paroquias.org
 

Notícias






Peregrinos no Caminho de Um Santo
2002-07-03 23:01:39

"Tudo começou com uma história de amor", confessa Ricardo, enquanto beberrica um chá na sala de convívio do albergue para peregrinos em Redondela, na Galiza, depois de já ter percorrido a pé metade dos duzentos quilómetros do famoso Caminho de Santiago.

Com um sorriso de criança, que esconde 45 anos de vida, conta sem pudor como tomou a decisão de fazer todo o percurso português até Santiago de Compostela, de mochila às costas e cajado em punho, "à procura de um fim para uma paixão e de soluções para uma crise num casamento de duas décadas".


Como tantos outros milhares de peregrinos que todos os anos fazem o Caminho de Santiago em busca de algo, Ricardo também vem "na tentativa de se encontrar" naquele que foi o último percurso de um dos antigos apóstolos de Jesus Cristo. Isto, apesar de levar consigo um livro de Dalai-Lama e de se assumir como "pouco católico". A caminhar desde a cidade do Porto, Ricardo, de olhar brilhante, garante que não irá desistir, embora a mochila pese muito, os trilhos sejam, por vezes, muito difíceis, os quilómetros largos e as bolhas nos pés e as dores musculares mais que muitas. "Um sacrifício que, no fundo, é feito em prol da descoberta de mim próprio", confidencia.

Um objectivo que também levou Sofia, jovem estudante de Direito, a seguir os passos de São Tiago até à cidade de Compostela. "À procura de tempo para reflexão e de um encontro com Deus", não hesitou em se fazer à estrada, para palmilhar um caminho que compara à vida.

"Conhecermo-nos a nós próprios e aos outros"
"Fazer uma peregrinação até Santiago de Compostela é mais ou menos como fazer um percurso da nossa vida, tem altos e baixos, momentos bons e momentos difíceis, sacrifícios e conquistas", explica. "É uma boa oportunidade para melhor nos conhecermos a nós próprios e aos outros."

"Uma boa oportunidade" que surge no meio de muitas dezenas de quilómetros, com mais subidas do que descidas, com mais pedras e lama do que estrada. Por entre caminhos de terra perdidos em matas e riachos, seguindo a rota indicada por azulejos azuis com vieiras amarelas. Entretanto, vai-se pernoitando em albergues destinados a peregrinos, dormindo em beliches e tomando banho de água fria, jantando massa com salsichas e arroz com atum. No fim, há quem reze e há que se abstenha, como Raquel, de 19 anos, corpo franzino e olhar tímido. A coxear, depois de treze horas a percorrer quarenta quilómetros, ainda consegue esboçar um sorriso quando fala do que a trouxe até ao caminho português de Santiago.

"Não sou católica, mas já há algum tempo que pensava fazer esta peregrinação pela parte cultural e mística que ela tem; além disso, é um desafio a nós próprios e uma pausa para pensar e reflectir sobre as coisas que nos preocupam", explica.

Três dias depois, Ricardo, Sofia, Raquel e muitos outros peregrinos encontram-se juntos à chegada à catedral de Santiago de Compostela, num misto de muito cansaço e tanta alegria. Esquecidos dos pés feridos, das tendinites, da fraqueza e da forte chuvada, abraçam-se entre lágrimas, muitos sorrisos e algumas promessas. A uma só voz, confessam, emocionados, que "vale a pena" e que é "uma experiência realmente única". E se é verdade que muitos não descobrem nem Deus nem as respostas que procuravam, "também é certo que é impossível voltar para casa igual a como se partiu".

Fonte Público

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia