paroquias.org
 

Notícias






Caritas Europa Faz Relatório Duro Sobre Pobreza em Portugal
2002-05-25 09:24:50

A Caritas Europa, organização de acção social da Igreja Católica, quer que os imigrantes tenham direito de asilo e "condições mínimas" de acolhimento nos países europeus, de acordo com as conclusões da Conferência Regional da Caritas Europa, que hoje termina em Sesimbra, com representantes dos 43 países em que a estrutura está implantada.

As conclusões serão apresentadas ao ex-primeiro-ministro belga e actual vice-presidente da Convenção sobre o Futuro da União Europeia, Jean-Luc Dehaene.

Em declarações ao PÚBLICO, Dennis Vienot, presidente da Caritas Europa, diz que a sua organização está empenhada num "compromisso reforçado na luta contra a pobreza e a exclusão social", incluindo nos países que não fazem parte da União Europeia. O tráfico de seres humanos, as pessoas idosas, as famílias monoparentais ou com vários filhos são alguns dos âmbitos em que a Caritas pretende fazer incidir a acção política.

A presença de Dehaene no encerramento da conferência, esta manhã, é vista por Dennis Vienot como "importante", uma vez que permite continuar o debate que, no quadro da Convenção da UE, se está a travar acerca das competências entre os Estados e a União. A política social, para cujo desenvolvimento contribuiu a Cimeira de Lisboa, diz Vienot, é uma das matérias desse debate.

No decorrer da conferência regional, foi apresentado um relatório sobre a pobreza na Europa, que abrange os 43 países em que a Caritas Europa está presente. Sobre Portugal, o documento destaca a situação de grande pobreza em que vive a população com baixo nível de instrução que habita as zonas rurais e os subúrbios das cidades do país. O texto, citado pela Lusa, apresenta Portugal, entre os países mais desenvolvidos, como uma nação que está a passar por um fenómeno de "pobreza rural". Os níveis de vida das pessoas com baixa instrução que vivem nas zonas rurais "são geralmente muito baixos e a maioria vive abaixo do limiar da pobreza", indica o estudo, acrescentando que esta população "tem dificuldades em encontrar outro tipo de trabalho que não esteja relacionado com a agricultura".

O relatório chama a atenção para a situação das cidades portuguesas, com subúrbios degradados, "onde muitas pessoas sem casa vivem em condições muito pobres". As inovações tecnológicas e a reestruturação da economia feita no país foram conseguidas por meio de um baixo nível de benefícios sociais de grande parte da população, afirma o documento, onde também se refere a ausência de protecção social dos imigrantes e refugiados no país.

Portugal surge ainda caracterizado como um país com a esperança de vida nos 75,2 anos, abaixo da média para o seu grupo, e com uma mortalidade infantil acima da média, de cinco mortes por cada mil crianças.

O país detém um outro recorde: Portugal tem a maior percentagem (48 por cento) de "pessoas que sofrem de analfabetização funcional (com idades compreendidas entre os 16 e os 65 anos)". Seguem-se-lhe a Polónia (42,6 por cento), Eslovénia (42,2), a Hungria (33) e a República Checa (15,7).

A iliteracia "é um dos dados mais preocupantes para a integração das novas gerações na sociedade em mudança", comentou à agência Ecclesia o sociólogo Manuel Pimenta, que se tem dedicado ao estudo da pobreza em Portugal. É um "sinal de alerta que obriga a um esforço redobrado ao nível educativo porque há uma nova geração que já está excluída do mercado de trabalho e que ficará duradouramente excluída se não se enfrentar o problema da iliteracia", diz. E o sociólogo acrescenta que não se deve pensar só na iliteracia funcional, mas também na tecnológica. Esta é "ainda mais ampla: diz respeito à incapacidade de participar na sociedade de informação e tirar partido das vantagens que ela pode oferecer". "Quando pensamos em comunidades pobres, este domínio é estratégico para combater a reprodução intergeracional da pobreza".

Fonte Público

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia