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Crises da Fé
2002-04-05 20:00:19

O projecto “A Fé dos Homens” passa, necessariamente, pelo Programa Ecclesia. As muitas horas de televisão já produzidas demonstram, mais do que qualquer juízo, o género de programação levada a cabo desde o dia 15 de Setembro de 1997 (quando tudo começou na emissão da RTP2), assim como as formas e os formatos de apresentação dos diferentes conteúdos.


Com o Programa Ecclesia estão muitos outros programas, tantos quantas as confissões religiosas que fazem parte deste Tempo de Emissão na RTP2. E é nesse facto que reside a primeira grande aposta ganha pelo projecto “A Fé dos Homens”: constituiu-se um autêntico fórum de ideias, um verdadeiro areópago dos tempos de hoje que diz e mostra uma dimensão da vida de todos os portugueses: a religiosa.
Circunscrevendo-me ao Programa Ecclesia, porque profissionalmente nele implicado, deixo algumas considerações sobre este projecto, mesmo correndo o risco de ser juiz em causa própria. Antes de tudo para afirmar a grande estabilidade do projecto. Em cada semana, a produção e emissão do programa foi, desde o primeiro dia, marcada por um cumprimento rigoroso dos limites estabelecidos. A partir do primeiro ano de emissão, quando a equipa se constituiu e se procuraram espaços para a presença da linguagem televisiva na vida eclesial (desde há muito reclamada por vozes internas e externas às igrejas por aí se jogar a vida das mulheres e dos homens de hoje), a ambição foi crescente. Os programas propostos alargaram-se a cada vez mais diferenciados locais para abranger todas as expressões de vida da Igreja Católica. O propósito de chegar a todos grupos, a todas minorias continua, hoje, a marcar a edição e produção de cada Programa Ecclesia. Com isto, queremos “ser vez e voz” dos que nunca a tiveram nessas antenas de comunicação social pelo contacto directo com o pulsar da vida eclesial em Portugal e no mundo (será oportuno dizer que, neste momento, escrevo a partir de Nampula, em Moçambique. Com um repórter de imagem, estamos a registar a dinâmica missionária, nomeadamente dos combonianos, para mostrar dentro de dias, a vida dos povos que se ligam aos portugueses por um passado feito também de fé católica. Isso já aconteceu em relação a S. Tomé e Príncipe e, como estes casos, muitos outros podem surgir no âmbito da cooperação com os países de expressão portuguesa. Basta que essa possibilidade continue).
Por outro lado, a apresentação explícita dos conteúdos da fé católica marcou o início do Ecclesia. Por sugestão dos próprios telespectadores – que desde o primeiro ano fazem chegar as suas opiniões e sugestões ao programa – alargamos essa vertente formativa, apresentando os conteúdos bíblicos, a tradição e a História da Igreja com profundidade, a partir das potencialidades que a linguagem televisiva proporciona.
O que se vê em cada semana esconde muito trabalho de bastidores e de negociações de diferente ordem. Travam-se, nesse contexto, diferentes batalhas, mas sempre com o firme propósito de fazer o melhor programa, de conseguir os melhores e mais diversificados conteúdos e de os apresentar o melhor possível na televisão. E de outra forma não poderia ser: a experiência de qualquer trabalho e de qualquer projecto diz que, depois de definido, exige luta para ser bem conseguido.
Problema maior é quando o projecto está em causa. Aí não há luta que o salve. Os anos passados já o ditaram: quando, por intervenção ou por omissão, as diferentes partes que se relacionam com este vasto projecto o puseram em causa, ele ressentiu-se de uma forma ou de outra. Actualmente, passamos mais uma dessas fases (e esperemos não mais do que isso). Alguns acontecimentos e as próprias premissas que o sustentam são preocupantes.
Recordo um facto: a não emissão d’A Fé dos Homens” no dia que antecedeu o encontro de Assis entre todas as religiões, proposto pelo Papa João Paulo II na sequência dos atentados do dia 11 de Setembro. As vozes em todo o mundo confluíam para espaços de diálogo, de encontro de soluções para as sociedades e para a comunidade internacional... e um espaço onde já aconteciam esses desideratos foi abatido.
Por outro lado, tem que se recordar que o problema em causa é o da viabilidade económica do projecto. Sem entrar em problemas de gestão dos recursos económicos (porque falsos, uma vez que em causa estará, segundo os especialistas, a distribuição dos recursos económicos junto dos destinatários para quem foram atribuídos), anoto a não inocência do problema, uma vez que não é apresentado por quem tem responsabilidades de gestão. À falsidade do problema acresce o facto de ser apresentado num contexto e num tempo de transição e contra todos os que tutelam o espaço público de televisão.
Diante dos factos presentes e da memória do programa, os diálogos entre os que estamos envolvidos neste projecto percorrem estas linhas. Da história do Ecclesia faz parte também o percurso de profissional e pessoal de algumas pessoas que estão envolvidas em lutas por um produto televisivo cada vez melhor. É essa luta que queremos continuar... a não ser que se acabe com a guerra.

Paulo Rocha
Editor Executivo Programa Ecclesia

Fonte Ecclesia

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