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Entrevista ao Ir. David da Comunidade de Taizé
2002-06-12 23:21:36

Antecipando a vinda do Irmão David, da Comunidade de Taizé, ao nosso país, o António Monteiro (Tozé) preparou uma entrevista com o Ir. David que agora lhe damos a conhecer.

Aproveite também para ficar a conhecer um pouco mais sobre Taizé num artigo que preparamos para si.


1. Vai estar alguns dias proximamente em Portugal. Qual é o objectivo da visita?

Em Taizé, a comunidade acolhe dezenas de milhares de jovens, que vêm para viver uma semana de encontros e oração. De Portugal chegam anualmente a Taizé muitas centenas de jovens, à procura de um tempo de paragem, para retomar alento e coragem para assumir compromissos ou dar continuidade a responsabilidades assumidas na vida de todos os dias.

Com este acolhimento, os irmãos não pretendem guardar os jovens ligados à comunidade numa espécie de «grupos de Taizé», mas sim enviá-los às suas terras e comunidades e convidá-los a ser aí fermento de reconciliação e testemunhas de esperança. Por isso achamos que é importante que este movimento seja recíproco: acolhemos em Taizé, mas também vamos ao encontro das comunidades locais, procurando visitar e conhecer as diferentes iniciativas da igreja local e visitar os jovens, apoiando-os na sua procura de desenvolver uma vida interior e de viver a solidariedade nas situações concretas em que se encontram.

Vamos conhecer e apoiar actividades de jovens que não fecham os olhos ao sofrimento humano, que se empenham no sentido de construir um mundo com mais justiça e amor. Queremos dizer-lhes: aquilo que vocês fazem pode por vezes parecer pouco, mas o essencial é não perder a oportunidade de fazer esse pouco. Quando vários poucos se juntam, com confiança e simplicidade é possível fazer muito. E aquilo que nos parece pouco pode ser muito aos olhos de Cristo, como as moedinhas que a pobre viúva do Evangelho entregava no Templo.

Vamos partilhar a oração de pequenos grupos que se reúnem regularmente na sua paróquia, porque pensamos que os jovens têm sede de espaços de oração simples, abertos e acolhedores e queremos apoiá-los nessa procura. Sabemos que por vezes não é fácil organizar esses espaços e que é necessária perseverança para continuar quando há 40 ou 50 que aparecem ou quando há apenas 3 ou 4. E procuramos valorizar todas essas iniciativas.
Visitamos as comunidades locais procurando aprofundar assim laços de comunhão em Cristo.


2. A comunidade de Taizé convida os que acolhe a viver preferencialmente uma semana completa na comunidade. Descreva-nos um pouco como é vivida esse semana, que actividades propõe, quais os objectivos e exigências para poder viver essa experiência.

Apesar de também acolhermos em Taizé os que chegam para passar alguns dias, organizamos principalmente programas de encontros para uma semana. É toda uma caminhada que propomos a quem vem a Taizé.
Quando alguém chega a Taizé, sobretudo quem chega pela primeira vez, nem sempre consegue entrar imediatamente na vivência da comunidade. As pessoas estão habituadas a vidas muito cheias, a estar sempre ocupadas, a ter sempre barulho à sua volta, nem que seja para encher o vazio. E quando chegam a Taizé são convidadas a parar, a ir à igreja três vezes por dia, a viver vários momentos de silêncio durante o dia. Ora às vezes é preciso tempo para nos habituarmos a esse ritmo, para deixarmos de estar preocupados com o que devemos fazer ou dizer e deixar assim as coisas acontecer.

É também preciso tempo para fazer uma verdadeira experiência de vida em comunidade. Um dos pilares dos encontros em Taizé é a partilha em pequenos grupos: grupos de cerca de 10 pessoas, mais ou menos na mesma faixa etária, se possível de 3 ou 4 países diferentes, que se reúnem todos os dias para aprofundar um tema de reflexão e para partilhar as suas experiências ligadas a esse tema. Para que as pessoas se possam conhecer melhor, para que nasça a confiança que permite desenvolver e aprofundar esses temas, para que nasça a amizade entre pessoas muito diferentes que não se conheciam, os grupos formam-se no início da semana e permanecem os mesmos todos os dias.

