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Dia Internacional da Mulher - Longo caminho a percorrer, mesmo na Igreja Católica
2002-03-08 21:51:30

As desigualdades, os dramas e as injustiças pelos olhos de Maria João Lemos, membro do Movimento “Nós Somos Igreja”, e de Emília Nadal, pintora.


“Quando existe um Dia Mundial em favor de algo é porque se reconhece que há uma realidade humana que ainda não é devidamente reconhecida e integrada”, afirmou a pintora Emília Nadal, à Agência ECCLESIA, a propósito do Dia Mundial da Mulher que se assinala, dia 8 de Março.
Reconhecendo que “nas últimas décadas tem existido uma mentalização, um esforço real, acompanhado por legislação, para pôr termo a algumas situações”, a verdade é que “os hábitos culturais muito arreigados são uma força contrária”. Perante a legislação portuguesa referente aos direitos das mulheres, “uma das mais avançadas” classificou, “a prática continua, no entanto, a desmentir a lei (...) e a maior parte das vezes de forma subtil”. Para Emília Nadal trata-se de “uma questão de domínio, de poder, de supremacia”. “E disso não se abre mão com facilidade”, reconheceu.
Também para Maria João Lemos, do Movimento “Nós Somos Igreja”, este é “um problema cultural”, fruto de uma sociedade que ainda “não valoriza o papel da maternidade”. Maria João Lemos lembrou, a este propósito, “as dificuldades das mulheres para cumprirem as suas obrigações profissionais”, pois têm de arcar, grande parte das vezes sozinhas, com as crianças, com os pais doentes, dela e do marido, com tios, com os trabalhos domésticos... Assim, para Maria João Lemos, “as mulheres, para vencerem profissionalmente, têm que ser extraordinárias ou prescindir de uma vida familiar”.
A violência doméstica foi outro ponto apontado por estas duas mulheres. Uma situação que, segundo Maria João Lemos, “ainda não é considerada, pela sociedade, como uma tragédia”. De facto e de acordo com números de um estudo recente, relatados pela membro do Movimento “Nós Somos Igreja”, “uma em cada cinco mulheres portuguesas são ainda vítimas de violência doméstica”.
Maria João Lemos lamenta, por isso, “não ter ainda visto a Igreja Católica levantar-se em uníssono e tomar este problema a sério, preocupando-se com este défice cultural”. Emília Nadal salientou também que “a Igreja deveria ter um papel fundamental na violência doméstica”. No entanto, a pintora aponta o dedo “a uma visão muito romântica da vida familiar”, pelo que o tema fica sempre esquecido em homilias ou em preparações para o matrimónio, por exemplo. Desmistificando a ideia de que casas cristãs são santuários familiares, Emília Nadal recordou ainda que “estes casos não se passam exclusivamente em lares não cristãos”.
Mas, para estas duas mulheres, as falhas da Igreja no que à mulher diz respeito não se ficam por aqui. Maria João Lemos observou que “quando na sociedade se dão passos enormes no reconhecimento das mulheres, na Igreja são ainda cidadãs de segunda”. Maria João Lemos sublinhou que “a Igreja deveria ser um farol para a sociedade e despertar nelas o seu melhor”, no entanto, “se a Igreja é a primeira a tratar em situação de desigualdade as mulheres, como vão ser estas tratadas com igualdade na sociedade civil?”, questionou.
Emília Nadal mostrou-se convencida de que também aqui se trata de “um problema cultural”. De facto, qualificou de “inconcebível” o facto de “as ordens religiosas femininas continuarem submetidas às superioras masculinas”. Porque isto significa que “para a Igreja a mulher não tem capacidade de decidir os seus destinos”, Emília Nadal frisou que “há ainda um longo caminho a percorrer até a mulher ser considerada membro de plena capacidade na Igreja”.
Maria João Lemos referiu ainda um dos temas pelo qual o Movimento “Nós Somos Igreja” se tem batido, ao longo da sua existência. No tema do sacerdócio feminino, acusa a Igreja de “restringir o acesso das mulheres a um dos sete sacramentos, só porque são mulheres”.

Fonte Ecclesia

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