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Invisibilidade Feminina nas Religiões É "Facto Chocante"
2002-03-09 11:55:35

"A invisibilidade eclesial e teológica das mulheres é hoje em dia ainda um facto chocante nas sociedades contemporâneas, em particular" na Igreja Católica, disse ontem Isabel Allegro de Magalhães, que integra o Graal, um movimento católico internacional de mulheres, durante uma intervenção num debate sobre "Deus no feminino".



Organizado pelo Goethe Institut de Lisboa, o debate inseria-se no colóquio "Ser minoria hoje - Portugal e Alemanha". Isabel Allegro, que falava sobre "Representações de Deus e instituições: a ausência presente das mulheres", acrescentou: "Estranhamente, esta invisibilidade acontece numa comunidade à qual chamamos 'mãe': a Santa Madre Igreja, que é, por sua vez, sucessora - a outro nível - da comunidade do Povo de Israel, ela também frequentemente simbolizada pela figura da mãe, e paralela à 'umma' islâmica."

No catolicismo, acrescentou, as mulheres "não podem ser nunca porta-voz" e "raramente presidem às liturgias, a reuniões pastorais" e "muito menos podem aceder ao sacerdócio", o que deveria levar a uma mudança de paradigma do sistema institucional. Apesar disto, a mesma interveniente no colóquio defendeu que não é "relevante" abrir às mulheres a ordenação, sem que haja "outras mudanças prioritárias e de fundo". Importa, antes, "sair de uma perspectiva dualista: passar duma visão androcêntrica do mundo e da teologia a uma visão efectivamente unificada e integradora, de forma a que tenha lugar a comunidade vivida como tal e de que fala Jesus".

Na mesa, no entanto, estava uma rabi, Bea Wyler, e uma pastora protestante, Brigitte Enzner-Probst, ambas alemãs. Bea Wyler é, ainda, a única rabi judia na Alemanha. "Hoje, fiz a minha oração rezando ao Deus de Sara, Rebeca, Léa e Raquel, tal como me dirijo ao Deus de Abraão, Isaac e Jacob", afirmou, a propósito da "fórmula patriarcal" e das críticas feministas à subalternização do papel das mães.

Brigitte Enzner-Probst defendeu a paridade decisória entre mulheres e homens. "Não se trata de substituir os homens, mas de fazer a paridade. Claro que isto não vai melhorar imediatamente o mundo, mas a paridade decisória entre mulheres e homens facilitará a construção da paz." Mesmo as imagens que se dão de Deus mudaram: há mais recurso a outras imagens que não só as masculinas, quando são as mulheres a ter a palavra nas comunidades religiosas, acrescentou.

Faranaz Keshaujee, do Centro Ismaili de Lisboa, também concordou que, dentro das instituições religiosas, "prevalece o elemento masculino", mas que o feminino "emerge com alguma frequência sempre que se refere ao caminho gnóstico do crente e da sua relação com Deus". No contexto ismaili, em particular, "a mulher representa o elemento central de perpetuação dos valores religiosos e das práticas da fé" e é vista "como a 'porta' pela qual o grupo entra".

No budismo, referiu Irene Pedroso, existe uma buda feminina, Tara, como tal reverenciada. De acordo com o mito, Tara recusou as propostas dos monges para que ela reencarnasse no corpo de um homem, porque, "no seu estado de buda, representa a vacuidade e a sabedoria não dualista, representa as mães de todos os budas".

Fonte Público

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