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Terceira Diocese de Timor a Caminho
2002-05-28 22:26:55

Está a caminho a criação de uma terceira diocese em Timor-Leste. O padre jesuíta português Luís Rocha e Melo, que esteve no novo país durante um mês, antes da declaração de independência, diz que o núncio apostólico (embaixador) do Vaticano em Jacarta esteve em Timor e um dos objectivos que o lá levou foi a avaliação de condições para que a criação da diocese fosse concretizada.

Com essa nova divisão territorial eclesiástica, os bispos timorenses poderiam também constituir uma conferência episcopal própria.
Apesar de considerar que ainda pode demorar, Rocha e Melo diz que uma nova circunscrição eclesiástica em Timor-Leste é uma medida necessária para que o trabalho da Igreja em Timor se possa desenvolver e enfrentar os novos desafios que tem pela frente: a relação com o animismo e a inevitabilidade do decréscimo do número de católicos, com a consolidação da liberdade, da democracia e do pluralismo político. No caso de ser criada, a nova diocese poderia ser sediada em Maliana, como já se avançou quando foi criada a diocese de Baucau. Situada no centro, perto da fronteira com Timor Ocidental, Maliana ficaria com a metade sul do lado oeste do território.
Como resultado da ocupação indonésia, a Igreja Católica tornou-se, em Timor, um lugar de defesa e de resistência ao ocupante. De tal modo que a população que se afirmava católica passou de menos de um terço da população para mais de 90 por cento de baptizados. Agora, diz o padre jesuíta português, "com o país a desenvolver-se, com televisões, com o acesso a outras culturas, a Igreja vai ressentir-se e deve estar preparada para isso", afirma.

Não será a liberdade o único factor de desmobilização da fé católica. O animismo, que foi subvalorizado durante os anos de ocupação, ressurgirá nas suas expressões populares. A religiosidade dos timorenses expressa-se por "um forte animismo, uma religião naturalista onde se faz o culto de pedras, fontes ou búfalos, por exemplo". Os timorenses "não os adoram, mas é ali que encontram a divindade", explica Luís Rocha e Melo. A simbiose entre o cristianismo e o animismo, que até agora quase não aparecia, tenderá a vir ao de cima.

Nas estruturas, a Igreja Católica sofre, em Timor, do problema do resto do país: muitos dos seus bens foram destruídos no estertor da ocupação indonésia, em Setembro de 1999, depois de anunciados os resultados do referendo. Agora, há boas notícias: o seminário diocesano será reconstruído, com o apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS), a cujo conselho geral preside o padre jesuíta.

Desde 1997, o seminário está a funcionar provisoriamente na casa dos padres idosos, edifício que, apesar de recente, é "impróprio e deficiente para um seminário". Agora, o mais provável é que se adapte esse ou outro prédio que pertença à diocese. A FAIS tem "algum receio em que sejam gastos dois milhões de dólares" - preço que custaria uma nova construção, feita de raiz -, quando a Igreja em Timor tem em sua posse "vários edifícios que podem ser adaptados", explica Paulo Bernardino, presidente do conselho de administração da FAIS.

O seminário de Timor conta neste momento com 16 seminaristas no ano propedêutico, 32 entre o primeiro e o terceiro ano e mais alguns, em Portugal e na Indonésia, nos três últimos anos do curso. O pré-seminário, destinado a jovens do secundário, tem actualmente 80 alunos. "Uma das coisas notáveis", diz o padre Rocha e Melo, "é que o clero e os religiosos são quase todos timorenses".

A outra grande falta da Igreja Católica em Timor são os livros e a formação. "Há muito poucos livros" de áreas como a teologia e a espiritualidade, consequência "de uma Igreja que viveu fechada, embora não por opção própria, durante 25 anos". Em Baucau, por exemplo, "fora da casa do bispo, não há livros". O resultado desta realidade é que o catolicismo timorense "não está actualizado": "Os catecismos que ainda andam na mão de toda a gente são os do Papa Pio X", ou seja, manuais que vêm da primeira metade do século XX. E, apesar de terem sido já feitas algumas reformas litúrgicas, o catolicismo não está actualizado teológica, espiritual ou liturgicamente, e a mentalidade religiosa do povo "é ainda pré-conciliar", de antes do Vaticano II.

Reverso da medalha: "A fantástica Igreja de Timor sempre deu o corpo ao manifesto em horas difíceis." E tem um "papel importante no ensino, nas muitas obras sociais existentes, na preparação cultural e até no facto de muitos membros do Governo terem passado por missões católicas". Também na construção da nova identidade nacional, a Igreja poderá ter um papel importante: até aqui, o tetum quase só existe em materiais religiosos.

Poderá isto dizer que a Igreja, e sobretudo os seus responsáveis, cairão na tentação de influenciar o novo poder político (como o episódio de ontem, com D. Ximenes Belo a pedir a saída do jornalista da Lusa, poderia indiciar - ver pág. 48)? Luís Rocha e Melo acredita que não haverá essa tentação, apesar de "a liberdade que Timor Lorosae alcançou se dever também à actuação de D. Ximenes Belo numa zona de fronteira - entre o domínio político e o social e religioso".

Fonte Público

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