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ARCEBISPO DE BRAGA CONTRA REFERENDO AO ABORTO
2002-01-29 09:50:45

A Igreja Católica Portuguesa está contra a ideia defendida pela Juventude Socialista de realizar um segundo referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às doze semanas de gestação.

Em entrevista ao Correio da Manhã, o arcebispo primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, diz que "o referendo tem meia dúzia de dias e, como tal, é cedo para mexer outra vez no assunto". A pouco mais de mês e meio das Eleições Legislativas, o prelado bracarense considera que "o maior espinho da rosa foi o corte dos apoios à Universidade Católica Portuguesa", cujo dia a Igreja celebra no próximo domingo. Correio da Manhã (CM) - O julgamento da Maia fez ressuscitar a questão do aborto. Considera que é útil voltar a discutir o assunto? D. Jorge Ortiga (DJO) - O analisar, debater e reflectir sobre o assunto, acho que é sempre útil e, tratando-se de um bem essencial da nossa existência, que é a vida, considero que esse debate e essa reflexão devia fazer-se de forma continuada. Quanto ao referendo, entendo que é, para além de prematuro, totalmente inoportuno. CM - Deve esperar-se mais algum tempo para avançar com nova consulta popular? DJO - Eu não sei se deve realizar-se uma nova consulta, o que acho é que é cedo para se falar do assunto nesses termos. O referendo foi há meia dúzia de dias e, embora se deva debater a aprofundar a temática, aliás extremamente complexa, é manifestamente prematuro fazer novo referendo sobre o aborto. CM - Mas alguns partidos vão relevar esta questão na campanha eleitoral! DJO - É bem natural que alguns partidos façam deste assunto bandeira eleitoral, mas, em minha opinião, é muito mau que o façam. Estas questões exigem debates e reflexões serenas, nada condicentes com os barulhos e a turbulência próprios das campanhas eleitorais. CM - Trata-se, no entanto, de um assunto de grande interesse nacional! DJO - Eu diria que se trata de um assunto de enorme interesse para toda a humanidade, porque toda ela dependa da vida. Agora, as discussões eleitorais são acaloradas, por vezes pouco racionais, em que tem de haver promessas vistosas, e a questão do aborto é demasiado séria para ser embrulhada nesta confusão pré-eleitoral. CM - Como é que acha que o assunto devia ser debatido? DJO - Sabe que nós temos pouca cultura de pensamento e reflexão e, regra geral, fazemos avaliações superficiais, sem o estudo devido das situações em causa. Pois eu entendo que a questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às doze semanas devia ser discutida, de forma ampla, pelos diversos sectores implicados: Igreja, Justiça, Medicina e Poder Político. CM - Que comentário lhe merece a sentença do Tribunal da Maia? DJO - Eu não comento as decisões judiciais. Posso apenas dizer que, quando existe, a lei, concordando-se ou não com ele, deve ser cumprida. E parece-me que foi o caso. CM - O que espera das eleições do próximo dia 17? DJO - Independentemente da circunstância que as originou, entendo que se trata de mais uma oportunidade que o Povo tem de reflectir sobre os verdadeiros problemas do país, com a possibilidade de escolher os próximos governantes. Espero é que os partidos façam propostas realistas e não se limitem a atirar promessas como quem lança o isco ao voto. CM - Existe a ideia (nunca as notas da Conferência Episcopal foram tão politicamente violentas) de que a Igreja terá ficado algo desiludida com o Governo cessante. É dessa opinião? DJO - Eu penso que não é missão da Igreja imiscuir-se nas questões governativas e sou particular partidário do chamado regime de separação de poderes. No entanto, entendo que esta separação não deve ser neutral, mas sim de colaboração, sobretudo nas áreas de convergência, como sejam as questões sociais e culturais. E, embora aceitemos e respeitemos a autoridade política legitimamente constituída, acontece por vezes existirem pontos de divergência e, quando assim é, a Igreja fá-lo saber. CM - O corte dos subsídios à Universidade Católica é 'o espinho que a rosa cravou na Igreja'? DJO - Podemos dizer que sim. Acho que as coisas podiam ter evoluído de outra maneira, em consonância com as promessas feitas. Sem querer julgar quem quer que seja, parece-me que, apenas pelo serviço prestado e à margem de quaisquer tipo de privilégios, seria de toda a justiça que a Universidade Católica tivesse contado com outro tipo de apoio.

Fonte CM

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