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Cristos Apodrecem na GNR à Espera de Um Museu Que Os Receba
2001-12-11 21:39:43

A Câmara de Sousel tem uma colecção de 1800 cristos a apodrecer numa sala do posto da GNR.

As peças, do século VIII ao século XX, feitas de ouro, prata, bronze, ferro, madeira, pau santo, loiça e até pão estão há mais de doze anos enroladas em plásticos, dentro de caixas de papelão empilhadas até ao tecto. A maior parte destas caixas estão danificadas pelo peso e pela forte humidade da sala.

"Estamos aqui a cometer um crime cultural e histórico", reconhece o presidente da autarquia, Emílio Sabido, para quem, porém, "o concelho tem outras necessidades", mais "primárias". Os museus, diz, "são necessários, mas estão numa segunda ordem de prioridades".

A colecção foi adquirida pela autarquia, então presidida pelo social-democrata Torres Pereira, em 1989, a um coleccionador particular, Venceslau Lobo, por 60 mil contos. Foi então encomendado um projecto para dois espaços museológicos ao arquitecto Alfredo da Mata Antunes, que custou à câmara mais 56 mil contos.: um museu dos cristos e outro da caça.

Até hoje a autarquia de Sousel mantém os cristos ao abandono amontoados na GNR, muitos deles já desmembrados, partidos, ao sabor do tempo e das térmites. O espaço museológico nunca foi erguido.

"Dadas as instalações da câmara" e "por questões de segurança", Torres Pereira, pediu guarida à GNR para os cristos, que assim ali ficaram, "acondicionados por técnicos do Museu Nacional de Arte Antiga". Em 1995, Torres Pereira deixa a Câmara de Sousel, mas garante que o projecto ficou pronto para ser candidatado a fundos comunitários. Na altura, admite, já algumas pessoas diziam que estavam em más condições. Mas, no seu entender, esses comentários foram feitos "por motivos políticos".

Dois anos depois, o socialista Emílio Sabido ganha a autarquia e rejeita o projecto, "por o achar desajustado ao concelho". Só este ano apresentou um plano alternativo."Acredito que já lá haja cristos desfeitos", diz Sabido, que acha que "é pena estar ali aquela obra a perder-se".

"Mas o concelho precisa de boas estradas, de condições de saúde, e não de museus em primeiro lugar", defende. "O ex-presidente", considera Sabido, "deixou o concelho muito mal servido, fez uma pousada e esqueceu-se que as pessoas em casa não têm luz nem esgotos, e isso para mim é prioritário". E prossegue com as acusações: "Fez um projecto que não conseguiu meter em quadro comunitário nenhum e actualmente, para pegarmos nesse projecto, eram precisos dois milhões de contos, o que é impensável numa altura destas". Por isso, prossegue o autarca, "concebemos um outro projecto para construção de um museu, mais adequado ao concelho, que custou só mil contos, e que foi aprovado pela secretaria de Estado da Cultura, integrado no III Quadro Comunitário de Apoio (QCA). Aguardamos somente que venha o dinheiro". Um museu agora orçamentado em 120 mil contos e cujo projecto só foi finalizado em Janeiro de 2001, segundo Emílio Sabido, porque só nessa altura "houve elegibilidade no III QCA".

O presidente da câmara de Sousel afirma também que não existe outra alternativa para o armazenamento da colecção: "A câmara não tem outra casa, é a única hipótese. Se eu tivesse um sítio já tinha posto os cristos a render. O museu é um projecto que vai trazer muito desenvolvimento", "à restauração e à hotelaria locais, sobretudo" sublinha

"Pensei que ia resolver o problema depressa. O primeiro contacto que fiz foi ao secretário de Estado da Administração Local, que prometeu 50 mil contos. Até hoje não sei se ele se esqueceu", relata.

Emílio Sabido assegura que foi pedida ajuda várias vezes ao Ministério da Cultura, "para tratamento e acompanhamento" das peças. "Mas disseram-nos que não valia a pena se fosse para voltar a encaixotá-los", refere.

Pousadas de Portugal e Igreja fora de cena

O presidente da câmara diz que o seu antecessor fez "um contrato de cedência dos cristos às Pousadas de Portugal, para as percorrerem todas", que ele não cumpriu. "A câmara", diz, "não tem nada a ver com as pousadas, e eu não quis que eles andassem por aí a circular, porque se iriam perder".

Emílio Sabido teve também uma proposta da paróquia de Sousel, que queria expor os cristos na Igreja do Espírito Santo, mas recusou-a. "O padre queria os cristos, mas eu não deixei, porque queriam ser eles a gerir aquilo" conta o autarca. "Eu disse: 'A igreja tudo bem, mas quem gere aquilo é a câmara'. Ele assim não aceitou".

Sabido revela que a câmara chegou a fazer um projecto para se realizarem obras na Igreja do Espírito Santo, no valor de seis mil contos - disponibilizados à paróquia pelo governo civil, segundo diz - "com a intenção de ali ser o museu provisório dos cristos, até haver um definitivo.

"Duas salas daquela igreja têm condições para isso, perspectivei a coisa com a mudança de colecção de dois em dois meses", conta. Depois tudo se gorou.

Fonte Público

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