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Manuscritos do Mar Morto Integralmente Publicados Dentro de Um Ano
2001-11-19 08:36:00

Cinquenta e quatro anos depois da descoberta dos primeiros Manuscritos do Mar Morto, está praticamente finalizado o projecto de edição e publicação das escrituras iniciado há cinco décadas.

A noticia foi dada no final da semana passada em Nova Iorque por Emanuel Tov, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém que há dez anos assumiu a direcção do projecto, reestruturando, com financiamentos incrementados e um conjunto de 98 estudiosos de várias nacionalidades, a equipa de 10 especialistas que nas quatro décadas anteriores estivera encarregada de trabalhar na mesma direcção.

Encontrados fortuitamente em 1947, quando um pastor beduíno entrou numa gruta da árida região de Qumran, na costa Ocidental do Mar Morto (actual Cisjordânia), para procurar uma cabra que fugira ao seu rebanho, os pergaminhos, que durante mais de dois mil anos permaneceram escondidos na gruta dentro de vasos de cerâmica, são hoje tidos como o primeiro e o mais antigo material bíblico preservado.

"A minha tarefa era conseguir que eles estivessem ao alcance do conhecimento público. Ela está agora mais ou menos cumprida, e os escritos do deserto judaico foram apresentados ao mundo universitário na forma de edições criticas", explicou ao diário norte-americano "The New York Times" um notoriamente aliviado Emanuel Tov.

O papel das novas tecnologias
Anunciando que dentro de um ano deverá ser lançado um volume introdutório aos manuscritos, misto de relatório do projecto desenvolvido e lista dos textos incluídos nos 38 volumes que perfazem a colecção a lançar pela Oxford Associated Press, Tov explicou que é habitual uma introdução deste género surgir "no final da produção, quando tudo está dito e feito", e os editores têm uma ideia global das implicações da pesquisa efectuada. Ou seja: anunciou a finalização do projecto para dentro de um ano.

Sublinhando, uma vez mais, a importância que os textos poderão ter na compreensão do turbulento período da instauração do judaísmo rabínico, o mesmo em que se estima ter vivido Jesus Cristo, este editor-chefe afirmou serem os escritos "ainda mais preciosos do que aquilo que se pensou há 50 anos, verdadeira literatura sobre o antigo Israel".

Fundamental para os rápidos avanços da sua equipa - que, em 10 anos, produziu quase o triplo do trabalho desenvolvido em quatro décadas pela equipa anterior, que preparou apenas 10 volumes- foi, segundo Tov, o papel desempenhado pelas novas tecnologias, sobretudo a fotografia digital e as possibilidades da imagem multi-espectral, que permitiram ver letras e palavras anteriormente indiscerníveis, dadas as diminutas dimensões dos pergaminhos e o seu estado de conservação.

Ao contrário do que em tempos se pensou poder vir a acontecer, os escritos, alguns datados do ano 250 a.C., outros do ano 70 da era cristã, não parecem ter revelado o que quer que fosse que possa abalar as estruturas do cristianismo e do judaísmo - receio que esteve na origem de um certo mal estar entre líderes religiosos e que acabou por se tornar num dos argumentos a favor de uma rápida e vasta disseminação dos conhecimentos contidos nos textos, dizendo-se que assim se acabaria com a suspeita pendente de que os primeiros editores do projecto estavam a impedir a publicação dos documentos, por medo que estes denegrissem uma das duas religiões.

Dúvidas por resolver
Apesar de se saber que os manuscritos terão inicialmente sido escritos em hebraico e armaico e de nenhum dos textos em hebraico ter sido encontrado, dos 900 que farão parte da colecção nenhum faz qualquer menção a Jesus Cristo ou João Baptista, nem contém, diga-se, qualquer dado que se aproxime do movimento religioso descrito no Antigo Testamento. Pelo contrário, 200 deles centram-se em orações, rituais e regras de comportamento de uma austera e ascética seita hebraica, provavelmente os Essénicos, que viveram em Qumran neste período.

James C. VanderKam, professor do departamento de hebraico da universidade francesa de Notre Dame e um dos editores ligados ao projecto, explicou recentemente que a comprovação destes dados veio instalar definitivamente a ideia reinante de que muitos dos textos foram copiados (se não escritos) pelos Essénicos monásticos de Qumran - ainda que alguns tenham, provavelmente, sido escritos em algum outro lugar e depois levados para aquela região por grupos de indivíduos que se juntaram à seita.

Para VanderKam e alguns outros editores é, assim, duvidosa a ideia de que os escritos tivessem tido origem numa biblioteca de Jerusalém e, posteriormente, sido escondidos, em segurança, nas cavernas. Sendo esse o caso, diz VanderKam, eles reflectiriam uma variedade de olhares, não se centrando nas ideias e práticas dos Essénicos.

Para hoje, em Denver, na Sociedade de Literatura Bíblica, está marcada uma conferência a proferir por Emanuel Tov, que deverá revelar pormenores detalhados sobre os manuscritos e o futuro da sua publicação. Decidido está já que um dos escritos, registo de uma canção hebraica de agradecimento a Deus, será dedicado à cidade de Nova Iorque, em tributo à sua resiliência face aos ataques terroristas de 11 de Setembro.

Fonte Público

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