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Envelhecer pela TV Por ANTÓNIO MARUJO
2002-05-19 08:37:54

A figura pública do actual Papa envelhecido e fragilizado tem várias causas: um atentado sofrido em 1981, várias operações cirúrgicas a que se submeteu, várias voltas à Terra percorridas em milhares de quilómetros de viagens, uma doença de Parkinson que se acentua lentamente. João Paulo II é, pode dizer-se, o primeiro Papa que envelhece publicamente, pela televisão, aos olhos de toda a gente.



Para muitos, Wojtyla já deveria ter abdicado do seu lugar. O Direito Canónico prescreve a resignação dos bispos aos 75 anos, mas não estipula qualquer regra para o Papa. Mas, ao completar 82 anos, João Paulo II afirma a sua persistência ou teimosia, conforme se olhe para o facto, de estar no lugar e conduzir a Igreja até morrer - ou até que as suas capacidades psíquicas o permitam.

Este facto é ambivalente: é natural que um novo Papa traga à Igreja Católica o fôlego renovador de que ela tanto necessita, atravessada por crises de liderança, de responsabilidade e de orientações, sufocada pelo peso de dogmas que o não são, desafiada a regressar à fé das origens e a concentrar-se no essencial, como tentaram apontar, entre 1962 e 1965, as propostas do Concílio Vaticano II.

Seria normal, por isso, que o Papa também abdicasse, uma vez que as suas forças já não são o que eram. Mas a atitude de João Paulo II tem uma virtude. Estamos num tempo e numa sociedade em que a doença, a fragilidade e o envelhecimento são palavras e realidades que se tentam esconder, mesmo se todos as vivamos directa ou indirectamente. Por isso, o que mais impressionará à maior parte das pessoas não será tanto a incapacidade do Papa de responder a alguns desafios urgentes que a liderança católica tem pela frente, mas o facto de ver um líder religioso a envelhecer em directo na televisão, com as mãos tremendo pela doença, movimentando-se com dificuldade ou levado por uma cadeira de rodas.

Esse é o paradoxo - mais um - de João Paulo II, nesta fase descendente da sua vida. Se fosse uma pessoa normal, com 82 anos, sofrendo das doenças e das debilidades de que sofre, Karol Wojtyla seria mais uma pessoa sujeita a tratamentos hospitalares e medicamentosos periódicos, vivendo entre casas de familiares e "centros de dia". É o lugar ocupado por este ancião e a consciência da sua crescente fragilidade que mais remexe connosco. É esse paradoxo que nos deixa perplexos.

Fonte Público

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