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Confissões em Grupo dividem a Igreja
2000-10-01 16:14:01

Os sacerdotes de algumas paróquias do país não chegam para absolver todos os pecados dos homens. Para dar resposta à procura dos fiéis, muitos decidiram organizar cerimónias de absolvição colectiva. A prática é tolerada pela Igreja, mas apenas em situações especiais cujos limites estão a dividir o clero.

Só quando a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) ditar novas regras para as absolvições colectivas é que a ordem poderá regressar às dezenas de paróquias portuguesas onde os padres, em vez da tradicional confissão particular, optam por encher as igrejas de gente para publicamente e em grupo proceder ao perdão dos pecados. A adesão de muitos sacerdotes, em todas as dioceses do país, a esta fórmula levou mesmo a que alguns bispos pedissem orientações à Conferência Episcopal que deverá publicar, nos próximos dias, um documento sobre este assunto.

Apesar das absolvições colectivas serem permitidas pela Igreja, só o são em ocasiões muito especiais. E é exactamente neste ponto em que começa o desacordo. Para uns, as ocasiões especiais previstas pela Igreja dizem respeito a situações que envolvem "guerras e doenças"; para outros sacerdotes, o facto de haver muitos pecadores e poucos padres é razão mais que suficiente para proceder às confissões colectivas.

Defendidas pelo sector mais "progressista" da Igreja, as absolvições em grupo feitas em paróquias como as de Nine, em Vila Nova de Famalicão (diocese de Braga), de Vilarinho, em Santo Tirso, Bustelo, em Penafiel e em Paços de Sousa (todas na diocese do Porto) acabaram por ganhar fama. Apesar de, oficialmente, nem o bispo do Porto nem o arcebispo do Braga terem proibido a prática, várias cartas e conversas foram mantidas com os sacerdotes.

No Porto, D. Armindo Lopes Coelho fez chegar a mensagem aos defensores das confissões públicas que deveriam deixar de as fazer. Em Braga, D. Jorge Ortiga escreveu ao pároco de Nine a pedir-lhe contenção nas acções. "Na prática, fui chamado à pedra", referiu ao PÚBLICO o padre Salvador Cabral, pároco de Nine, que, para além de outras alturas do ano, todas as sextas feiras santas enchia a igreja de gente, apagava todas as luzes e por entre "cânticos, reflexões e leituras do evangelho", absolvia colectivamente as centenas de pessoas presentes no templo. Ao que parece, por parte dos participantes na cerimónia nunca houve qualquer queixa. Os problemas terão surgido quando, segundo Salvador Cabral, "outros padres foram fazer queixa ao bispo".

Também no Porto, o cónego Carlos Azevedo fala no problema que é para os "padres e para o povo" verem, nas paróquias vizinhas uma forma de perdão dos pecados muito diferente daquela a que estão habituados. "Os fiéis ficam preocupados", refere o cónego que mesmo assim aceita a confissão colectiva para aquelas pessoas que "não sabem o que é a verdadeira conversão" e que, quase todas as semanas, "com motivos ou sem motivos", pedem ao sacerdote para se confessar. Preocupação semelhante tem o arcebispo de Braga. D. Jorge garante que "é preciso redescobrir o sentido do sacramento da confissão e só depois importa saber de que forma deverá ser aplicado".

Padres não têm tempo

O assunto suscita mesmo grandes discussões entre os padres da diocese bracarense. Talvez por isso, pode ler-se nas conclusões saídas da primeira Assembleia Jubilar Sacerdotal que "frequentemente o povo de Deus se queixa de que os sacerdotes não têm tempo para os atender no sacramento da reconciliação". "Realmente, é mais rápido e mais fácil confessar muita gente ao mesmo tempo do que apenas uma pessoa de cada vez", referiu ao PÚBLICO um padre da diocese do Porto contrário ao "abuso" que se está a fazer das absolvições públicas. E continua: "A função do sacerdote é estar disponível para os fiéis e se tiver que passar um dia inteiro a confessar, então que o faça".

Perante a complexidade da situação o arcebispo de Braga afirma que "todos os bispos do país optaram pelo silêncio até que a Conferência Episcopal se pronuncie".

Para além dos responsáveis pelas dioceses portuguesas, também os padres adeptos das confissões colectivas exigem uma rápida resposta da hierarquia da Igreja e algumas cartas, enviadas pelos sacerdotes, deverão chegar, nos próximos dias, a D. José Policarpo, o presidente da CEP. E os padres parecem ter um bom argumento para pressionar os responsáveis pela Igreja portuguesa: Em Espanha os sínodos regionais aceitaram e até incentivaram as confissões colectivas. "Não há assim tanta diferença entre os fiéis portugueses e os espanhóis", finalizou o cónego Carlos Azevedo.

Fonte Público

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