Todos são convidados a participar nas três orações diárias da comunidade, que centram o ritmo do dia, nos tempos de reflexão bíblica animados pelos irmãos, nos pequenos grupos de partilha e nos trabalhos práticos que é necessário fazer (limpar, cozinhar, lavar a loiça, etc.). Organizamos também workshops, com temas à escolha, para permitir aos jovens ter tempos de encontro à volta de temas mais específicos que lhe interessem (com temas bíblicos, mas também temas ligados à arte e à música ou a testemunhos de experiências vividas pelos jovens).


3. Ao longo das últimas décadas têm acolhido em Taizé milhares de Jovens da Europa e de outros continentes. Nos últimos anos então tem sido significativa a presença de jovens da Europa de leste. Há naturalmente diferenças culturais e sociais, para não falar das religiosas, significativas. No entanto é possível constatar uma grande harmonia na reflexão em conjunto e na oração, onde seria natural encontrar alguma conflitualidade. Qual é o segredo?

Em Taizé todos são acolhidos, respeitados, escutados e aceites. Não é por acaso que esse respeito é um dos aspectos que lembramos logo à chegada a todos os participantes nos encontros de Taizé.

Todos têm qualquer coisa para dar e para partilhar: tanto os que já têm uma caminhada de fé como aqueles que vêm à procura, alguns com muito poucas referências cristãs; tanto os do leste como os do oeste, os do norte como os do sul. O que é essencial é essa abertura ao outro, esse respeito. É querer acolher os outros como um irmão ou uma irmã em Cristo, alguém que não está ali para me julgar ou para me atrapalhar, mas alguém a quem eu posso dar qualquer coisa e que tem qualquer coisa para me dar, nem que seja um sorriso ou um pequeno gesto de atenção.

Há uma grande diversidade nos jovens que encontramos em Taizé. Mas essa diversidade é muito mais uma fonte de partilha, de troca de conhecimentos e de experiências, do que um motivo de conflitos. Às vezes convidamos grupos de jovens a partilhar algumas das riquezas culturais dos seus países, por exemplo uma dança ou uma canção tradicional. É extremamente interessante ver como as pessoas se interessam pela cultura dos outros, como os jovens gostam de aprender meia dúzia de palavras numa língua estrangeira, que provavelmente nunca terão necessidade de falar. E, começando com aspectos bastante simples, pode-se depois desenvolver uma conversa bem mais profunda sobre a vivência cristã nas diferentes situações em que cada um se encontra.

Penso que não há segredos. O que há é a procura das coisas boas que existem em cada pessoa e o convite a partilhá-las. O que há são coisas muito simples, como a confiança, o respeito, a bondade, a atenção ao outro...


4. Na sua opinião o que leva a Taizé tantos jovens do mundo industrializado, onde os apelos do consumismo e do materialismo são evidentes e onde por vezes se verifica uma crescente penetração nas gerações mais jovens de valores como a intolerância, o racismo e outros extremismos?

Não olho para as nossas sociedades com pessimismo. Os jovens e os menos jovens têm muito valor, têm muitas coisas boas no fundo do seu coração. Por vezes à situações ou acontecimentos que marcam negativamente uma pessoa e alguns sentimentos pouco cristãos podem aparecer. Quando estas pessoas se sentem desanimadas, abandonadas por vezes, com medo do outro, podem fechar-se nas suas dificuldades e cobrir a bondade que têm no fundo do seu coração. Mas quando encorajamos essa bondade, quando procuramos tirar essas máscaras com que as pessoas por vezes se querem proteger, como procuramos fazer em Taizé, então encontramos verdadeiros valores de abertura, de aceitação do outro na sua diferença, de solidariedade, de compreensão e fraternidade.

Talvez haja muitos jovens que vêm a Taizé exactamente para fugir a esse materialismo exagerado, para encontrar um espaço onde podem respirar à vontade, onde podem encontrar calma e paz, onde a presença do outro se torna numa fonte de alegria e de felicidade.


5. Ao contrário de outros, digamos, movimentos religiosos com géneses semelhantes, Taizé tem recusado sempre a ideia de criar uma organização, antes incentiva aqueles que acolhe a prosseguir a sua caminhada nas comunidades a que pertencem. Porquê?

