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O Eterno Peregrino Promete Regressar
2002-05-13 15:26:02

Para Adelino Santos Martins, um agricultor de 42 anos da aldeia de Caféde, no concelho de Castelo Branco, a peregrinação deste ano a Fátima podia ser apenas mais uma, mas teve um sabor diferente de todas as outras.

É que este ano completou a promessa de 20 deslocações até ao santuário mariano, um voto que fez em 1978, quando um atropelamento o deixou quase como um destroço humano.

"Eu ia com outras pessoas numa excursão para o Algarve quando se decidiu parar o autocarro na berma da estrada, na Vidigueira, para satisfazer as necessidades de várias pessoas, coisas naturais ao fim de algumas horas de viagem. Assim que o autocarro parou eu saí pela frente e comecei a atravessar a estrada sem atenção, tendo sido atingido logo por um carro. Do atropelamento saí com a perna esquerda partida em dois lados, um braço todo esmagado - e, depois das primeiras observações, pronto para ser cortado - e a cabeça abriu metade para cada lado", conta Adelino Martins, nessa altura um jovem pastor de 18 anos que guardava 400 ovelhas na zona da Senhora de Valverde, perto de Caféde.

"A cabeça ficou de tal modo que a minha irmã, que também ia na excursão, teve de ir buscar uma toalha para a atar. Fui a seguir transportado para o Hospital de Beja, onde recebi uma transfusão de sangue, e daí levaram-me ao fim da tarde para o Hospital de São José, em Lisboa", adianta Adelino Martins, recordando o dia preciso do acidente, "9 de Junho de 1978, dia do Corpo de Deus".

"Nessa mesma noite, no São José, metido entre talas de madeira, ali mesmo prometi a Nossa Senhora de Fátima que iria 20 vezes ao Santuário se ficasse a andar. Fui operado, passei por outros hospitais e a verdade é que 90 dias depois do acidente, logo de manhã, eu estava junto às ovelhas do rebanho para regressar ao trabalho", observa o peregrino, notando que continuou a vida de pastor até aos 25 anos.

Nessa altura, Adelino Martins trocou os ovinos pela electricidade, passando a trabalhar numa empresa do sector, curiosamente na região de Fátima e Leiria. "Trabalhei onze anos nessa empresa, mas, apesar de estar muito perto do santuário, eu ia até à minha aldeia e era de lá que partia, porque a promessa era ir de Caféde até Fátima", esclarece o peregrino veterano, revelando que, entretanto, à sua volta se organizava sempre um grupo de peregrinos nos dias que antecediam o 13 de Maio.

"Nunca são os mesmos, há sempre gente nova nas peregrinações, mas há é sobretudo muita devoção. Eu, involuntariamente, acabo por ser sempre o organizador das idas até à Cova da Iria, o que é normal porque já ganhei muita experiência com estes anos todos", nota o actual agricultor, adiantando que ainda o ano passado o grupo de peregrinos que partiu de Caféde foi de 43 pessoas.

"Houve um ano que partimos doze pessoas, mas quando o grupo chegou à Cova da Iria éramos já 40. O que sucede é que formamos nestes três ou quatro dias de viagem uma verdadeira família e há sempre pequenos grupos que encontramos e que se juntam a nós. A gente, pelo caminho, e quando o terreno é plano, vai rezando. A subir, ninguém reza porque não se tem fôlego para isso", esclarece Adelino Martins.

Viajar com este veterano das peregrinações traz ainda outras vantagens aos viajantes que se chegam ao seu grupo. "De Caféde até Fátima andamos 145 quilómetros, mas é porque eu conheço bem o percurso e sei dos atalhos que podemos fazer, caso contrário, indo sempre pelas estradas principais, teríamos de percorrer mais 50km", revela.

"Quando chegamos ao santuário, muitos choram de alegria por terem conseguido. Quando acaba, fico com uma certa tristeza, porque o convívio de três dias terminou, mas a gente também se sente mais aliviada e com a alma lavada", diz Adelino Martins.

Cumprida a promessa das 20 idas à Cova da Iria, para o ano lá estará. É que, quando a irmã ficou grávida, prometeu que se tudo corresse bem voltaria.

Fonte Público

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