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Textos Redigidos por Jesuítas do Século XVI em Japonês Arcaico Regressam à Biblioteca Nacional
2002-01-12 14:30:51

Um dos fascínios de uma grande biblioteca é a sua capacidade praticamente inesgotável de surpreender - a qualquer momento um feliz acaso pode revelar raridades, como textos escritos em japonês arcaico por jesuítas portugueses do século XVI.

Neste caso foi Genjiro Ito, ensaísta, editor e professor catedrático de Literatura Japonesa Moderna na Universidade Kanto Gakuin, que devolveu a luz do dia aos relatos dos prelados quinhentistas imersos nos fundos da Biblioteca Nacional (BN).

Este conjunto de documentos - cerca de 60 papéis em folha de arroz e de amoreira - parece ter sido fadado para um curioso destino. Sabe-se que faz parte de um grupo mais vasto de manuscritos que chegou a Portugal há muitos anos, escondido no interior de um biombo japonês que presumivelmente terá sido oferecido a um alto membro do clero.

Os papéis, utilizados como chumaços no biombo, foram descobertos em Évora em 1902. O estudo a que então foram submetidos forneceu pistas indiciadoras de que mais peças existiriam no país. Contudo, essa hipótese só se confirmaria já no final dos anos 90, com a visita do professor Ito à BN.

Impôs-se então o seu restauro e a sua interpretação, razões que justificaram uma viagem de regresso à terra que os viu nascer, seis séculos mais tarde. O académico japonês reuniu os apoios necessários à tarefa, que acabaria por envolver a Associação Parlamentar de Amizade Japão-Portugal, presidida pelo deputado Hideyuki Aizawa.

Já em terras nipónicas, uma equipa de 10 investigadores dedicou- se ao estudo das peças, algo de complexo tendo em conta o extraordinário fosso que separa o japonês arcaico do japonês moderno, conforme precisou anteontem aos jornalistas o professor Ito.

Por outro lado, o restauro dos papéis foi entregue a uma equipa de técnicos do Museu de Quioto. Toda a operação, que não representou quaisquer custos para a BN, deve ser encarada como um marco na história das relações culturais luso-nipónicas, segundo frisou o director da instituição, Carlos Reis.

Na quarta-feira, em cerimónia oficial, assinalou-se o regresso dos documentos à secção de Reservados da BN, onde ficarão acessíveis à consulta dos investigadores. Preceitos da tradição e sabedoria japonesas deram um toque especial à sessão: as peças ficarão acondicionadas numa caixa fabricada em madeira com qualidades apropriadas para melhor preservar o papel.

Algumas das peças são textos dando conta da evangelização em curso, ou de diligências relacionadas com a actividade religiosa local. Um dos autores identificados, o padre Luís de Fróis, é considerado uma figura de primeiro plano no relacionamento entre Portugal e o Japão naquela época, tendo nomeadamente elaborado uma história sobre aquele país.

O professor Ito acredita que a BN ainda lhe reserva algumas surpresas, pelo que planeia retomar as suas pesquisas em Lisboa no próximo mês de Maio. Entretanto, pretende publicar em livro, no Japão, o resultados das investigações já realizadas.

Fonte Público

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