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Amor de padre ficou sem um final feliz
2002-05-31 12:01:34

Armando (os nomes são fictícios) era o padre. Joana, a jovem que não frequentava a Igreja. Armando e Joana apaixonaram-se. Envolvidos num acidente de viação, a altas horas da madrugada, não puderam esconder por mais tempo o que já se comentava pelas esquinas das aldeias vizinhas: o padre estava apaixonado, a jovem era toxicodependente e um filho vinha a caminho.


A revelação maior veio depois. Armando também estava agarrado à droga. Abandonou a igreja e refugiou-se em Viana do Castelo, com a sua amada.
Depois, o padre aceitou ajuda. D. Eurico, então arcebispo de Braga, estendeu-lhe a mão e mandou-o para Espanha. Foi tratado nas melhores clínicas de desintoxicação e encontrou forças para deixar o vício. Assumiu o filho e voltou para a Igreja.
Joana ficou sozinha com a criança. Ao seu lado, tinha uma família destroçada. E três aldeias que a culpavam por ter levado o padre para os maus caminhos.
Hoje, Joana já cá não está. Morreu há menos de dois meses, vítima de doença prolongada.
Indiferente ao drama, está João. Brinca como qualquer menino e ignora ter sido fruto de uma trágica história de amor.

Regresso a medo
Em Sequeiros (Braga), uma das aldeias onde o padre rezava missa, a história ainda está bem presente na cabeça das pessoas. Armando -o padre-menino - há cinco anos que não percorre a estrada, trocando cumprimentos com os idosos ou brincando com as crianças.
Hoje, quando volta, visita apenas os que lhe são mais próximos. Refugia-se na casa dos amigos, evita cruzar-se com os paroquianos e responder a perguntas sobre o seu passado.
Mas Sequeiros há muito que o perdoou. "Deixou muita obra feita. Quando olho para o Centro Social, lembro-me dele. Faz-me pena que não esteja aqui. Seria muito bem recebido", diz-nos Maria, uma mulher que ainda hoje fala do padre com a lágrima no canto do olho.
"Foi uma vergonha para a freguesia. Até fizeram um filme. O que me disseram é que nada tinha a ver com a realidade. Só quiseram aumentar a história do padre. Coitadinho, foi veneno que lhe botaram, para ele andar metido naquela coisa".
Horácio Sousa, presidente da Junta de Freguesia, partilha da mesma opinião. Também ele recorda Armando com saudade. Passaram cinco anos e Horácio nunca mais o viu. Também não conhece o filho do padre e pouco sabe da família da jovem, residente numa povoação vizinha.
"Às vezes, o padre volta. Mas vai a casa dos amigos e não anda a passear, para que ninguém o veja. Segundo sei, deixou a droga e parece estar recuperado. A memória que temos dele só pode ser boa. Sempre praticou o bem e cometeu um erro como qualquer pessoa", adiantou.

Comunidade de emigrantes
Armando está na Suíça, onde é padre auxiliar numa igreja portuguesa. Trabalha com uma comunidade de emigrantes e a igreja perdoou-lhe o erro.
De vez em quando, Armando regressa. Visita o filho, que perfilhou, e apoia-o conforme pode. A sua família também auxilia o neto. Visita-o com regularidade e contribui para a alimentação do menino.
Joana é que parece ter sido esquecida. É contra ela, que o povo ainda se insurge. A família de Joana, porém, ainda vive na ressaca da morte da jovem. São bem o rosto amargo de uma história de amor que não teve um final feliz.

Filme foi recorde de bilheteira com 280 mil espectadores
Estávamos em Fevereiro de 1998. Em pouco mais de um mês, o filme de Joaquim Leitão superava as melhores expectativas e atingia um recorde de 280 mil espectadores.
"Tentação" contava a história de António e Lena, um padre e uma jovem toxicodependente, que viveram o inferno da droga até ao limite. Uma história de amor, de intolerância, que apaixonou as gentes de Braga.
Naquela cidade, mais de 20 mil pessoas viram o filme e encontraram semelhanças com a história real. Aliás, poderá muito bem ter sido essa uma das razões que levaram tanta gente a correr para o cinema.
Em Sequeiros, Souto e S. Mateus, a situação foi inversa. Na memória do povo, o drama ainda se mantinha vivo. Foram muitos os que se recusaram a visionar o filme, rejeitando a fábula à volta do que consideravam ser demasiado doloroso. O caso, inédito, do "seu" padre se drogar, apaixonar e assumir uma criança.

Fonte JN

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