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Dia Mundial do Livro: edição em debate no Patriarcado
2002-04-23 18:26:16

Por iniciativa do cardeal-patriarca, ontem, no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa, escritores e editores debateram a situação do livro e da edição em Portugal.

O pretexto para este encontro na sede do patriarcado era a comemoração do Dia Mundial do Livro, que hoje se assinala. E, tal como referiu Francisco Lyon de Castro, aconteceu o que parecia inconcebível: ser a hierarquia da Igreja Católica a promover uma iniciativa deste tipo.

Abrindo o encontro, D. José Policarpo sublinhou o papel do livro como "estruturante da cultura", "buscando a perenidade da palavra", e "essencial em todas as dimensões do pensamento, incluindo a religiosa".

Três dezenas de escritores e editores participaram neste debate, que se concentrou em dois temas básicos: "O que se escreve e o que se lê" e "O que se edita e como se divulga". Zita Seabra (Bertrand) introduziu o primeiro tema, lembrando que hoje os livros resistem a uma "enorme concorrência" e até mesmo "às políticas educativas que frequentemente se esquecem deles" e a "programas escolares modernos que, para não incomodar muito os jovens estudantes, lhes simplificam essa maçada de ler livros inteiros". Mas o livro não só resiste como se "lê mais, edita-se mais e escreve-se mais", embora "muito menos do que nos outros países europeus". Há mais livrarias, supermercados e hipermercados que vendem livros em todo o País, e o negócio livreiro internacionalizou-se, o que também aconteceu com vários escritores portugueses. Quanto à chamada literatura light, Zita Seabra considerou normal que haja em Portugal um "público médio de best-sellers, tal como em todos os países desenvolvidos". Mas "edita-se de mais e lê-se de menos". Terminou propondo a criação de hábitos de leitura nos jovens, feita pelos pais e professores e completando a rede de bibliotecas escolares.

Alexandre Manuel (Notícias) focou o crescimento anual de novos títulos, um pouco superior a 10%, o volume de vendas com um crescimento anual inferior a 3%, e que, "tomando por base uma muito baixa média de mil exemplares por edição seria necessário que cada português entre os 15 e os 65 anos adquirisse o mínimo de cinco exemplares por ano para que se esgotasse a quase totalidade da produção". Mas também realçou a qualidade da produção actual, que "continua a não encontrar "espaço" nos media". Sublinhou ainda que as cadeias de supermercados representam mais de 40% das vendas, com a diminuição das margens médias de comercialização e os reflexos nos fundos dos catálogos. Terminou falando das livrarias, dizendo ser necessário recuperar a tradição da carreira de livreiro, promover a sua formação, cobrir melhor o espaço nacional e adaptar os horários às necessidades do consumidor. Quanto à distribuição, a solução passa pela concentração.

No debate, Fernando Guedes (Verbo) falou da extrema fragilidade da indústria editorial portuguesa, das graves insuficiências da nossa rede livreira e de como é barato, para os grupos internacionais, tomar conta de uma parte significativa da nossa edição; Osório de Castro (Elo) aludiu à falta de crítica literária nos jornais; Nelson de Matos (Dom Quixote) sublinhou que a ligação aos grupos internacionais não é necessariamente perda de autonomia; Nuno Júdice realçou que a escrita da geração de 90 nasceu da dimensão oral, a Internet alterou a relação com o texto, mas que se conquistou uma classe média para o consumo do livro; Rita Ferro referiu que na literatura light, como na consagrada, há bom e mau ("como seriam os índices de leitura sem os chamados autores de sucesso?"); para Alice Vieira, as novas tecnologias não matam o livro porque este mantém a relação afectiva com o leitor e só podemos cativar o leitor pela qualidade do texto, sem "facilitismo"; para Carlos Veiga Ferreira (Teorema) a edição em Portugal atravessa um momento favorável e a literatura light tem "um efeito desvastador" se não for acompanhada por outra; João Alvim (C. Leitores) afirmou que o nosso mercado é muito pequeno mas vai crescer, ainda que leve tempo; Zeferino Coelho (Caminho) focou as condicionantes exteriores ao livro (país e mercado pequenos, livro caro) e que não encontrámos meios de fazer uma eficaz difusão no Brasil e em África; para Fernando Pinto do Amaral e Guilherme Valente (Gradiva), há um clima de liberdade individual que origina diversidade de autores e leitores; Helena Marques evocou a crítica de Gaspar Simões e o direito de recusar o livro que não nos interessa; José Luís Porfírio realçou o papel fundamental dos livreiros, mais do que o da crítica; e Vieira da Cruz pediu mais crítica literária, mesmo discordante. O cardeal-patriarca encerrou o debate afirmando que nos faz falta a leitura como caminho para a paz.

Fonte DN

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