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"Fé dos Homens" está em risco
2001-12-16 11:33:50 A RTP não tem dinheiro para continuar a suportar a "Fé dos Homens", o programa de televisão da responsabilidade das confissões religiosas que, de segunda a sexta-feira, passa no canal dois. O aviso já foi feito por Emídio Rangel aos representantes das Igrejas durante uma reunião realizada na 5 de Outubro, na semana passada.
Conforme apurou o DN, o director geral de antena do canal público reconhece o direito das religiões em usufruirem daquele espaço televisivo, até porque está regulamentado em decreto-lei desde 1990, mas sugeriu aos seus representantes que libertassem a RTP dos gastos de produção, passando a serem eles próprios a arranjarem formas de financiamento. O tempo de antena, no entanto, permaneceria garantido. A justificação é a que todos já conhecem: os restrições financeiras por que estão a passar todas as entidades públicas.
Os responsáveis religiosos foram apanhados de surpresa, soube o DN, e recordaram que já no ano passado o canal público lhes havia retirado dez por cento nos gastos de produção relativamente ao ano anterior.
Na altura, explicou um religioso contactado pelo DN, a decisão foi aceite sem grandes discussões atendendo ao contexto de contenção de gastos públicos solicitados pelo Governo. Só que agora a situação é diferente: A RTP pretende que as confissões lhes entregue o programa já feito, suportando elas próprias toda a produção.
Entretanto, a comissão que integra todos os representantes das confissões religiosas já reuniu, depois do encontro com Emídio Rangel. E a posição assumida é a de não aceitar a sugestão do director da RTP. Soube o DN que um dos próximos passos deverá ser a solicitação de uma audiência ao primeiro-ministro para lembrarem que o programa "Fé dos Homens" é o resultado de uma decisão governamental legislada em 1990. Vão também dizer que não é da competência das confissões religiosas angariar fundos para produzir um programa para uma estação televisiva que tem como principal missão previlegiar o serviço público. Conforme adiantou uma fonte ligada a uma comunidade confessional, o chefe do Governo deverá ser interpelado de modo a que Emídio Rangel recue na sua intenção de excluir dos orçamentos da RTP uma meia hora de emissão diária que dá a conhecer o trabalho e a mensagem das confissões religiosas sedeadas em Portugal.
Entretanto, como ainda não existe uma decisão final, os líderes religiosos dizem acreditar que, no seguimento das negociações, se encontre uma solução favorável sem a condenação à morte do programa. É que, de acordo com o que o DN pôde apurar, nenhuma das confissões presentes no tempo de emissão teria capacidade financeira para suportar os gastos de produção, mesmo que a maioria disponha apenas de pouco mais de sete minutos semanais.
Em situação aflitiva ficariam também as três empresas que assinaram contratos com a RTP para relizarem "Fé dos Homens". O ano passado, no seguimento dos cortes orçamentais de dez por cento impostos pela RTP, a empresa que produz o espaço da Igreja Católica teve de proceder a despedimentos de alguns funcionários. As outras produtoras viram-se obrigadas a uma contenção de custos, substituindo possíveis reportagens por entrevistas com convidados em estúdio, que ficam menos dispendiosas.
O DN tentou, na sexta-feira, obter de Emídio Rangel um comentário sobre este assunto, mas, por razões a nós alheias, tal não foi possível, embora tivessemos contado com o apoio insistente de uma funcionária da RTP. Tentamos também obter declarações dos líderes da comunidades religiosas, mas vários disseram que preferiam contiuar as negociações antes de proferirem qualquer opinião pública.
Fonte DN
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