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PADRE PEDREIRO CELEBRA MISSA NAS HORAS VAGAS
2002-04-08 19:24:41

São oito da manhã e ouvem-se as três últimas badaladas a anunciar o início da missa dominical. Numa manhã anormalmente fria para um dia de Abril, com os termómetros a registarem um grau negativo, os paroquianos de Lamas de Ferreira de Aves, no concelho do Sátão, vão paulatinamente compondo a igreja, preparam- -se para assistir a uma cerimónia que tem a particularidade de ser co-celebrada por um padre ucraniano da Igreja Greco-Católica - que durante a semana é pedreiro numa empresa de construção civil de Viseu, e, aos sábados e domingos, exerce a actividade sacerdotal naquela paróquia.

O padre Yvan Babatchuc, de 43 anos, está em Portugal desde Janeiro último, pouco ou nada fala português e 'fugiu', como milhares de conterrâneos, das precárias condições de vida que a sua terra natal lhe oferecia. Estabeleceu-se na zona do Sátão e consigo tem um documento que autentica a sua actividade de padre. Na Ucrânia deixou mulher e dois filhos, um pormenor que de início intrigou os populares da freguesia, mais tarde esclarecido: na Igreja Greco-Católica é permitido um homem casado ordenar-se padre mas, ao invés, é proibido um padre casar-se. De acordo com o que o CM apurou, a Secretariado Diocesano das Migrações tomou, há pouco tempo, conhecimento de que havia um padre ucraniano a trabalhar nas obras, a abrir valados e a fazer massa por 'meia dúzia' de euros. Conhece-o e, posteriormente, apresentou-o ao bispo de Viseu. Depois de se certificar da permissão canónica, D. António Monteiro deu-lhe autorização para exercer sacerdócio na paróquia de Lamas. Se tudo correr bem, daqui a pouco tempo e quando souber português, Yvan talvez fique capelão da comunidade ucraniana de Viseu. O CM assistiu ontem à missa celebrada pelo pároco de Lamas, Nuno Amador, e co-celebrada pelo padre Yvan, uma cerimónia presenciada por cerca de três centenas de pessoas, entre elas duas dezenas de cidadãos ucranianos. Yvan acompanhou a celebração com um livro escrito no seu idioma, rezou, cantou e deu a comunhão. Por aquilo que o CM pode apurar, as pessoas estão extremamente satisfeitas com a comunidade de ucranianos, em especial com o padre Yvan Babatchuc, tratando-o com muito carinho e ajudando-o naquilo que for preciso. Mulher e filhos O padre Nuno Amador explicou ao CM como se chegou a esta situação: "Foi uma coisa inesperada. Tomei conhecimento que havia um padre que andava a trabalhar nas obras e um dia apareceu-me aqui, conversámos e depois apresentei o caso ao Secretariado Diocesano das Migrações. Da minha parte pus a igreja à sua disposição e da comunidade ucraniana e isto é mais um sinal da universalidade da Igreja Católica. Há vários rituais e ele pertence ao ritual greco-católico. É um ritual diferente mas muito semelhante ao nosso. Ele às vezes celebra só para os ucranianos, mas todos os domingos co-celebra comigo", disse o prelado. Como o padre Yvan Babatchuc ainda não fala português, embora pretenda "aprender o mais rapidamente possível", servimo-nos de Muron, um ucraniano que está no nosso país há mais de um ano, como intérprete. Yvan Babatchuc disse ao CM que veio para Portugal "para fugir da miséria existente na Ucrânia e disposto a trabalhar em qualquer lugar e fazer o que for necessário”. “Estou aqui há três e sempre fui muito bem tratado pelos portugueses. Falei com responsáveis da Igreja e apresentei a minha situação e eles foram muito simpáticos e disponibilizaram-se a ajudar- -me. E assim foi: trabalho durante a semana nas obras, no duro, a fazer massa e partir pedra e aos sábados e domingos exerço a minha actividade de sacerdote. Agora só falta trazer a minha família para aqui. Tenho mulher e dois filhos que aguardam o processo de ligação para se juntarem a mim nesta terra maravilhosa que é Portugal".

Fonte CM

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