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Costa da Caparica Recriou Procissão Secular
2002-05-19 08:28:26

"Gostava tanto de ver os cavalos brancos. Eram lindos. Tenho tanta saudade", recorda Noémia Alves, de 80 anos, uma das pessoas que ainda se lembra de ver passar a procissão "Os círios da Nossa Senhora do Cabo" que até aos anos 50 se realizava anualmente na Costa da Caparica e ontem recriada. Vestida de negro e apoiada por uma muleta, Noémia Alves lamentava o facto dos ouvidos já não serem o que eram. "Eu não ouvi os anjos a cantar. Tenho pena. Mas é tudo igual. É tudo igual", diz convicta.


"Lembro-me muito bem dos cavalos brancos e dos anjos vestidos de branco em cima dos cavalos. Era lindo. Tinha eu 12 ou 13 anos. Foi pena que tenha acabado", lamenta a octogenária. A procissão, cujas origens remontam a 1410, percorria as ruas da Costa da Caparica até ao Cabo Espichel, em Sesimbra, para que os pescadores agradecessem a protecção dada pela Nossa Senhora do Cabo quando iam para o mar. "A procissão acabou quando a actividade piscatória começou a diminuir de importância na Costa da Caparica", explica Domingos Rasteiro, da divisão de serviços culturais da Câmara de Almada, promotora da iniciativa com as escolas da freguesia da Caparica.

Tal como há 50 anos, a procissão saiu da igreja mais antiga da Costa da Caparica para percorrer algumas ruas da vila até à praça da Liberdade. Vestidos a rigor com roupas da época, homens e mulheres encabeçavam a marcha segurando enormes velas. Atrás, seguiam dois anjos vestidos de azul e branco montados em dois cavalos brancos, tal como na procissão original. Os peregrinos seguiram ao ritmo da música tocada por uma banda e acompanhados por umas dezenas de pessoas que, entretanto, se iam juntando. "Olha vão passar pela minha rua", diz uma das pessoas que acompanha a peregrinação. "Está aí a televisão ? Ah, queria tanto aparecer na televisão", lamenta outra.

A recriação tentou reproduzir o mais fielmente a procissão original embora isso nem sempre tenha sido possível. Ao contrário do que acontecia há 50 anos, a procissão desta vez não passou pelo bairro dos pescadores, onde os peregrinos cantavam à porta dos moradores. Também não houve missa à partida da igreja. Porque os tempos são outros, a recriação do final da procissão também foi alterado. Na versão original, os peregrinos, uma vez terminada a marcha pelas ruas da Costa da Caparica, eram divididos em dois grupos. Um deles seguia pela praia até ao Cabo Espichel, normalmente os que tinham promessas a cumprir. O outro grupo seguia por estrada. Uma vez chegados ao Cabo Espichel tinha lugar a cerimónia de louvor e agradecimento à Nossa Senhora do Cabo. Desta vez, a peregrinação ficou-se pela praça da Liberdade em pleno centro da Caparica.

"Esta procissão era um motivo de união da comunidade. O círio representava um problema que afectava toda a comunidade e que podia ser a falta de peixe ou a fome", explica Maria José, uma das professoras que coordenou a recolha histórica da procissão. A procissão não se repetirá nos próximos anos, mas da iniciativa sairá uma publicação com os textos pesquisados para a recriação.

Fonte Público

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