Porque somos uma pequena comunidade sem pretensões de dar resposta a todas as situações. A vocação ao acolhimento é um grande tesouro da tradição monástica. Todos temos necessidade de dar e de receber, de acolher e de ser acolhidos, de amar e de ser amados. Em Taizé oferecemos um espaço em que as pessoas podem vir descansar espiritualmente, podem encontrar-se a si mesmas, encontrar outros e encontrar Deus. Um espaço de encontro e oração que pode ser como uma paragem no caminho, um «ir à fonte», para depois continuar com mais força e ânimo. Para que este acolhimento seja sincero ele deve permanecer gratuito. Não acolhemos os jovens para termos «jovens de Taizé», mas sim para os motivar a encontrar o seu lugar na igreja e sociedade a que pertencem. E essa igreja e essa sociedade precisam desses jovens , precisam de jovens empenhados que saibam torná-las mais vivas e rejuvenescidas.

Há muitos grupos e iniciativas que os jovens têm à sua porta. O que nós gostaríamos era que a passagem por Taizé os ajudasse a ser membros cada vez mais activos das suas comunidades.

6. Abordemos agora a questão do acolhimento em Taizé. O primeiro impacto é muito duro. Apesar do acolhimento em tendas, da chuva frequente, da frugalidade das refeições, das noites mal dormidas, após dois ou três dias tudo parece óptimo e ultrapassado. Qual lhe perece ser a importância deste aspecto para o ambiente de paz e felicidade que se vive em Taizé?

Oiço muitas vezes os jovens dizer que ficaram impressionados pela beleza e simplicidade que encontraram em Taizé. Não é só a beleza do espaço e da natureza que os marca. Também não é só a simplicidade com que são acolhidos, nem os poucos meios ou estruturas que vêm à sua volta. O que lhes toca é articulação destes dois aspectos. É ver coisas bonitas, acolhedoras, agradáveis, no meio de uma grande simplicidade.

Referem muitas vezes a igreja como exemplo. Um espaço grande, sem cadeiras, pouco confortável, mas ao mesmo tempo simpático, acolhedor, onde as pessoas se sentem bem e à vontade.
Se calhar às vezes não é muito confortável estar sentados no chão. Mas essa falta de conforto também nos pode acordar para outras realidades, a que se calhar damos menos atenção numa vida acomodada à rotina e ao bem estar.

A simplicidade material, quando não se torna numa austeridade difícil de suportar, pode levar-nos a simplificar o nosso olhar e a forma de nos relacionar-mos com os outros. Pode ajudar-nos a dar mais atenção ao que é verdadeiramente essencial. A beleza exterior convida-nos também a agir com bondade e a criar coisas bonitas à nossa volta.
A harmonia entre a simplicidade e a beleza pode de facto levar-nos a encontrar esse ambiente de paz e felicidade.


7. A oração comum, três vezes por dia , é provavelmente o que mais marca quem passa por Taizé, inclusive os não crentes. Marca sobretudo pela simplicidade. Fale-nos um pouco sobre o sentido da oração em Taizé.

Em Taizé, a vida é centrada nos três momentos de oração comunitária. São os momentos em que as diferentes actividades, os encontros e o trabalho se interrompem para que todos se possam reunir na igreja e confiar a Deus as suas vidas. São momentos muito simples, pois para rezar não são precisas grandes capacidades nem muitos conhecimentos. O que é importante na oração é a disponibilidade interior para acolher Deus e para nos deixarmos acolher por ele.

Os irmãos partilham todas as orações da comunidade com as pessoas que estão em Taizé. Convidamos as pessoas a virem à igreja não para ver os outros rezar, mas sim para rezarmos juntos e para nos apoiarmos uns aos outros nessa oração em comum. Nesse sentido procuramos que as orações sejam acessíveis a todos, que cada um se sinta parte dessa assembleia que reza, que ninguém se sinta excluído. Penso que a oração em Taizé marca muito as pessoas porque é uma oração simples, aberta, acolhedora, acessível a todos.

Nas orações comunitárias em Taizé rezamos um salmo, escutamos uma passagem da bíblia e cantamos pequenas frases que repetimos muitas vezes. A oração repetitiva ajuda-nos a interiorizar uma mensagem e a deixar o coração cantar. Uma frase que de início é exterior a nós, que vem da bíblia ou foi escrita por um santo ou um cristão que nos deixou o seu testemunho, com a repetição vai sendo assimilada a pouco e pouco e pode tornar-se assim na nossa própria oração, numa forma de expressarmos o nosso desejo de plenitude e a nossa sede de Deus.

