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Açores celebram Santo Cristo
2002-05-04 10:04:21

As festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que hoje começam oficialmente em Ponta Delgada - embora tenham sido ensombradas por notícias de alegado roubo, já desmentido pelas autoridades, das capas que cobrem a imagem no dia da procissão -, estão marcadas, este ano, pelo simbolismo da presença de D. José Saraiva Martins e pelo impulso que poderá dar ao processo de beatificação de Madre Teresa da Anunciada.


O arcebispo português preside à Congregação dos Santos, em Roma, e é tido como um homem influente na decisão dos processos de beatificação. No caso açoriano, o processo iniciou-se na década de 90, aguardando há alguns anos uma decisão do Vaticano. Para o reitor do Santuário do Santo Cristo, Monsenhor Agostinho Tavares, a presença do cardeal é "uma oportunidade" para a concretização deste processo.

Natural da Ribeira Grande, S. Miguel, Teresa de Jesus, nome de baptismo que recebeu, entrou para o Convento da Esperança em 1681, sendo a grande responsável pelo culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, depois de ter recebido um "apelo especial para honrar e desagravar o Senhor da sua flagelação, representado na imagem do Ecce Homo".

Trata-se de uma escultura única, com uma luminosidade e androgenia perturbadoras. Não se lhe conhece autor, época, origem ou história, a não ser que foi descoberta pela irmã Teresa da Anunciada, quando procurava velharias na Capela da Senhora da Paz, em Vila Franca do Campo. Quando chegou ao convento era uma imagem pobre, com uma capa remendada, bastão de madeira e coroa de pano. Hoje, as capas do Senhor e o seu tesouro são de valor incalculável.

Anualmente, os açorianos, sobretudo os emigrantes radicados nos EUA e Canadá, oferecem bens ao Santo Cristo em troca de graças obtidas. Este ano são inúmeros os emigrantes que chegaram à maior ilha do arquipélago para honrar, mais uma vez, estas festas, as maiores dos Açores. A SATA teve mesmo de realizar voos extraordinários entre Boston, Toronto e Ponta Delgada, para satisfazer as necessidades dos emigrantes que, ao longo da semana, foram chegando a S. Miguel. Entre os visitantes estão, igualmente, muitos continentais que, "cada vez mais, aderem a estas festividades", diz um agente de viagens.

Quando o sol raiar a partir de hoje, os primeiros peregrinos já estarão no Campo de S. Francisco, mas a principal enchente registar-se-á à tarde, quando se proceder à mudança da imagem para a Igreja de S. José, onde ficará durante toda a noite em vigília.

Amanhã, a imagem sairá para a missa campal, voltando à rua para a procissão solene, que tem sempre o mesmo giro, passando por todas as igrejas e conventos de Ponta Delgada, num percurso que demora cerca de cinco horas. Os foguetes, o intenso aroma a incenso e os enormes tapetes de flores que enfeitam as ruas da cidade anunciam a passagem do andor carregado de rosas vermelhas, de onde o Senhor, com as vestes bordadas a ouro e o brilho de anéis e cordões, carpindo as suas chagas, vai espalhando um olhar piedoso. Depois da procissão, a imagem do Ecce Homo recolherá ao convento, de onde apenas sairá no próximo ano.

Culto continua a extravasar fronteiras

A devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres é de tal maneira forte entre a comunidade açoriana que, onde quer que haja emigrantes do arquipélago, regista-se um espaço dedicado a este culto. Este ano, por exemplo, o Dia dos Açores, a assinalar no próximo dia 20, será celebrado em Toronto, no Canadá, e integrado nas celebrações do Santo Cristo dos Milagres da Paróquia de Santa Maria.

A festa repete-se desde que existe uma comunidade organizada na cidade canadiana. Também na Califórnia, nos Estados Unidos, é assinalado o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Mas existem mais exemplos presentes no outro lado do Atlântico: a imagem do Ecce Homo de Florianópolis, que sai à rua em peregrinação no dia de Pentecostes, é idêntica à existente na cidade de Ponta Delgada. Reza a história que essa imagem terá sido levada dos Açores para Santa Catarina, quando do processo de colonização desta região do Brasil por 60 casais oriundos do arquipélago açoriano.


Fonte DN

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