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A Igreja que diz não
2000-10-21 15:46:42

A pílula de emergência é considerada pela Igreja Católica portuguesa como um método abortivo. “Tudo o que afecta o ser depois da sua concepção é um atentado à vida humana”, afirma o bispo de Viseu. “Nós dizemos não”, repete D. António Monteiro, que preside à Comissão Episcopal da Família, rejeitando a pílula do dia seguinte, aprovada na Assembleia da República.

Esta reacção não é surpresa para ninguém. A contracepção é assunto sobre o qual a Igreja Católica não tem mudado uma linha da sua doutrina. Os métodos não-naturais para evitar a gravidez continuam a ser considerados pecado grave. Mortal, mesmo. “O aborto é mais atroz, porque se trata de um homicídio, mas os outros, como a pílula ou o preservativo, não deixam de ser gravosos, pois contrariam a dinâmica do amor verdadeiro”, explica o padre Nuno Serras Pereira, activista do movimento da Igreja pelo “não” no referendo sobre o aborto, em 1998.

O pecado dos atentados contra a procriação tem sido afirmado desde o primeiro século do Cristianismo. Na encíclica “Casti Connubii”, o papa Pio XI reiterava o ensinamento da Igreja: a contracepção é intrinsecamente errada. Ponto final. Foi só no século XX que surgiu um apelo à mudança. No início dos anos 60, o acesso generalizado à pílula nos países do mundo ocidental e o pânico da explosão demográfica, acompanhada pelo desemprego e a pobreza, mexeram com as mentalidades.

O papa João XXIII respondeu a esta ânsia formando uma comissão de seis teólogos para o aconselharem sobre o assunto. O sucessor de João XXIII, Paulo VI, herdou a comissão após a morte deste e adicionou-lhe novos elementos, incluindo casais de leigos. A maioria da comissão apoiava a mudança da doutrina da Igreja.

Uma minoria, contudo, argumentou que a Igreja não podia, nem que quisesse, mudar de posição, pois tratava-se de uma lei divina e nenhuma lei humana poderia transformar a contracepção em algo moralmente aceitável. A posição minoritária prevaleceu.

Em 1968, Paulo VI apresentava ao Mundo a encíclica “Humanæ Vitæ” (“Sobre a vida humana”). Dizer que este documento papal causou surpresa e indignação dentro da Igreja e na sociedade é dizer pouco. Havia uma enorme expectativa de mudança. Mas a “Humanæ Vitæ” reafirmou a tese de que a contracepção é contrária a todas as virtudes, começando pela castidade. Pelo contrário, a planificação familiar por métodos naturais exige, antes de tudo, castidade.

A Igreja aceita, porém, os métodos naturais - como o coito interrompido e os métodos das temperaturas, do calendário e do muco cervical -, porque o casal se mantém aberto à possibilidade da concepção não a inviabilizando.

Em 1995, o papa João Paulo II, visto como um progressista, frustrou mais uma vez a vontade de mudança. Na encíclica “Evangelium Vitæ”, que a propósito da inviolabilidade da vida humana fala sobre a eutanásia, a pena de morte e o aborto, refere que a contracepção requer uma alteração física dos cônjuges através de métodos químicos, cirúrgicos ou externos. E, portanto, não pode ser aceite pela Igreja, que defende “a cultura da vida”.


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