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Vaticano teme vazio de poder
2002-03-26 17:16:08

A proximidade de um vazio de poder na Igreja Católica, fruto da crescente incapacidade física do Papa, está a assustar o Vaticano.


Alguns cardeais terão inclusivé sugerido que João Paulo II utilize o Cânone 332, do Código de Direito Canónico, que lhe abre a possibilidade de, por enquanto, renunciar ao cargo.

Além da debilidade física - bem patente no último domingo -, a cúria romana teme que, de um dia para o outro, a doença de Parkinson afecte mentalmente João Paulo II, tornando-o incapaz de governar a Igreja. E, num caso destes, nem poderá ser substituído nem invocar as leis da Igreja, conforme prevê o parágrafo 2.º do referido cânone. É que o pedido de renúncia só tem validade quando expresso pelo próprio, de uma forma livre e consciente.

A existência de pressões junto de João Paulo II já são admitidas no corredores da Santa Sé, onde ecoou o desabafo de um cardeal: "No longo caminho para o fim, tudo podemos esperar. Mas, mesmo confiando no Espírito Santo, pode a Igreja viver em tais incertezas?". As palavras do purpurado saíram à estampa no Corriere della Sera, num artigo assinado por Vittorio Messori, o escritor católico mais famoso e vendido no mundo inteiro. Grande conhecedor do Vaticano, é o único a quem o Papa concedeu uma enorme entrevista que depois se transformou num livro, em 1994 - "Varcare la Soglia della Speranza" (Passar a Porta da Esperança).

Ontem, pela primeira vez em 23 anos de pontificado, João Paulo II viu-se forçado a renunciar à presidência da missa de Domingo de Ramos, celebração pela qual sempre demonstrou um carinho especial devido ao facto de coincidir com o Dia Mundial da Juventude. Impediram-no as fortes dores no joelho provocada pela artrose, mas é evidente que o seu estado físico se está a debilitar, de dia para dia - facto que poucas dúvidas levanta face à impossibilidade de presidir às cerimónias da Semana Santa.

Neste sentido, avoluma-se o coro de vozes que defende a renúncia de João Paulo II. Mas, curiosamente, a ala conservadora do Vaticano é a mais empenhada em ver o pontífice romano a descansar num convento beneditino. Conforme refere Vittorio Messori, os conservadores consideram "intolerantes" certas iniciativas deste Papa. "Para eles, são inconcebiveis tantos pedidos de perdão a todos e por tudo: os encontros de Assis, considerados de sincretismo; as visitas às sinagogas e mesquitas; a insistência sobre os direitos humanos de memória jacobina; o silêncio para não perturbar o diálogo sobre o martírio de algumas cristandades; ou, pela mesma razão, a recusa de proceder ao processo de beatificação de personagens incómodas como os Reis Católicos de Espanha", escreve Vittorio Messori.

Segundo este autor, seria nos ambientes conservadores - onde se temem as aberturas e o diálogo entre as religiões - que cresce a convicção que a renúncia do Papa seria o melhor para a Igreja.

E, a propósito, recorda que Paulo VI, pouco antes de completar 80 anos, terá consultado um arcebispo, seu confidente, sobre a possibilidade de se retirar para um convento.

A quem se opõe a isto, dizendo que o Papa é como um pai a quem a paternidade não pode ser subtraída, os conservadores respondem que um pater famílias responsável sabe passar aos outros o poder que não mais consegue carregar. Mas, entre os progessistas, há também quem considere que este "crepúsculo" de um pontificado extraordinário possa deixar em dificuldades uma Igreja que passa momentos tão inquietantes, explica Vittorio Messori.

Neste contexto, o escritor pergunta: "Que equívoco leva a que, precisamente os cristãos, exijam de um Vigário de Deus - que mostrou a sua glória morrendo na cruz - os mesmos atributos de um administrador delegado de uma grande multinacional?".

O debate não deverá ficar por aqui. No entanto, nem sequer é novo. Já durante o Jubileu, no ano 2000, várias vozes de relevo questionaram a possibilidade de o Papa renunciar. O bispo alemão Karl Lemann foi uma dessas vozes, assim como o cardeal Carlo Martini, arcebispo de Milão.

Na altura, foi também bastante comentada a alegada existência de uma carta redigida pelo próprio João Paulo II, afirmando a sua vontade de renunciar no caso de perder as suas faculdades mentais, cumprindo assim o estabelecido no Cânone 332.

Este Papa está a liderar um dos mais longos pontificados da histórica da Igreja. Nem os cardeais mais velhos conheceram uma situação idêntica na Igreja. Também por isso,aumentam as tensões e os medos no Vaticano.

Fonte DN

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