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Bispo aceita tendência não a prática
2002-02-03 20:00:45

O padre espanhol José Mantera declarou publicamente que é homossexual e que tem relações sexuais. O que para muitos é um sinal de coragem, para outros é uma atitude criticável. "A tendência sexual em si não tem gravidade, o mal está na concretização. Está em contradição com os votos que fez perante a Igreja", diz D. Januário Torgal.

Apesar disso, o Bispo das Forças Armadas e Segurança entende que o pároco não deve ser expulso das suas funções. "Deve ser tratado com espírito de ajuda", explica.

A confissão do padre espanhol caiu que nem uma bomba na pequena cidade andaluza de Valverde del Camino, em Huelva. Os moradores não davam crédito ao que lhe diziam os jornalistas que invadiram a localidade às primeiras horas de sexta-feira. "José Mantera, o pároco é gay?", perguntavam, logo respondendo: "Não, não pode ser." Mas pode!

Mantera, um jovem sacerdote de 39 anos, decidiu "sair do armário" e declarar publicamente não só a sua homossexualidade mas, o que é ainda mais grave para a Igreja, a prática habitual do sexo com outros homens. Fê-lo numa entrevista publicada na revista Zero, uma publicação dedicada ao mundo gay e que está na Internet (www.zero-web.com/home).

As declarações do padre, nas quais explica que descobriu a homossexualidade quando há anos se enamorou de um homem ("foi muito bonito", disse), provocaram um verdadeiro terramoto. As televisões iniciaram os telejornais com entrevistas ao sacerdote e as opiniões da Conferência Episcopal, já de si afectada por uma série de escândalos políticos, financeiros e mediáticos (Gescartera, por exemplo). A hierarquia católica alega que, para além dos sacerdotes estarem obrigados à abstinência sexual, a homossexualidade "é uma desordem moral e um pecado".

Aquela é a posição da Conferência Episcopal, mas não a de D. Januário Torgal Ferreira. O Bispo aceita as tendências sexuais de cada um, esclarecendo, no entanto, que os próprios psicólogos consideram que a "homossexualidade é uma tendência não linear". Só que, acrescenta, "um padre (homossexual ou heterossexual) faz votos de abstinência e se não os pensa cumprir não deve exercer o sacerdócio". Acha que o processo foi mal conduzido pelo padre espanhol e interroga-se sobre os efeitos pretendidos, o que só pode ser compreendido "perante a intolerância das pessoas em relação às minorias".

Logo, não se deve responder com intolerância. "As coisas não se resolvem com violência, mas com um tratamento de ajuda. A Igreja não deve expulsar, deve curar. Nosso Senhor não pretende salvar os sãos, mas os que estão doentes. Agora, é preciso saber se ele aceita essa cura ou não", diz o Bispo português.

Para o padre José Mantera trata-se de uma atitude coerente. "Adoro ser gay e pertencer à Igreja", explica ao mesmo tempo que se declara farto "do silêncio e da culpabilidade que a homossexualidade provoca na Igreja". E lança um apelo: "Nós que somos gays devemos defender as nossas posições desde dentro." Por fim, a denúncia: "A Igreja espanhola está cheia de maricones, isso não se pode continuar a ocultar."

Mantera, que pode ser visto com barba, argola na orelha esquerda e outras manifestações de modernismo transgressor na capa da citada revista com o título "dou graças a Deus por ser gay", explica que se não praticasse sexo normalmente, acabaria por "afundar-se". "Durante sete anos tentei compaginar a minha condição homossexual com a abstinência mas estava a ponto de desabar psicologicamente. Agora estou em paz", justifica.

Pepe, como o conhecem em em Valverde, onde é páraco há quatro anos, deixa bem claro que não tem nenhuma intenção de abandonar o exercício sacerdotal.

Até à tarde de ontem ainda não se conhecia a reacção oficial do bispo da diocese à que pertence o sacerdote. Mantera, que sempre se manifestou como um padre algo heterodoxo, pode ser suspenso das funções e reduzido ao estado laico ou enviado como missionário para a América Latina, abafando o assunto. Mas é difícil que a hierarquia o conserve como pároco já que isso abriria um forte precedente. São conhecidas as posições católicas sobre a abstinência e a homossexualidade. Permitir a atitude de Mantera seria abrir a caixa de Pandora.

O auto-reconhecimento da homossexualidade por parte de um padre é o último caso conhecido em Espanha. Nos últimos meses, um tenente coronel do Exército e o ex-presidente do governo das Canárias confessaram ser gays.

Fonte DN

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