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Testemunhar o Evangelho da caridade
2002-03-05 15:30:43

Pelas organizações e grupos eclesiais dedicados à acção social, a fim de que testemunhem, com força e coerência, o Evangelho da caridade.


1. A caridade como condição humana. Diz-se que não é necessário ser cristão, nem crente de alguma religião, para experimentar a exigência de socorrer os mais necessitados. Ser e saber-se membro da família humana, diz-se, é mais do que suficiente para não se ficar indiferente diante de homens e mulheres privados do necessário a uma vida humanamente digna – mais ainda quando tal situação resulta de estruturas injustas, as quais urge modificar. Esta exigência de caridade (ou seja, de amor efectivo e prático para com os irmãos necessitados) surge, assim, como inerente à condição humana, sem precisar de qualquer estímulo oriundo da fé religiosa.
Se esta afirmação parece teoricamente inquestionável, a sua concretização debate-se com enormes dificuldades na existência quotidiana. O egoísmo que a todos habita, a consciência das necessidades próprias antepondo-se às alheias, o desejo de ter mais e melhor, a consideração da pobreza como instrumento de luta ideológica… constituem obstáculos enormes quando se trata de olhar com olhos de ver para o outro que se apresenta na nudez da sua necessidade.

2. O evangelho da caridade. Numa humanidade ferida pelo egoísmo, a caridade aparece quase sempre perdedora. Precisa, por isso, de se abrir à transcendência que, embora não sendo estranha à condição humana, a ultrapassa e aperfeiçoa – de modo particular quando se exprime numa efectiva relação pessoal com Deus. Dirão alguns que a fé religiosa tem sido, ao longo dos séculos, mais lugar de contendas e violência, de perseguições e opressão, do que princípio de efectiva caridade. Em muitas circunstância, assim aconteceu e acontece. Mas cabe perguntar se tal se deve à transcendência divina presente na fé religiosa ou ao tão humano pecado do egoísmo que, quase inevitavelmente, acaba sempre por se insinuar naquilo que a nossa humanidade toca.
Em qualquer caso, a nós, cristãos, compete-nos viver e anunciar o evangelho da caridade – com a exigência que resulta do exemplo de Cristo («amai os vossos inimigos…»; «…até à morte e morte de cruz») e das palavras de S. Paulo («… ainda que tenha uma fé capaz de transportar montanhas, ainda que reparta os meus bens pelos pobres… se não tiver caridade, de nada me adianta»). Não importa o que digam sobre as deficiências da vida dos cristãos no passado ou no presente. Tudo o que digam poderá até ser verdade e poderá mesmo não ser tudo o que poderiam dizer. Para nós, porém, permanece a palavra de S. Paulo: «… se não tiver caridade…», e é segundo esta palavra que estamos chamados a viver, tornando presente, também hoje, o evangelho da caridade.

3. Evangelho dos factos. Desde há dois mil anos, os cristãos vêm deixando sinais efectivos de caridade, mesmo no meio das mais terríveis circunstâncias. Ainda não passava pela cabeça de ninguém importante que os pobres, os esfomeados, os nus, os loucos, os doentes, todos os miseráveis da terra fossem dignos de socorro nas suas necessidades, e já a Igreja proclamava os seus direitos e se ocupava do seu socorro. E hoje, apesar de tantos falarem de igualdade e justiça social, continuam a ser os cristãos a marcar presença mais efectiva e libertadora no mundo da pobreza, testemunhando por actos e palavras o evangelho da caridade. São factos que se comprovam nas inúmeras obras de assistência à infância ou à terceira idade, nas misericórdias ou nas associações de voluntariado, na presença junto dos marginalizados ou na assistência desinteressada aos doentes… é um nunca acabar de factos muito concretos onde outros se satisfazem com discursos ideologicamente muito inspirados mas realmente pouco comprometidos e nada eficazes. Dir-se-á que, apesar de tudo, não temos motivos para alegria, pois as injustiças permanecem e não fomos capazes de transformar o mundo. Talvez. Mas, então, de onde brotou a força que, apesar de tudo, conduziu o mundo por caminhos de maior justiça e respeito pela dignidade humana? Se não foi, no chamado «mundo ocidental», a grande tradição judaico-cristã, quem foi? Acontece que os cristãos, no seguimento de Cristo, não querem transformar o mundo pela força – e ainda bem, pois aqueles que o pretenderam fazer, tornaram o mundo um lugar muito pior. O projecto evangélico é antes levar à conversão dos corações, onde o egoísmo se esconde – e esta é uma tarefa sempre a recomeçar.


Fonte Ecclesia

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