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O Saber ao serviço da Justiça e da Paz
2002-05-20 14:33:51

Homilia proferida por S.E.R. Senhor D. José Alves na Missa da Bênção dos Finalistas Torre de Belém, 18 de Maio de 2002

1. A nossa reunião de hoje corresponde à vigésima vez que, em anos consecutivos, os finalistas das escolas superiores de Lisboa se congregam para a cerimónia da bênção, no decorrer de uma celebração eucarística e, desta vez, num espaço emblemático, carregado de simbolismo e emoldurado por monumentos que evocam os sonhos grandiosos, as heróicas aventuras e os feitos gloriosos dos portugueses de outros tempos, que nos precederam na dedicação à ciência, no amor ao solo pátrio e no testemunho da fé. Por onde andaram deixaram marcas indeléveis de fé e de cultura e estabeleceram laços de fraternidade que perduraram e se têm fortalecido ao longo dos tempos.
Onde tantas aventuras tiveram início estais vós hoje a começar a aventura da vossa vida profissional, preparada ao longo de muitos anos de aprendizagem e de experiência acumulada, guiados pelos vossos pais e pelos vossos mestres que agora, com indisfarçável alegria, se unem a vós na hora solene de dar início a uma nova e significativa etapa da vossa vida. Com idêntica alegria, também eu, em nome da Igreja de Lisboa, me sinto unido a vós e vos saúdo com profunda admiração e estima, pedindo a Deus que coroe de êxito as vossas vidas.

2. O fim de um curso é, porventura, o momento mais apto para compreender a importância e significado da cultura e do saber que não podem ser interpretados como fins em si mesmos. Eles são, antes, meios e instrumentos para alcançar outros valores mais altos. E assim o entendestes vós ao escolher como lema desta celebração a frase: “o saber ao serviço da justiça e da paz”. Com ele dais a entender que vos comprometeis a hipotecar a mais valia dos vossos cursos em defesa da justiça e na promoção da paz. Dois pilares fundamentais para a harmonia da sociedade e que tão abalados têm sido nos últimos tempos.
Como insistentemente tem afirmado o Papa João Paulo II, grande paladino da paz, a quem saudamos com profunda veneração, no dia do seu aniversário natalício, “não há paz sem justiça” . E porque a opressão gera revolta, a guerra leva à vingança e a violência produz mais violência, é urgente que a humanidade se decida a enfrentar corajosamente as verdadeiras causas da guerra e a promover com persistência e eficácia a justiça social e distributiva dos recursos materiais e humanos. É ela o alicerce sólido sobre o qual se pode construir o edifício da paz social.
Assim o entendeis vós também. Ao colocardes o conhecimento científico, a aquisição de competências, o aperfeiçoamento pessoal e o crescimento interior, já alcançados, ao serviço da justiça e da paz, vós constituis uma nova esperança para o povo português.
Com efeito, vós fazeis parte da elite social que no futuro próximo poderá contribuir significativamente para a promoção integral da sociedade. Os dons que Deus vos concedeu, acrescidos com os benefícios da ciência, da cultura e da fé que a família e a sociedade vos proporcionaram fizeram de vós homens e mulheres preparados para as lutas da vida.

3. A vida também é luta. Todos estamos conscientes de que vos esperam árduas tarefas. Não vivemos tempos fáceis. Mas confiamos na vossa séria preparação e na vossa determinação generosa, em defesa dos valores da justiça e da paz.
Na sequência das leituras que foram proclamadas, já vemos brilhar em vós a luz fonte, da sabedoria e da fé, capaz de dissipar as trevas que as injustiças da guerra, do terrorismo, da marginalização e da exclusão social lançam na sociedade. De vós, jovens, cheios de projectos e de entusiasmo, esperamos o sabor delicioso da vida que preencha os vazios e dê sentido a cada dia que passa.
Vós sereis luz se praticardes as obras da luz, isto é, as obras da justiça, da paz e da misericórdia, recordadas pelo profeta Isaías na primeira leitura. O mundo precisa da vossa luz: a luz da inteligência e a luz da fé. Se praticardes as obras da luz, a vossa vida brilhará no mundo como uma aurora radiosa.
Vós sereis sal da terra se souberdes colocar a vossa vida ao serviço de causas nobres. Tal como o sal se dissolve nos alimentos para lhes dar sabor, assim também vós conseguireis dar sabor e sentido ao trabalho profissional, à ciência e à cultura na medida em que a vossa vida se gastar ao serviço da humanidade.

4. Nesta hora solene da vossa vida, como Bispo da Igreja Católica, exorto-vos a que guardeis no coração as palavras de Jesus Cristo que escolhestes para dar tom a esta celebração: “vós sois o sal da terra” (Mt. 5,13), “vós sois a luz do mundo” (Mt. 5,14). Palavras ardentes que imprimem um dinamismo optimista a todos quantos as tomam como lema.
É tempo de deixar para trás o pessimismo português dos que viram partir as caravelas. É tempo de assumir a atitude positiva e corajosa dos que enfrentaram o mar. não é com lamentações que se vencem as porcelas. Não é com palavras que se constrói a cidade. O mundo precisa de cidadãos comprometidos e determinados para a acção.
Finalistas, parti com luz na inteligência, amor no coração e fé na alma. É quanto peço para vós ao invocar, dentro em breve, a Bênção de Deus.

† José Francisco Sanches Alves
Bispo Auxiliar de Lisboa


Fonte Ecclesia

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