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Padres karatecas
2002-01-06 02:15:11

Até para um padre, a paciência tem limites. Desde 1996, seis párocos anglicanos foram assassinados em Inglaterra e agora há um sindicato que quer disponibilizar para 1500 dos seus membros uma resposta à altura.

Mais precisamente aulas de tae kwon do, uma arte marcial coreana de autodefesa. A ideia foi aplaudida por muitos dos padres ingleses, que se sentem impotentes perante os ataques cada vez mais frequentes e mais violentos. Um inquérito recente da Igreja anglicana concluiu que, em 1997 e em 1999, 12% dos seus padres sofreu um ataque.

Do ponto de vista do sindicato Manufacturing Science and Finance (MSF), que se propõe oferecer aos seus filiados condições de segurança no trabalho, esta classe profissional está mais exposta à violência física do que os médicos e do que os funcionários dos tribunais encarregados de vigiar os presos em liberdade condicional. Mais exposta e menos preparada psicológica e fisicamente para se defender. Segundo os relatórios, os atacantes são frequentemente pedintes e toxicodependentes, que acreditam que nas capelas ou nas habitações dos padres há algo que lhes convém.

Nos últimos anos, porém, o grau de violência usado contra os súbditos de Isabel II e representantes de Cristo na Terra tem atingido proporções alarmantes. Só no ano passado dois padres foram mortos em circunstâncias brutais. Em Maio, o padre David Paget foi apunhalado na sua residência, colada à igreja, em Londres. Era do conhecimento público que o padre, de 42 anos, era um samaritano que hospedava quem lhe batesse à porta, pelo que provavelmente foi um desses hóspedes o autor do assassínio.

Na mesma altura, o reverendo Ronald Glazebrook, de 81 anos, foi morto, em Hastings, no Sussex. Os seus membros amputados foram encontrados dentro de um saco de ginástica enterrado a 500 metros de uma esquadra da Polícia. Um rapaz de 17 anos está preso preventivamente à espera de ser julgado pelo crime. Há ainda conhecimento de ataques levados a cabo por grupos hostis à Igreja anglicana. Em 1998, dois homens mascarados de Marilyn Monroe e de Batman espancaram um padre com um bastão coberto de pregos.

Em Fevereiro de 2001, no entanto, uma vigária de Coventry escapou a um ataque graças ao seu treino de autodefesa. A reverenda Nerissa Jones, que foi assaltada com uma garrafa que lhe provocou uma contusão e vários cortes, garante não ter ficado em pior estado graças ao facto de saber como reagir. «Nunca podemos recuar, porque damos mais espaço para preparar o ataque.» Nerissa Jones acredita que o ataque veio de um «gang» local que é alvo habitual das suas críticas. O facto de se ter defendido terá dado ideias ao MSF. Desde o homicídio brutal, em 1986, de um jovem padre a quem se vaticinava uma carreira que o poderia levar a arcebispo de Cantuária (o segundo lugar na hierarquia da Igreja anglicana, a seguir à rainha) que os párocos são notícia por serem vítimas indefesas, não por ripostarem.

Nem todos estão de acordo com a ideia do MSF. O National Churchwatch (Observatório da Igreja), que começou no ano passado uma campanha de segurança dedicada a todos os clérigos, sustenta que a iniciativa do sindicato está divorciada da realidade e é potencialmente perigosa. Um dos representantes do National Churchwatch, Nick Tolson, disse ter ficado horrorizado com as reportagens sobre os «padres karatecas». «Sejamos realistas. Se um drogado bater à porta da sacristia a pedir dinheiro, não é um padre velhote de 80 e tal anos que vai conseguir dominá-lo. É mais provável que só vá piorar a situação.» Há muitas coisas que um padre em apuros pode fazer sem desatar aos pontapés, afirma Tolson. «Parece estúpido, mas nós dizemos aos padres para se fingirem doentes, o que é muito desarmante para quem quer fazer mal. Ensinamos também a gritar e a assustá-los e, se for preciso, a mentir, a dizer que vão buscar o dinheiro e em vez disso fechar a porta e chamar a Polícia.» O que o National Churchwatch não admite é que padres usem técnicas de defesa pessoal que foram «concebidas para matar».

Um amigo de longa data do reverendo Paul Andrew foi assassinado há três anos, e a sua paróquia de Hammersmith fica a meia distância de Fulham, onde, no ano passado, o padre David Paget foi morto e onde um padre católico também foi queimado. «Tudo isto dá que pensar. É claro que vou estar muito interessado em frequentar o curso de defesa pessoal», disse o eclesiástico.


Fonte Expresso

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