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O Santo Mais Citado pela Cultura Portuguesa
2000-11-15 23:56:58

Santo Agostinho é o santo mais citado na literatura portuguesa e um dos que mais influenciam autores e épocas marcantes da cultura. A conclusão, do padre João Marques, abriu ontem o segundo dia de trabalhos do congresso internacional "As Confissões de Santo Agostinho 1600 anos depois: presença e actualidade". E, nesse aspecto, dizia o professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, "Portugal não foge à regra, entre os países do Ocidente europeu. Onde menos se espera, uma referência surge".

Na sua intervenção durante o congresso, que decorre em Lisboa até amanhã, João Marques citou inúmeros autores desde a época medieval até ao século XX. Há referências às obras de Santo Agostinho nos textos e sermões de Santo António, há indícios de que as "Confissões" seriam um livro conhecido na corte no tempo de D. Duarte. Gil Vicente "faz debitar ditos de Santo Agostinho" no "Auto de Mofina Mendes" e chega a colocá-lo em cena no "Auto da Alma".

O padre António Vieira, que definia Agostinho como "o maior santo entre os doutores e o maior doutor entre os santos", faz-lhe também muitas referências. E, já neste século que termina, Teixeira de Pascoaes escreve o seu "Santo Agostinho", "um livro desconcertante". Ou, como referiu Arnaldo de Pinho, da Universidade Católica, numa outra comunicação lida no congresso, "uma obra estranha e rara".

João Marques referiu muitos outros nomes que, ao longo da história da cultura e da literatura, citaram as "Confissões" ou, pelo menos, revelaram conhecimento do pensamento e das principais obras do bispo de Hipona, que viveu entre 354 e 430: frei Heitor Pinto, Francisco Manuel de Melo ou o pintor Bento Coelho da Silveira, que, em 1706, assina duas telas do antigo Convento do Grilo, em Lisboa, cuja fonte inspiradora é as "Confissões".

Na arte dos sermões setecentistas, a influência de Agostinho também é notória, nota João Marques. O padre António Vieira cita e usa o autor das "Confissões", obra que considera "o livro mais humano e maravilhoso que [Agostinho] compôs, bem digno de constituir a coroa de todos" os que da sua pena saíram.

O caso de Pascoaes é, porventura, o mais interessante. "Nenhum capítulo é particularmente dedicado à análise das 'Confissões', como objecto específico", mas, pergunta João Marques, "não será o 'Santo Agostinho' de Pascoaes uma paráfrase subjectivada das 'Confissões'?" Pascoaes, que publicou o seu livro em 1945 (há uma edição recente da Assírio & Alvim), refere-se deste modo ao autor da "Cidade de Deus": "Santo Agostinho foi um drama erótico, uma luta entre a sensualidade e a espiritualidade, entre um moço e um velho, em cada um de nós, desde o berço ao túmulo". E, sobre as "Confissões", diz Pascoaes: "É um livro fictício até às fábulas do Velho Testamento, e verdadeiro até à revelação do mais enigmático do nosso ser".

Fonte Público

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