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N.ª Senhora circula por famílias de Coimbra
2000-12-18 21:38:03

Várias famílias de um bairro de Coimbra fazem peregrinar diariamente a imagem de Nossa Senhora, de casa em casa, realizando um ritual de devoção inspirado num movimento fundado em 1914 em Schoenstatt, Alemanha.

A imagem da Mãe Peregrina, que viajou do santuário localizado naquela cidade alemã, cumpre a devoção no Bairro do Monte Formoso há cinco anos, trazida por um casal consagrado ao Movimento de Schoenstatt.

Uma lista com o nome de 30 famílias acompanha a imagem, indicando a cada um o dia em que pode venerar a imagem da Nossa Senhora. Os nomes apenas são substituídos pelo de outro crente quando algum deles morre.

A devoção, por vezes, leva a uma violação das regras, e a imagem chega a demorar dois ou três meses a rodar pelas 30 famílias, porque cada uma conserva-a no seu lar mais tempo do que as 24 horas previstas.

Também a maior parte das vezes não se cumpre uma parte do ritual aconselhado. A comunhão entre a família que a transporta e a da casa que a acolhe com a Nossa Senhora é normalmente breve, e não há tempo para rezar o terço aconselhado.

No entanto, quando Maria Armanda Cunha a recebe aproveita para uma conversa, conforme o tempo o permite, com a vizinha que lha traz. Um chá e uma troca de palavras sobre as coisas da vida têm como testemunha silenciosa e atenta a imagem de Nossa Senhora de Schoenstatt.

Maria Armanda Cunha, há alguns anos reformada, normalmente reza o terço sozinha, seguindo por um livrinho específico que a orienta nas orações à Maria "alemã".

Contou à Lusa que aderiu ao ritual de fazer peregrinar a imagem de casa em casa pela devoção a Nossa Senhora, que a reconforta e tem acompanhado em momentos difíceis.

Em sua casa tem um lugar reservado para a receber. Alumia a passagem das horas com uma vela ou uma lamparina de óleo, e o espaço em seu redor adorna-o com florzinhas.

Maria de Lurdes Petim e o seu marido foram instituídos em 1985 - durante uma peregrinação ao santuário alemão - membros do Movimento de Schoenstatt, criado a 18 de Outubro de 1914 pelo Padre José Kentenich.

Há cinco anos reuniram mais 29 famílias para acolher a Nossa Senhora no Bairro do Monte Formoso. Actualmente já pensam em criar mais um grupo para receber outra imagem, dando resposta a desejos expressos.

O Movimento de Schoenstatt tem aderentes em países de todos os continentes. Em Portugal, segundo Maria Lurdes Petim, o ritual de fazer peregrinar a imagem de Maria também acontece nalgumas zonas de Lisboa, Porto ou Aveiro. Em Arzila, uma freguesia rural de Coimbra, serão cinco imagens a circular por 150 famílias.

Na Gafanha da Nazaré existe um santuário consagrado à Nossa Senhora de Schoenstatt, e num determinado dia do ano os membros do movimento deslocam-se aí para que as suas imagens recebam uma benção especial.

Este tipo de devoção encontra paralelo numa outra que ainda hoje se continua a praticar, nomeadamente em aldeias de Trás-os-Montes, de fazer circular entre lares uma espécie de pequeno altar com a imagem da Sagrada Família.

Manuel Augusto Rodrigues, que na Universidade de Coimbra rege a disciplina de História das Religiões, considera que este tipo de devoções muitas vezes são transpostas dos meios rurais para as cidades, com a deslocação das pessoas.

"Há por vezes tradições que parece que morrem, mas que ressurgem, e vão passando naturalmente, por vezes acrescentadas de pormenores que resultam da imaginação, e dos sentimentos", referiu à Lusa o professor, que é director do Arquivo da Universidade de Coimbra.

O Movimento de Schoenstatt foi fundado em 1914, na cidade alemã que lhe dá nome, pelo padre José Kentenich, em conjunto com os seus discípulos do seminário menor dos PP Palotinos.

O ritual que é praticado no Bairro do Monte Formoso, em Coimbra, inspira-se na Campanha do Rosário, de iniciativa de um discípulo de Kentenich, o brasileiro João Pozzobon.


Fonte DN

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