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Teólogos temem «vazio de poder» em Roma
2002-03-29 12:52:01

TEÓLOGOS portugueses temem que a frágil saúde do Papa provoque um vazio de poder no Vaticano. «Caso João Paulo II fique mentalmente incapacitado, o colégio dos cardeais deverá decidir-se pela escolha de um outro Papa», afirma Alfredo Leite Soares, especialista em Direito Canónico.

Seria uma situação inédita no governo da Igreja Católica: a eleição de um Papa enquanto o seu antecessor ainda está vivo.

O canonista fundamenta-se no artigo 333 do Código de Direito Canónico (CDC). Este determina que «no desempenho do seu múnus de pastor supremo da Igreja», o Sumo Pontífice «está sempre unido em comunhão com os outros bispos e mesmo com toda a Igreja». O mesmo é dizer que sem lucidez mental nenhum Papa está em comunhão com os seus fiéis. Recorde-se que o CDC apenas prevê uma única possibilidade de renúncia papal: que ela seja «feita livremente». O que não aconteceria neste caso.

A possibilidade do afastamento de Karol Wojtyla ocupou a primeira linha da informação em todo o mundo depois de no passado domingo - o Domingo de Ramos, um dos mais importantes acontecimentos litúrgicos católicos -, o Papa não ter presidido à cerimónia, surgindo visivelmente debilitado perante os 40 mil fiéis presentes na Praça de S. Pedro.

Mas logo o Vaticano se apressou a esclarecer que foram as dores provocadas por uma artrite no joelho direito que impediram João Paulo II de executar alguns actos. A verdade, porém, é que o Papa também sofre de Alzheimer, situação já reconhecida oficialmente.

É para que se evitem situações como esta que o teólogo Anselmo Borges chama a atenção. «O papado não pode continuar a ser exercido como um cargo vitalício. Nada deverá impedir que um Papa seja obrigado a viver de forma dramática o serviço para o qual foi escolhido», diz. «A situação deveria estar resolvida, como acontece em qualquer democracia», acrescenta.

Sacrifício injusto

Defendendo igualmente que o colégio de cardeais deverá proceder à eleição de outro Papa, caso se verifique a impossibilidade mental de João Paulo II, o canonista Virgílio Neves aponta a revisão do CDC como «uma das mais urgentes medidas do próximo Papa, de modo a conferir uma maior colegialidade à governação da Igreja».

Virgílio Neves sugere mesmo que o colégio cardinalício (entre cujos os membros é escolhido o Papa) deveria ter «uma maior intervenção na gestão de assuntos que hoje são apenas de decisão papal». Uma situação que levaria a uma maior flexibilidade governativa em casos graves, como o que rodeia Karol Woityla.

Ante a possibilidade de João Paulo II estar hoje presente na cerimónia da Via-Sacra, o canonista Alfredo Soares lamenta que «o aparelho do Vaticano continue a obrigar o Papa a estar presente em cerimónias públicas».

Aceitando que o Papa ainda tenha vontade de estar presente nas cerimónias, o padre Alfredo Soares considera «injusto o sacrifício que estão a exigir ao Papa, em nome das emoções que a sua presença provoca no povo de Deus».



Fonte Expresso

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