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A Princesa Que Quis Ser Monja
2002-05-12 09:29:28

É uma procissão diferente aquela que, logo à tarde, a partir das 16h00, percorrerá o centro de Aveiro, assinalando os 550 anos do nascimento da princesa Joana.

Filha do rei Afonso V, irmã de D. João II e um dos 34 candidatos portugueses a serem beatificados e/ou canonizados pela Igreja Católica, a Princesa Santa Joana, como é conhecida (apesar de ainda só ter sido beatificada) é a padroeira da cidade. O cortejo litúrgico incluirá recriações da época, com príncipes e princesas, donzelas e pagens, infantes e escudeiros, aias e conselheiros, açafatas e cavaleiros, a par das imagens tradicionais das procissões.

Nascida em 6 de Fevereiro de 1452, filha e irmã de reis, é a sua personalidade determinada que lhe permite tomar hábito no Convento de Jesus, das monjas dominicanas, em Aveiro. Um retrato patente no Museu de Aveiro (o antigo Convento de Jesus onde a princesa viveu), ontem reproduzido no PÚBLICO, mostra-nos um rosto altivo, com cabelos "castanho-dourados, fortemente arruivados, que lhe desciam em abundantes ondas sobre o busto", com "olhos verdes, tez rosada" e "uma elegância aristocrática nas mãos, no pescoço e na boca", como descreve o padre e historiador João Gonçalves Gaspar ("A Princesa Santa Joana e a sua Época 1452-1490", ed. Câmara Municipal de Aveiro, 1981).

Terá sido este rosto e a sua posição que leva vários príncipes estrangeiros a propor-lhe casamento: Luís XI, de França, pede-lhe a mão para o seu irmão Carlos, duque de Orleães; Frederico IV da Alemanha quer que ela case com o filho, Maximiliano da Áustria. Inicialmente, o pai prefere ceder às razões da Coroa. Mas Joana, que fica a reger o reino enquanto Afonso V faz uma expedição a África em 1471, convence o pai de que o destino por si preferido é outro. Em plena recepção de boas-vindas ao pai e ao príncipe que virá a ser D. João II, e na presença de muitos membros da Corte, a infanta Joana pede a Afonso V que a deixe professar na vida religiosa.

Os conselheiros do rei ainda lhe destinam o Mosteiro de Odivelas e, depois, o Convento de Santa Clara, em Coimbra. Mas a princesa quer mesmo é chegar a Aveiro, nessa época uma pequena vila pouco importante, terra que a Corte considera como "rodeada de pântanos, lugar de desterro e não morada de príncipes", na expressão de João Gaspar.

Joana insiste. Descreve ainda o seu biógrafo, que destaca a liberdade do seu carácter: "Nem o irmão D. João II, nem a Corte, nem o bispo de Évora, nem os procuradores das cidades e das vilas, nem as ameaças, nem as perspectivas de casamentos reais, nada nem ninguém conseguiu retirá-la do Mosteiro."

Em 25 de Janeiro de 1475, com 23 anos, a princesa toma o hábito de noviça no mosteiro, onde entrara em Julho de 1472. Rapidamente se torna conhecida por ajudar os mais desfavorecidos, os doentes, os desvalidos da sorte. Também a defesa dos interesses das gentes de Aveiro faz parte dos seus interesses. Por várias vezes, após a morte do pai, D. João II, já rei, volta a insistir com a irmã para deixar a vida religiosa e casar com um príncipe estrangeiro. Joana resiste à ideia.

No final de Dezembro de 1489 adoece gravemente e morre em 12 de Maio seguinte. Conta o "Memorial da Infanta Dona Joana", escrito por uma freira do convento, que, ao passar o féretro com o seu corpo no meio do pomar que ela própria cultivara, as árvores, "como que chorando, deixavam cair folhas e pétalas que juncavam o chão e cobriam o ataúde".

Fonte Público

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