No coração da oração temos sempre alguns minutos de silêncio. O irmão Roger cita muitas vezes as palavras de Santo Agostinho:«Há uma voz do coração e uma língua do coração... Essa voz interior é a nossa oração quando os nossos lábios estão fechados e a nossa alma aberta diante de Deus. Nós calamo-nos e o nosso coração fala; não às orelhas dos homens, mas a Deus. Acredita: Deus saberá escutar-te.»


8. O que vos levou a optar acolher também adultos e famílias com crianças? Estes grupos vivem a semana separados dos jovens. Porquê? Não seria interessante proporcionar algum intercâmbio geracional?

Em Taizé damos especial importância ao acolhimento de jovens. Ao ver tantos jovens deixar as igrejas não podemos ficar indiferentes. Procuramos fazer todos os possíveis para despertar os jovens para uma vida de fé, para acordar o desejo que existe em todos de mais solidariedade, de mais paz e de mais comunhão. Os jovens têm que fazer escolhas essenciais para as suas vidas e é na juventude que se encaminha normalmente a vida nesta ou naquela direcção. Por isso procuramos criar um espaço em que os jovens se possam encontrar para partilhar, para dar sentido às suas vidas, para encontrar nas fontes da Fé ânimo e coragem para enfrentar desafios e assumir responsabilidades.

No entanto, em Taizé acolhemos todas as pessoas que chegam para participar nos encontros e não excluímos ninguém por causa da idade. Por isso fomos levados a organizar espaços de encontro para adultos e famílias.
Quando as pessoas chegam a Taizé são divididas em vários grupos consoante as idades, para permitir uma partilha mais sincera e mais profunda. Até há relativamente pouco tempo, formávamos grupos de jovens entre os 17 e os 29 anos. Mas verificámos que esses grupos tinham muitas dificuldades em funcionar. Os jovens mais velhos queixavam-se da imaturidade dos mais novos e da ligeireza com que eles abordavam algumas questões.

Os mais novos diziam frequentemente que os outros eram «uns chatos», pois queriam falar de assuntos que não os entusiasmavam e não aprofundavam outras questões que eles consideravam mais importantes...

Fomos por isso levados a dividir este grupo em dois, dos 17 aos 21 e dos 22 aos 29 anos. Desta forma os jovens reúnem-se com outros que têm mais ou menos a mesma idade, pontos de interesse comuns e frequentemente experiências semelhantes, apesar da grande diversidade de contextos. Podemos dizer o mesmo para os adultos e as famílias.

Claro que o intercâmbio entre gerações também é importante e o que podemos verificar é que ele vai acontecendo com bastante naturalidade. O que não podemos forçá-lo.


9. Uma coisa que é estranha para quem visita Taizé é o facto de, apesar de ser um espaço visitado por centenas de milhares de pessoas, não existir a envolvência comercial que normalmente surge nestes espaços. Como foi possível preservar o ambiente intimista e as características do espaço envolvente?

Taizé é uma pequena aldeia situada numa zona rural, longe de grandes cidades. Quando o irmão Roger cá chegou em 1940 era uma aldeia quase desértica, com muito poucos habitantes, sem telefone, luz ou estrada alcatroada. Hoje é efectivamente um espaço visitado por centenas de milhares de pessoas, mas são pessoas que vêm em busca de calma, tranquilidade e paz.

Nós procuramos responder às necessidades e desejos das pessoas que cá vêm, organizando nós próprios locais para as pessoas dormirem, alimentando-as e pondo mesmo à disposição um pequeno café (sem fins lucrativos) onde se podem descontrair. Para conseguir organizar tudo isso pedimos a todos para ajudar nalgum trabalho ou pequeno serviço.
Penso que desta forma ninguém sente necessidade de sair e ir à procura dessa envolvência comercial, que por isso nunca se chegou a desenvolver.

10. A unidade dos cristãos parece algum muito distante e difícil de atingir – veja-se a recente conflitualidade entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa. Taizé tem sido um sinal contra-corrente no domínio ecuménico, já que na vossa comunidade a unidade é fundamentalmente construída a partir das pessoas e não das estruturas institucionais. Será este o caminho?

