidade que tem a comunidade cristã de dar espaço a todos os dons do Espírito. A unidade da Igreja não é uniformidade, mas integração orgânica das legítimas diversidades; é a realidade de muitos membros unidos num só corpo, o único Corpo de Cristo (cfr.1 Cor 12, 12)».95

Pode ser este o início de uma busca solidária de meios comuns para o serviço da Igreja. Fatores externos, como a necessidade de adequação às novas exigências dos Estados, e causas internas aos Institutos, como a diminuição dos membros, orientam já a coordenar os esforços no campo da formação, da administração dos bens, da educação e da evangelização. Também numa situação como esta, podemos perceber o convite do Espírito a uma comunhão sempre mais intensa. As Conferências de Superiores e Superioras maiores, bem como as Conferências de Institutos seculares, em todas as esferas, mantenham-se neste trabalho.

Não se pode mais enfrentar o futuro em meio à dispersão. Urge ser Igreja, viver juntos a aventura do Espírito e do seguimento de Cristo, de comunicar a experiência do Evangelho, aprendendo a amar a comunidade e a família religiosa do outro como própria. As alegrias e as dores, as preocupações e os sucessos podem ser partilhados e são de todos.

Também no que concerne às novas formas de vida evangélica, pede-se diálogo e comunhão. Estas novas associações de vida evangélica, recorda Vita consecrata, «não são uma alternativa às anteriores instituições, que continuam a ocupar o lugar insigne que a tradição lhes conferiu (...) Os antigos Institutos, muitos deles acrisolados por provas duríssimas suportadas com fortaleza ao longo dos séculos, podem enriquecer-se entrando em diálogo e troca de dons com as fundações que surgem no nosso tempo».96

Enfim, do encontro e da comunhão com os carismas dos movimentos eclesiais pode brotar um enriquecimento recíproco. Os movimentos podem oferecer amiúde o exemplo do frescor evangélico e carismático, assim como o generoso e criativo impulso à evangelização. Por outro lado, os movimentos e as novas formas de vida evangélica, por sua vez, podem aprender muito do testemunho gozoso, fiel e carismático da vida consagrada, custódia de um patrimônio espiritual riquíssimo, de múltiplos tesouros de sabedoria e de experiência e de uma grande variedade de formas de apostolado e de compromisso missionário.

Nosso Dicastério já ofereceu critérios e orientações, válidos ainda hoje, para a inserção de religiosos e religiosas nos movimentos eclesiais.97 Quiséramos enfatizar aqui a relação de conhecimento e colaboração, de estímulo e partilha que se poderia vir a instaurar não só entre os indivíduos mas também entre Institutos, movimentos eclesiais e novas formas de vida consagrada, em vista de um crescimento na vida do Espírito e do cumprimento da única missão da Igreja. Trata-se de carismas nascidos do impulso do mesmo Espírito, ordenados à plenitude da vida evangélica no mundo e chamados a realizar juntos o desígnio de Deus para a salvação da humanidade. A espiritualidade de comunhão se realiza também precisamente neste diálogo amplo da fraternidade evangélica entre todos os componentes do Povo de Deus.98

Em comunhão com os leigos

31. A comunhão experimentada entre os consagrados leva a uma abertura ainda maior, em relação a todos os outros membros da Igreja. O mandamento de amar-nos uns aos outros, vivido no seio da comunidade, pede ser transferido do plano pessoal àquele que se tece entre as diferentes realidades eclesiais. Somente numa eclesiologia integral, na qual as diversas vocações são tomadas no interior do único Povo de convocados, a vocação à vida consagrada pode redescobrir a sua específica identidade de sinal e de testemunho. Hoje se percebe sempre mais o fato de que os carismas dos fundadores e das fundadoras, tendo sido suscitados pelo Espírito para o bem de todos, devem ser recolocados no próprio centro da Igreja, abertos à comunhão e à participação de todos os membros do Povo de Deus.

Nesta linha, podemos constatar que vai se instaurando um novo tipo de comunhão e de colaboração entre as diversas vocações e estados de vida, especialmente entre os consagrados e leigos.99 Os Institutos monásticos e contemplativos podem oferecer aos leigos uma relação prevalentemente espiritual e os espaços necessários de silêncio e oração. Os Institutos comprometidos com o apostolado podem associá-los em formas de colaboração pastoral. Os membros dos Institutos seculares, leigos ou clérigos, relacionam-se com os outros fiéis nas formas comuns da vida cotidiana.100

A novidade destes anos é, principalmente, a busca, por parte de alguns leigos, de uma participação nos ideais carismáticos dos Institutos. Nasceram daí interessantes iniciativas e novas formas jurídicas de associação aos Institutos. Estamos assistindo a um autêntico reflorescer de antigas instituições, tais como as Ordens seculares ou Ordens Terceiras, e ao nascimento de novas associações laicais e movimentos ao redor das Famílias religiosas e dos Institutos seculares. Se, às vezes, inclusive num passado recente, tal colaboração ocorria como suplência decorrente da falta de pessoas consagradas necessárias ao desenvolvimento das atividades, agora ela nasce da exigência de partilhar as responsabilidades não apenas no gerenciamento das obras do Instituto, mas sobretudo na aspiração a viver aspectos e momentos específicos da espiritualidade e da missão do Instituto. Postula-se, portanto, uma formação adequada dos consagrados, bem como dos leigos, para uma recíproca e enriquecedora colaboração.

