paroquias.org
 

Notícias






Paulina, a santa brasileira
2002-05-25 10:30:38

Com passos decididos a menina Iza Bruna caminhou, sozinha, em direcção ao Papa, na manhã de domingo. Usava um vestido branco, longo, feito pela mãe para aquela primeira comunhão especial. Curvado pelo sofrimento dos últimos meses, João Paulo II estendeu-lhe a hóstia. Durou segundos o momento mais feliz da cerimónia na Praça São Pedro: o Sumo Pontífice estava ali para anunciar que a sua Igreja tinha cinco novos santos. Iza apareceu para comungar pela primeira vez e confirmar que os milagres ainda acontecem.


Iza é o milagre que permitiu ao Brasil ter a primeira santa. A menina nasceu em 1991, no Acre, na Amazónia, com uma enorme deformação no cérebro. Os médicos que a operaram advertiram a família que teria poucas hipóteses de sobreviver. Se conseguisse resistir à cirurgia, ficaria paralítica e cega. Angustiada, a mãe colocou na mão da bebé a foto de uma madre do sul do país, beatificada dias antes. Iza sobreviveu, tornou-se o «segundo milagre» exigido pela Igreja para transformar um beato em santo e Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus fez-se a primeira santa brasileira.

Madre Paulina nasceu em 1865, em terras da Áustria, que cinco anos depois passariam a pertencer à Itália. Recebeu o nome de Amábile Lucia Wisinteiner. Foi menina para o Brasil, com o milhão de imigrantes que chegou naqueles anos. A família estabeleceu-se no interior de Santa Catarina onde, adolescente, descobriu a vocação religiosa. Com menos de 30 anos criou a própria ordem, Irmãzinhas da Imaculada Conceição, para cuidar de crianças e idosos doentes. Começou a fazer milagres pouco depois de morrer, em 1946, após velhice de muito sofrimento.

Dos 35 candidatos a santos do Brasil, 29 receberam o título de Servos de Deus, primeira etapa do processo de santificação; três estão na escala dos Veneráveis; e três tornaram-se Beatos, última etapa para a santidade. A lista inclui, sobretudo, padres e freiras. A mais conhecida é a Irmã Dulce, que cuidou dos pobres da Bahia, e morreu em 1991, aos 77 anos.

O mais antigo dos candidatos é o padre jesuíta espanhol José de Anchieta, que foi para o Brasil no século XVI, e cuja vida é uma sucessão de factos notáveis: conversão de milhares de índios, vida intelectual dedicada à Igreja (escreveu o primeiro dicionário da língua tupi, fundou o teatro brasileiro, deixou uma bela obra). Mas a condição de jesuíta, ordem polémica, travou o processo. Em 1982, tornou-se o primeiro beato da turma, isto é, a Igreja reconheceu-lhe uma cura milagrosa; depois foram beatificados Madre Paulina, em 1991, e Frei Galvão, sacerdote nascido em São Paulo no século XIX, em 1998. Dos três, apenas Madre Paulina conseguiu operar um milagre depois da beatificação.

Mais de 40 mil fiéis reuniram-se em Nova Trento, cidade onde viveu Madre Paulina, para celebrar a santidade. Quase três mil brasileiros estavam na Praça São Pedro, 10 horas locais, na cerimónia de santificação, entre eles Fernando Henrique Cardoso, com uma comitiva de autoridades, na primeira fila. Os adversários do presidente brasileiro, ao vê-lo comungar na missa, celebraram o «terceiro milagre» da santa: até recentemente o chefe de Estado era ateu.

Santa Paulina vai disputar espaço, no coração dos devotos, com santos tradicionais que estão no altar há muito tempo, e são os mais populares do país, como São Jorge, São Judas Tadeu, Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. E com os santos da moda, que vêm e vão ao sabor das crises. Os do momento são Santo Expedito, padroeiro das causas urgentes (mais de 200 milhões de santinhos distribuídos no ano passado); e Nossa Senhora Desatadora dos Nós, que tem atraído multidões à sua igrejinha, na badalada praia de Búzios, e está a ditar moda: milhares de pessoas usam as pulseiras de contas com a sua imagem.

Há quem diga que o santo brasileiro chegou tarde, quando é quase impossível deter o avanço dos evangélicos. Este teria sido o motivo que fez o Vaticano debruçar-se sobre processos de santificação quase esquecidos. Era preciso dar um santo ao maior país católico do mundo, antes que a maioria de seus 120 milhões de fiéis passasse a renegar santos e imagens.


Fonte Expresso

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia