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D. João Alves contra denunciador de "A Fé dos Homens"
2002-03-18 21:03:39

No meu último texto para o Diário de Coimbra referi-me ao facto “inacreditável” de o Director da RTP, Senhor Dr. Emídio Rangel, se dispor a denunciar o Protocolo estabelecido entre a RTP e a Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas, que inclui a Igreja Católica.

Este Protocolo foi ratificado por ambas as partes e até hoje a RTP tem-no respeitado.
Juntamente com as minhas palavras foram publicados dois textos: um do Director do Secretariado Nacional da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais, Cón. António Rego e outro da Comissão Ecuménica acima citada.
Ambos os textos ofereceram fundamentados esclarecimentos, muito úteis, para entender o que se está a discutir, a propósito da possível suspensão pela RTP do pagamento da produção do programa religioso - A Fé dos Homens. Penso que todos os leitores dessa página do Diário de Coimbra, do passado dia 10 deste mês de Março, terão ficado bastante esclarecidos acerca desta polémica.

Neste escrito de hoje, a minha intenção principal é dar a conhecer que a Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas se encontrou com o Senhor Ministro da Cultura que tutela, também, as Comunicações Sociais. Foi uma longa reunião a permitir a mútua informação sobre o referido programa religioso. Para sabermos mais concretamente em que clima decorreu este encontro e quais as conclusões a que se chegou, o melhor é reproduzir aqui o Comunicado da Comissão elaborado logo após a reunião e que todas as Confissões Religiosas presentes aprovaram.
Lê-se nesse Comunicado:
“Em 11 de Março corrente, recebeu o Senhor Ministro da Cultura a Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas, a solicitação desta, para lhe expor as suas preocupações quanto ao programa, A Fé dos Homens, transmitido pela RTP.
Após uma breve exposição feita pela Comissão, foi pelo Senhor Ministro da Cultura referido que:
O Governo faz do programa A Fé dos Homens uma avaliação muito positiva.
O Protocolo vigente entre a RTP e as Confissões Religiosas iniciado por este Governo se deve manter.
Uma vez que se trata de serviço público, o seu funcionamento deve ser assegurado através do Orçamento do Estado, sem deixar de considerar o quadro das restrições orçamentais gerais em que nos movemos.

As Confissões Religiosas representadas consideram positiva esta reunião e vão aguardar que o Programa A Fé dos Homens continue, em termos de serviço público, que deve ser compreendido no Orçamento do Estado, a ser uma realidade que lhes permita divulgar as suas mensagens e valores”.

Vê-se portanto que o Senhor Ministro da Cultura garantiu que o citado programa religioso ia continuar e que o Protocolo se manteria tendo embora presente as dificuldades orçamentais gerais em que nos movemos.
A Comissão recebida pelo Senhor Ministro da Cultura achou positivo este encontro e fica à espera da concretização do que lhe foi garantido.
É certo que nada ficou escrito, que responsabilizasse as duas partes, no presente e no futuro, mas resta a palavra de um Ministro que, certamente, a honrará, vinculando-o a si ou a outro Ministro que, porventura, lhe suceda após as eleições do próximo dia 17 deste mês de Março.

Já depois desta reunião no Ministério da Cultura, veio-me às mãos um excerto de uma entrevista dada pelo Senhor Dr. Emídio Rangel e publicada num dos diários portugueses de circulação nacional. Fazem-se nesse texto declarações, não desmentidas pelo entrevistado, segundo creio e que se referem directa ou indirectamente ao programa religioso – A Fé dos Homens.
Por me parecer importante esse texto para o assunto que temos sobre a mesa, transcrevo-o aqui:
“A Igreja Católica prepara um canal na TV Cabo. É legítimo e tem caminho neste país. Espera-se é que nenhum governo saído das eleições de 17 de Março, seja ele qual for, se lembre de mandar a RTP pagar esse projecto. Aceita-se o tempo de antena para as Confissões Religiosas - mas não os seus custos de produção. O mito religioso e o receio da sua influência social faz parte da menoridade política de uma democracia ainda atolada em relações do passado.”

Depois desta leitura farei apenas três breves comentários:

Um, sobre o canal da Igreja Católica na TV Cabo.
Outro, sobre o pedido do Senhor Dr. Emídio Rangel ao Governo que for constituído após as eleições do dia 17 deste mês de Março.
Outro, ainda, sobre a questão do mito religioso e o receio da sua influência social.

Quanto ao primeiro ponto direi simplesmente que a Igreja Católica, como tal e oficialmente, não está a preparar qualquer canal na TV Cabo.
Segundo certos órgãos da comunicação social, alguns cristãos estariam a reflectir, por sua conta e risco, sobre a hipótese de poderem preparar as coisas para, um dia, poder existir um canal católico na TV Cabo. Segundo creio, esta informação corresponde à verdade. Verifiquemos, no entanto, que isto é diferente daquilo que o Senhor Dr. Emídio Rangel diz na sua entrevista ao afirmar categoricamente: “A Igreja Católica prepara um canal na TV Cabo”.
Tratando-se de assunto tão importante e exigente, a reflexão desses cristãos sobre o referido canal pode chegar a uma conclusão positiva ou negativa. Eles a seu tempo o dirão.
Acrescente-se que, ao fazer este trabalho, esse grupo de cristãos está no exercício das suas legítimas capacidades, mas apenas como grupo, que não responsabiliza toda a Igreja em Portugal.

Acerca do segundo ponto direi, antes de mais nada, que esses cristãos na sua reflexão terão o cuidado de estudar bem o que a lei portuguesa estabelece para estes casos. É natural que não tomem decisões contra a lei.
É tudo uma questão de bom senso, que não é apanágio exclusivo de ninguém.
Acrescento que qualquer pagamento feito pela RTP é feito com o dinheiro do nosso Povo, uma vez que a Rádio Televisão Portuguesa é uma empresa pública mantida, portanto, pelo Estado que administra o dinheiro dos portugueses vindo dos impostos.

O caso desse hipotético canal da Igreja na TV Cabo, não é a mesma coisa que o programa ecuménico – A Fé dos Homens. Este está já firmado seguramente sobre a lei portuguesa, nomeadamente sobre a Lei da Liberdade Religiosa aprovada no Parlamento da República Portuguesa. São duas realidades distintas que o Senhor Director da RTP parece querer misturar, gerando assim confusão no espírito dos cidadãos.

Mais admirado fiquei com o que se refere no terceiro ponto.
Aquele modo de se referir ao “mito religioso”, ao “receio da sua influência social” como causadores da “menoridade política de uma democracia ainda atolada em relações do passado”, deu-me a sensação de estar a ler ou ouvir os paladinos da suspeição do século XIX e de parte do século XX.
Eram pessoas que sempre tiveram dificuldade em lidar com a realidade religiosa, marcadas por um positivismo exagerado. Refugiaram-se, por isso, em reduzir o fenómeno religioso a mera ilusão, mito e alienação, expressão apenas de um fenómeno cultural, de fraca qualidade.
Não resistiu, porém, esta visão da realidade religiosa a uma crítica séria e à afirmação permanente do fenómeno religioso. Não admira, portanto, que acabasse por ver esfumar-se, a pouco e pouco, a sua influência triunfalista.
Julgava que esta mentalidade já estivesse esclarecida e ultrapassada. Tenho de concluir, no entanto, que não. Ela aí está claramente manifestada.
Por aqui não se vai à tolerância, à liberdade religiosa, à isenção e à verdadeira democracia.
Quem terá interesse em fazer reviver ou manter esta mentalidade?
Julgo, no entanto, com agrado, que a maioria esmagadora dos portugueses não navega nestas águas, porque pensa de outra maneira.

Fonte Ecclesia

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