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Bispo do Funchal reconhece práticas pedófilas
2002-04-11 21:33:03

D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal, reconheceu, passados nove anos sobre o julgamento do padre Frederico Cunha, que o seu ex-secretário particular cometeu actos de pedofilia na Madeira.


Se esperava absolvição, enganou-se. As reacções são negativas, principalmente do clero local, farto de uma história que abalou as estruturas da Igreja, agora reacendida pela confissão de D. Teodoro ao Diário de Notícias do Funchal.

Todos se lembram que, em 1992, o chefe da Igreja madeirense comparou Frederico Cunha a Jesus Cristo e, mais tarde, aquando da sua fuga para o Brasil, manteve a versão de inocência. Agora, parece tarde para perdoar. O mal-estar encontra-se bem retratado nas "Pedras Vivas" do jornal da Madeira, num artigo assinado pelo coordenador do suplemento religioso, nomeado pela diocese, padre José Luís Rodrigues.

No texto, para além de defender a resignação do Papa, o fim de celibato e o acesso das mulheres ao sacerdócio, diz não compreender "porque se esperou tantos anos para reconhecer essas falhas graves contra menores. A prudência é das qualidades mais apreciadas na Igreja Católica, mas, por vezes, os tiros no pé são de bradar aos céus. Santa inocência que paira por aí. Ou então somos todos um bando de brutos que se contentam com todo o tipo de despautérios que alguns se vêem autorizados a proclamar", numa referência às declarações do bispo do Funchal.

Do Brasil, Frederico Cunha e a mãe afirmam por telefone que estão "chocados" com as palavras de D. Teodoro, uma vez que este seria a última pessoa de quem esperavam semelhante atitude, reiterando a ideia de que "é tudo mentira". Ou seja, fica-nos sempre a dúvida se faltam capítulos a esta novela.

Foram os anos 90 que escancararam uma parte sombria da realidade madeirense, escondida no silêncio das muitas quatro paredes de hotéis e sacristias. O poder político não gostou da mediatização negativa da Madeira e choveram os processos por abuso de liberdade de imprensa. Mas as investigações judiciais confirmaram os factos reportados.

Some-se as velhas denúncias do Movimento do Apostolado da Criança (MAC) sobre a prostituição infantil das crianças de rua e a premonição da realizadora Solveig Nordlund, que, em 1992, no Funchal, rodou o contestado filme Até amanhã, Mário sobre os dias dos "meninos das caixinhas", a mendicidade e o turismo sexual com crianças.

A Madeira cruza-se, em 1992, com o caso "Waalre", que levaria, mais tarde, ao circuito gay, belga e holandês, onde eram vendidos os vídeos produzidos na Madeira. Enquanto decorriam as investigações, outros casos iam acontecendo. Em Maio de 1992, um homem era preso no Bairro da Nazaré, Funchal, por violar um menor de sete anos. Dias depois, outra vítima de cinco anos dava entrada no hospital com igual suspeita. A 26 desse mês, era detido o padre Frederico Cunha, condenado, em 1993, pelo homicídio do jovem Luís Miguel nas falésias do Caniçal e práticas de pedofilia com jovens do sexo masculino.

Em 1994, um outro indivíduo é detido por aliciamento a menores e outro é apanhado em práticas homossexuais com dois rapazes em plena Avenida do Mar.

Até finais de 1995, registam-se mais de uma dezena de casos e algumas condenações.

Em 1996, a saga continua e são instaurados 25 processos crimes. A 24 Janeiro de 1997, uma reportagem da RTP coloca a Madeira como um dos tentáculos da rede internacional de pedofilia e denuncia a existência de filmes de pornografia infantil com dez crianças da região. Em 1998, entra no Estabelecimento Prisional do Funchal o empresário da zona franca Bart de Rood, que, entretanto, consegue fugir.

No ano passado, um homem de 35 anos, natural do Porto Moniz, foi condenado pelo Tribunal de São Vicente a uma pena de dois anos e seis meses de prisão com pena suspensa por quatro anos por três crimes de abuso sexual, na forma tentada, e um crime de actos homossexuais com adolescentes. Em Março, o tribunal condenou uma mãe, que se prostituía e submetia também a filha de oito anos a práticas de abuso sexual por parte de um septuagenário, em troca de dinheiro. Os dois foram ontem condenados a penas de quatro e três anos e meio prisão, respectivamente. Foi considerado contumaz um treinador madeirense de basquetebol, de 31 anos, acusado de abuso sexual de crianças, agravado, violação agravada e tentada, e coacção grave, todos na forma continuada, relativos a 1999. Actualmente, encontra-se em parte incerta, admitindo-se que possa estar na Venezuela. Em Novembro, um sacristão foi condenado a oito anos de prisão por crimes sexuais contra menores.

Já em 2002, um indivíduo de 32 anos foi identificado pela PJ como presumível suspeito de abuso sexual de cinco menores. De acordo com a PJ, o alegado violador assediava as crianças junto da escola ou no caminho para a escola, oferecendo-lhes dinheiro e prometendo-lhes brinquedos.

Fonte DN

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