Se noutros tempos foram principalmente os religiosos e as religiosas os que criaram, nutriram espiritualmente e dirigiram formas de agremiação de leigos, hoje, graças a uma sempre maior formação do laicado, pode haver uma ajuda recíproca que favoreça a compreensão da especificidade e da beleza de cada um destes estados de vida. A comunhão e a reciprocidade na Igreja jamais se estabelecem num único sentido. Neste novo clima de comunhão eclesial, os sacerdotes, religiosos e leigos, longe de ignorar-se reciprocamente ou de organizar-se somente tendo em vista atividades comuns, podem encontrar a relação justa de comunhão e uma renovada experiência de fraternidade evangélica e de recíproca emulação carismática, numa complementariedade que sempre respeita a diversidade.

Uma semelhante dinâmica eclesial será totalmente vantajosa para a própria renovação e para a identidade da vida consagrada. Quando se aprofunda a compreensão do carisma, descobrem-se-lhe sempre novas possibilidades de atuação.

Em comunhão com os Pastores

32. Nesta relação de comunhão eclesial com todas as vocações e os estados de vida, um aspecto todo particular é o da unidade com os Pastores. Em vão se pretenderia cultivar uma espiritualidade de comunhão sem uma relação efetiva e afetiva com os Pastores, antes de mais nada com o Papa, centro da unidade da Igreja, e com o seu Magistério.

É a concreta aplicação do sentir com a Igreja, próprio de todos os fiéis,101 que brilha especialmente nos fundadores e fundadoras da vida consagrada e que se torna compromisso carismático para todos os Institutos. Não se pode contemplar o rosto de Cristo sem vê-lo resplandecer no de sua Igreja. Amar a Cristo é amar a Igreja nas suas pessoas e instituições.

Hoje, mais do que nunca, em presença de impulsos centrífugos recorrentes que põem em dúvida princípios fundamentais da fé e da moral católica, as pessoas consagradas e as suas instituições são chamadas a dar prova de unidade sem fissuras em torno ao Magistério da Igreja, fazendo-se seus porta-vozes convencidos e alegres diante de todos.

É oportuno sublinhar quanto afirmava o Papa já na Exortação Vita consecrata: «Um aspecto qualificativo desta comunhão eclesial é a adesão da mente e do coração ao magistério (do Papa e) dos Bispos, que há de ser vivida com lealdade e testemunhada claramente diante do Povo de Deus por todas as pessoas consagradas, e de modo especial pelas que estão empenhadas na investigação teológica e no ensino, nas publicações, na catequese, no uso dos meios de comunicação social».102 Ao mesmo tempo, reconhece-se que muitos teólogos são religiosos e que muitos institutos de investigação são regidos por Institutos de vida consagrada. Eles desempenham em forma louvável uma tal responsabilidade no mundo da cultura. A Igreja olha com atenção confiante o seu empenho intelectual diante das delicadas problemáticas de fronteira que o Magistério deve hoje afrontar.103

Os documentos eclesiais dos últimos decênios retomaram constantemente o ditame conciliar que convidava os Pastores a valorizar os carismas específicos na pastoral de conjunto. Ao mesmo tempo, encorajam as pessoas consagradas a que dêem a conhecer e ofereçam com clareza e confiança as próprias propostas de presença e de trabalho em conformidade com a sua específica vocação.

Isto vale, de alguma maneira, também nas relações com o clero diocesano. A maioria dos religiosos e religiosas colaboram cotidianamente com os sacerdotes na pastoral. É indispensável, portanto, dar curso a todas as iniciativas possíveis com vistas a um conhecimento e a uma estima recíprocos e sempre maiores.

Somente em harmonia com a espiritualidade de comunhão e com a pedagogia traçada na Novo millennio ineunte, o dom que o Espírito Santo faz à Igreja, mediante os carismas da vida consagrada, poderá ser reconhecido. Também é válida, num modo específico para a vida consagrada, aquela coessencialidade, na vida da Igreja, entre o elemento carismático e o elemento hierárquico que João Paulo II mencionou muitas vezes, dirigindo-se aos novos movimentos eclesiais.104 O amor e o serviço na Igreja exigem ser vividos sempre na reciprocidade de uma mútua caridade.

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Fonte Vaticano

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