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BISPOS ANGOLANOS PREPARAM A PAZ
2002-03-24 10:52:08

"Dai-nos a Paz!", é o grito lançado pelos bispos de Angola e São Tomé, numa Nota Pastoral em que avançam com um conjunto de medidas e propostas para preparar um cessar-fogo próximo.

Saudando o Governo angolano pela "linguagem e gestos de benevolência que tem manifestado, não descartando a hipótese de avançar com uma declaração de tréguas nas hostilidades militares", os prelados pedem o mesmo tipo de atitude à UNITA, uma vez que "não faria sentido calarem-se as armas dum lado e continuarem a atroar do outro". Até porque, "o mais ofendido, quem tem mais a perdoar é o próprio Povo, a quem as armas fizeram perder a sua casa, os seus haveres, os seus filhos e até, nalguns casos, a honra das suas mulheres". Ao Povo, os bispos de Angola e São Tomé, pedem "que tenha um coração grande e a coragem de perdoar".

Guerra é ultraje

Com quatro milhões de "condenados ao desterro, à fome e à morte", a Nota denuncia que pedir ajuda humanitária para estas pessoas, "num gesto de compaixão pelo seu sofrimento, e continuar a aumentar o seu número com a insistência da guerra, venha esta de onde vier, parece-nos um ultraje à dignidade humana". Neste momento, os grupos de deslocados são "motivo de grande apreensão" para a Igreja Católica em Angola. Com o fim da guerra deve-se registar um regresso das populações às suas terras de origem, pelo que é preciso preparar todo um sistema que impeça este retorno de se tornar um verdadeiro caos. Segundo os Bispos, é preciso preparar uma rede de medianeiros de paz e criar núcleos de Direitos Humanos nas principais localidades ou sedes municipais", aos quais possam recorrer as pessoas ameaçadas pela violação dos seus direitos, sobretudo no que respeita à segurança de pessoas e bens". Por outro lado, o Governo deve acautelar "a defesa dos espaços das populações rurais". Segundo a Nota, divulgada pela Ecclesia, deve-se fazer um "aproveitamento racional das terras, para a segurança alimentar e o desenvolvimento do país". Os bispos terminam com um apelo às Nações Unidas e a outros Organismos de beneficência a favor dos deslocados, para que não deixem de ajudar humanitariamente, esta população, que "por enquanto", ainda precisa.

A luta no ocaso da vida

É um lugar comum dizer que a vida é uma luta (no sentido do afã de cada dia), ainda mais difícil, quando as forças e as capacidades naturais do homem começam a faltar. Mas muitos lutam por causas egocêntricas, outros, por causas nobres. A grande luta, numa perspectiva cristã de vida, é saber aceitar o tempo que Deus nos dá. É tão bonito olhar para certos idosos e ver neles como que velhos sábios, que sabem estar na recta final e o aceitam, não somente com resignação estóica, ou com falsas esperanças de sair dela, mas com a consciência de que estão nessa recta final e agradecem qualquer momento para o encontro, para o agradecimento, para dizer verdades, para oferecer a sua experiência vital. Essas pessoas vivem a velhice como um presente, como uma intensificação e clarificação do que foi a sua existência anterior, aceitam e agradecem tudo o que viveram, e na sua magna experiência de vida, iluminam e irradiam esperança à sua volta. Que sorte ter um ancião destes ao nosso lado! Quem tem essa sorte, agradeça a Deus essa presença e cuide-a e estime-a, como a um tesouro precioso. Deixo-vos aqui estas simpáticas bem-aventuranças, próprias dessa grande luta e sabedoria destes idosos: "Bem-aventurados sejam aqueles que desculpam a minha torpeza ao caminhar e a pouca firmeza da minha mão. Bem-aventurados os que compreendem que os meus ouvidos se esforçam muito para escutar o que me dizem. Bem-aventurados aqueles que se dão conta de que os meus olhos estão sempre embaciados e a visão mais turva. Bem-aventurados os que dissimulam que eu alguma vez derramei o café sobre a mesa. Bem-aventurados os que com paciência se detêm por uns instantes a falar comigo e escutam com interesse o que lhes digo. Bem-aventurados os que escutam as minhas palavras e nunca dizem: isso já me tinhas contado. Bem-aventurados os que me permitem evocar recordações felizes do passado. Bem-aventurados aqueles que são capazes de compreender a dificuldade que é para mim ter forças para carregar a minha cruz. Bem-aventurados aqueles que de vez em quando se lembram de me fazer um obséquio por mais pequeno que seja. Bem-aventurados aqueles que com amor me ajudam a esperar tranquilo e sorridente o dia da minha partida". Dou graças a Deus por me ter possibilitado o dom de ter sábios anciãos, na minha família, entre os meus amigos e na pessoa de alguns desconhecidos que se cruzaram na minha vida. E nesta crónica lembro especialmente o meu querido colega, Cónego António Antunes Abranches.

Fonte CM

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