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Igreja Católica abandonou a comunidade cigana
2001-11-25 09:20:24

O bispo resignatário de Setúbal, D. Manuel Martins, admitiu, ontem, em Fátima, que a Igreja "tem desprezado o povo cigano, não no sentido activo, mas no sentido de não querer saber dele".

E as razões prendem-se com o facto "dos padres terem mais que fazer" e dos ciganos "serem uma minoria e de alguns deles até criarem problemas".
Não é por isso de estranhar que, perante "este abandono e esquecimento" por parte da Igreja Católica "muitos ciganos comecem a ser contactados pela Igreja de Filadélfia". Mas o problema, admite D. Manuel Martins, "não está aí, mas significa que a Igreja Católica os abandonou".

Trabalho mútuo
Em declarações ao JN à margem do 28º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos, que hoje termina em Fátima, o prelado defende uma "tomada de consciência da Igreja de que este povo também tem de ser objecto da sua preocupação, do seu carinho, presença e solidariedade". O trabalho a desenvolver "tem de ser mútuo" e os ciganos "também têm de dar o primeiro passo. Basta para isso respeitar a sua identidade, diferença e custumes, afinal eles têm muito orgulho em serem ciganos". D. Manuel Martins, que é também vogal da Comissão Episcopal das Migrações, salienta a necessidade de "abrir caminhos para uma sociedade que se entenda, que seja capaz de conviver".
O prelado acusou ainda a sociedade portuguesa de "comportamentos absolutamente inaceitáveis e impensáveis no século XXI" relativamente aos ciganos. Admitindo existir "uma péssima ideia" deste povo, D. Manuel Martins dá como exemplos "as comunidades que não aceitam ter vizinhos ciganos; os pais que não admitem os seus filhos em escolas ou catequeses com meninos ciganos". Comportamentos "absolutamente deploráveis que não se podem aceitar", refere o antigo bispo de Setúbal frisando ser urgente "ultrapassar a desconfiança de fundo que existe".

Parar e reflectir
A Comunicação Social foi um dos alvos das críticas do prelado, já que "faz questão de dizer que foi um cigano que roubou, matou ou traficou drogas". Mas D. Manuel Martins recorda as palavras dos sociólogos e refere "é uma percentagem muito pequenina em relação ao resto da sociedade".
Neste diálogo entre ciganos e o resto da comunidade, o bispo defende que se deve "voltar à estaca zero". "A sociedade portuguesa precisava de parar, reflectir e modificar-se por completo, porque tem comportamentos absolutamente inaceitáveis não só no que diz respeito aos ciganos como a estrangeiros, nomeadamente os vindos das ex-colónias", disse D. Manuel Martins, concluindo que essa reflexão profunda terá de passar "pela sua posição perante as leis da economia, mas também pelo abandono dos grandes valores da honra, palavra, respeito".

Fonte JN

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