O caminho para a unidade e reconciliação começa certamente em cada pessoa. Se formos dizendo que isso não nos diz respeito, que só quem tem responsabilidades nas estruturas da igreja é que deve trabalhar nesse sentido, então não estamos a viver o apelo de Cristo para a unidade. Mas devemos também percorrer esse caminho com muita humildade e simplicidade. Em Taizé não temos a pretensão de ter a solução para os impasses que se vivem a nível ecuménico. Temos sim o grande desejo de não ficar de braços cruzados devido às diferenças que ainda separam os cristãos e de procurar viver juntos, desde já, a comunhão possível a que Cristo nos chama.

Penso que Taizé é também um sinal de esperança. Aqui encontram-se pessoas dos quatro cantos do mundo, provenientes de diferentes denominações cristãs, e é possível viver-se uma experiência de paz e harmonia, de encontro e compreensão.

Ao regressar a casa, todos são convidados a continuar essa procura de reconciliação com os que encontrarem à sua volta: na família, no trabalho, na escola,...


11. Passados mais de 60 anos sobre a chegada do Irmão Roger Schutz a Taizé, como encaram, à luz das grandes mutações deste início de milénio, o desafio de ser fermento de comunhão e reconciliação entre os cristãos, e naturalmente entre a humanidade?

O irmão Roger escreveu na Carta que será meditada em cada semana deste ano em Taizé: «Hoje mais do que nunca cresce um apelo à abertura de caminhos de confiança, mesmo nas noites da humanidade. Pressentiremos nós esse apelo?» Estes caminhos de confiança são o contrário da desconfiança e do medo face àquele que é diferente de nós. Nós convidamos todos os que vêm a Taizé a pensar neste assunto, a reflectir sobre a necessidade de nos abrirmos aos outros e de aprendermos a confiar, para podermos criar mais paz e solidariedade na família humana.

A confiança não nos deixa parar, nem deixa que nos fechemos sobre nós mesmos e sobre as nossas fragilidades, mas leva-nos a procurar sempre ir mais longe, a querer sempre avançar, mesmo se por vezes temos dificuldade em discernir o melhor caminho. Podemos avançar porque nos confiamos ao amor de Deus.
Parece-me que é através desta confiança que podemos ser um verdadeiro fermento de comunhão e reconciliação.

Olhando para os outros com a confiança com que Cristo os olha, podemos ver para além das suas fragilidades e fraquezas, podemos descobrir neles muitos tesouros e muita beleza.


12. Sabemos que conheceu Taizé como tantos outros jovens, através de uma peregrinação organizada pelo movimento a que pertencia. O que o levou a fazer essa opção por um compromisso para a vida logo nessa comunidade, numa escolha que naturalmente será difícil por lhe exigir um afastamento, também físico, da família, amigos?

Conheci efectivamente Taizé através das peregrinações do grupo de jovens da minha paróquia. Participei várias vezes nessas viagens a Taizé, sem no entanto pensar que o meu caminho passaria um dia por esta comunidade. E foi depois de alguns anos a vir regularmente a Taizé que decidi vir cá passar as férias de Verão.

Vim à procura dum tempo de paragem, perguntado-me como poderia viver a minha fé de uma forma mais responsável e madura. Queria também dar um pouco de mim, fazer algum serviço para os outros na Igreja e pareceu-me que as férias em Taizé me dariam uma oportunidade de viver tudo isso.
No final dessas férias não me senti preparado para continuar a fazer o que fazia antes. Achei que as férias tinham sido muito curtas e compreendi precisava de mais tempo para me encontrar comigo mesmo e dar mais sentido à minha vida. Por isso prolonguei a estada em Taizé.

E só ao fim de vários meses em Taizé é que comecei a encarar seriamente a possibilidade de me tornar irmão e de entrar na comunidade. Identificava-me muito com a vocação da comunidade e pouco e pouco fui compreendendo que era esse o caminho que eu queria para mim.

Claro que aceitar este caminho implicou renunciar a muitos outros, tal como qualquer sim implica sempre muitos nãos. Mas a alegria que sinto ao caminhar neste caminho e a paz interior que ele me proporciona dão-me força e ânimo para ultrapassar esses aspectos que podem parecer mais difíceis.

No dia em que um irmão faz o seu compromisso na comunidade, recordamos sempre a mensagem do Evangelho: não há ninguém, na verdade, que tenha deixado tudo por causa de Cristo e do Evangelho, que não receba agora no tempo presente cem vezes mais irmãos, irmãs, mães e filhos, com perseguições e, no mundo vindouro, a vida eterna.

por António Monteiro


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