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À PROCURA DA PALAVRA: DOMINGO X DO TEMPO COMUM - Procuro a aurora
2002-06-09 17:01:24

“Procuremos conhecer o Senhor.
A sua vinda é certa como a aurora.”
Os 6, 3

Sempre gostei desta palavra: “procura”. E quando me revejo na multidão deste tempo que parece “andar à procura” sinto-me mais homem e mais irmão. Para muitos pode ser angustiante, para quem deseja respostas “prontas-a-usar” é uma enorme perda de tempo!


Ela é a pergunta em acção, o homem interrogante que não se contenta com o imediato, que não aceita pensar pela cabeça de outros, nem com definições daquilo que tem sempre um pouco de mistério.

Procuramos conhecer. Conhecermo-nos a nós próprios, aos outros, o sentido da vida, Deus. E só vamos conhecendo à medida que procuramos, neste movimento de entrar de novo no mistério de beleza que é a vida. Deixar de procurar é morrer. É pôr alicerces no imediato, adormecer os sentidos, tentar possuir algumas verdades fáceis para anestesiar a sede da alma, ser dono do passado e temer o futuro. Como é triste viver esta morte anunciada!

Procuro a beleza. Aquela que já está feita e só me pede disponibilidade para contemplar. Mas também aquela que está a espera de nascer em mim e nos outros. A beleza que vem serena como a aurora, portadora de esperança, nos gestos e palavras autenticamente humanas. Falo dela, aponto-a como se aponta uma flor, quero que ninguém passe por este mundo sem saber que é criador de beleza, e que tudo seria mais simples se mais a amássemos. Como Cristo nos ensina e faz para nós nesse gesto tão belo (e tão maltratado por vezes, com palavras e cânticos tão feios!) que é a Eucaristia. A festa para dar graças pela beleza encontrada!

Procuro a justiça. A que Deus realiza com o seu julgamento de amor e aquela que nos é entregue para semear. A justiça que faz cair todas as máscaras e denuncia a falsidade de muitos preceitos religiosos. Porque não somos donos dos bens; estão-nos entregues para fazermos o bem. E muito menos das pessoas; quando não as respeito, não sou digno do nome de homem! Sofro impaciente diante de tantos caminhos injustos que continuam a existir. Custa-me a paciência (tão confundida com indiferença e acomodamento) de semear e esperar que cresça o mundo novo. Entristecem-me os que desistem (e bem sei que Deus nunca desiste de ninguém).

De cada encontro nasce uma procura maior. Esta é uma das forças espantosas da fé cristã. “Não é bastante”, respondeu Deus ao monge que, anos após anos, lhe pedia a revelação do seu verdadeiro nome! Jesus procurava os corações atribulados e levava-lhes uma boa nova de transformação. Nunca quis o reconhecimento, o esplendor, o dogmatismo, o poder, a subserviência. Preferiu a verdade, a beleza, a justiça e o amor. Aparecia com a suavidade da aurora!

Pe. Vitor Gonçalves



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